Pé da página 10 de O Globo desta terça (11/2/2020),
mas ele é muito mais que 10, que 100, que 1.000.
O MAIOR JORNALISTA da história no Brasil.
Se o Jornalismo que ele tanto ensinou ainda existisse, seria manchete de todos os jornais.
Morto Jorge Antônio de Miranda Jordão.
Aos 87 anos, de vida e de Jornalismo. Nasceu jornalista.
Ele discordaria. Jornalista não é notícia.
Miranda Jordão, o Mirandão, era, é e sempre será.
Nunca vi alguém que lesse os jornais com tanta visão.
Nunca vi um Diretor de Redação que lesse atentamente absolutamente todas as notícias, notinhas, informações a ser publicadas no dia seguinte.
E corrigia uma a uma.
“Limpava” os jabás de Amaury Júnior, nosso colunista social.
Trocava verbos de Sônia Abrão.
Puxava as orelhas de Arley Pereira, mesmo que fossem “As Boas do Arley”.
Ensinava bons modos a Ibrahim Sued, o “Turco”, “ademã que eu vou de leve”…
Levou-me a ser chamado de “meu comandante” pelo genial Joel Silveira, o Repórter, nosso colunista no Diário Popular em seus últimos dias, aquele que cobrira a 2ª Guerra, que enfrentara Getúlio, chamado de “Víbora” pela elite paulista…
A Última Hora, ao lado de Samuel Wainer, os apuros com a ditadura militar, o apartamento da Condessa no Rio, as paixões…
A criação da Folha da Tarde para Frias.
A relação com Frei Beto, Zózimo Barroso do Amaral, Reali Júnior… tantos.
Faro de repórter que cobriu o suicídio de Vargas em 1954, cheirava o fato à distância.
E percebia o odor quando não havia notícia.
Foi assim com a Escola Base.
Diário Popular, sob sua Direção de Redação, com Luiz Antônio de Paulo editor-chefe e este humilde escrevinhador editor-executivo, foi o Único jornal a não veicular uma única linha do maior “fake news” da barriga jornalística brasileira, gestado pela ânsia da notícia fácil e sensacionalista sem apuração.
Ironia. O Maior jornalista, marcado pela não publicação.
Também, não era notícia.
Tem muito mais História nessa carreira brilhante.
Sou um privilegiado por ter dividido o aquário do Dipo (nossa ala envidraçada de trabalho, transparente, à vista de toda a Redação) com ele.
Sou um privilegiado por passarmos tantas madrugadas jantando, só nós dois, sorvendo “batida de limão” (jamais caipirinha), por “aprender” com ele a não falar “janta” e sim “jantar”, como o erre mais forte, a ter etiqueta sem frescura, e apreender o que de fato é notícia, e que a notícia está acima de tudo.
Certa feita encontrei Reinaldo Azevedo (tínhamos trabalhado juntos no Diário do Grande ABC) e Alexandre Polesi, e eles me perguntaram: “Como está lá no Dipo?”. Ao que respondi: “Ótimo, estou aprendendo muito”. Retrucaram: “Aprendendo o quê?”. E eu respondi: “A vender jornal”. No Dipo, com Miranda, era assim: nossas manchetes vendiam, e vendiam muito. Chegamos a 350 mil exemplares num único dia. Dá pra imaginar o que seja isso?
Se fosse escrever tudo, uma enciclopédia seria pouco.
Obrigado, MESTRE!
Um grande beijo no coração, Miranda Jordão!