O infectologista Pedro Moreira Folegatti, formado em 2009 pelo Centro Universitário Saúde ABC / Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), em Santo André, é o principal pesquisador do estudo conduzido pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, sobre uma das mais promissoras vacinas contra a Covid-19.
Para esclarecer, o artigo foi publicado pela conceituada revista The Lancet, em 20 de julho.
Especialista
Em primeiro lugar, esse paulista de 34 anos é o líder clínico dos estudos do imunizante e responsável por coordenar o acompanhamento de cerca de 10 mil voluntários.
Folegatti especializou-se no desenvolvimento de vacinas para doenças emergentes após seis anos morando em terras britânicas.
Formação
Mais importante, ele destaca: “Minha formação toda foi no Brasil. Me formei em 2009 na Faculdade de Medicina do ABC e fiz residência em infectologia no Instituto Emílio Ribas.”
Além disso, conta: “Trabalhei em diversos hospitais em São Paulo até setembro de 2014, quando me mudei para o Reino Unido para fazer um mestrado em saúde pública na London School of Hygiene and Tropical Medicine.’
Em segundo lugar, afirma: “Quando eu concluí o programa de mestrado, em 2016, surgiu a oportunidade de trabalhar para o Jenner Institute (da Universidade de Oxford) para um programa de influenza.”
Outra pesquisa
O pesquisador, portanto, explica: “Já estou aqui há quatro anos. Antes da pesquisa do coronavírus começar, a gente estava trabalhando com uma vacina parecida para a MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio, também causada por um coronavírus) e calhou de os resultados terem sido publicados na mesma época, quando as coisas começaram a explodir”.
Em janeiro, muito antes da pandemia, Folegatti e os colegas certamente já iniciavam a pesquisa da potencial vacina contra a doença.
Isso, acima de tudo, após publicação por parte dos chineses do sequenciamento genético do novo coronavírus.
Os preparativos para os ensaios clínicos começaram no início de fevereiro. Desde então, a equipe tem trabalhado todo dia, inclusive madrugada adentro.
Segundo o pesquisador, em outras palavras, a vacina é baseada num adenovírus (causador de resfriado) de chimpanzé, que é incapaz de se reproduzir dentro do corpo.
Os cientistas trocam esses genes por outros genes que vão levar proteínas de quaisquer outros vírus ou patógenos para onde se quer gerar proteção.
No caso da Covid-19, em suma, são trocados os genes de replicação do adenovírus por genes que vão codificar proteínas da superfície do coronavírus atual.
“A grande vantagem de usar essa plataforma é que, por exemplo, a gente consegue produzir vacina mais rápido utilizando o mesmo molde e trocando só o antígeno, que é o pedaço que a gente espera que vá induzir uma resposta imune”, explica o infectologista.
Desgastante
A rotina tem sido desgastante. São, em média, quatro horas por dia de sono.
Para amenizar a ansiedade pelo tão esperado resultado dos ensaios clínicos, o pesquisador encontra apoio na esposa e na filha, com quem vive na Inglaterra.
“Elas têm um papel fundamental nesse processo para garantir a minha sanidade mental. A rotina é (trabalhar) sem hora para entrar, sem hora para sair, fim de semana, feriado. Eu acordo umas 6h, venho para o escritório, saio às 18h e continuo trabalhando em casa, madrugada adentro. Durmo uma média de quatro horas por noite”, relata.
A íntegra do estudo pode ser acessada pelo link: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(20)31604-4/fulltext (com informações do jornal O Estado de São Paulo).