Gilson Luiz Correia Menezes nos deixa neste domingo (23/2/2020), aos 70 anos. Muitos vão lembrar que ele foi o primeiro prefeito do PT na história, eleito em 1982, mas o seu grande marco enquanto líder é muito maior que isso: Gilson Menezes, ferramenteiro, desafiou a tudo a todos, a lei, o regime militar, a ameaça de repressão e principalmente a Lula, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, ao organizar e comandar a primeira greve operária depois de 10 anos de vigência do temido AI-5, o Ato Institucional mais inconstitucional de que sem tem notícia. Gilson comandou a greve da Scania em 78, e promoveu, de fato e de direito, o despertar de um sindicalismo combativo que dormia no berço esplêndido das receitas fáceis do momento, fruto do peleguismo dominante à época.
Entrevistei Gilson em 2008, quando a “paralisação” (como ele falava em 78) da Scania completava 30 anos. Paralisação porque os operários avaliavam que a palavra greve naquele tempo poderia ensejar uma reação mais dura da ditadura. Lula era presidente reeleito, e nem dava bola para o antigo líder e “companheiro”. Esse vídeo foi gravado sob direção do grande José Ricci, para a Rede Brasil de Televisão, e deve encontrar-se em seus arquivos. Nele, Gilson conta que a ferramentaria da Scania pegou Lula de surpresa quando, na madrugada daquele 12 de maio de 1978, ele ligou para o presidente do sindicato e anunciou: “A ferramentaria parou!”. A resposta de Lula foi raivosa: “Puta que o pariu, isso vai dar merda. Não podia ser assim, agora. Precisa de um mês para organizar…” E Gilson rebateu: “Se demorasse um mês para organizar, isso iria vazar e os ‘home’ impediriam a greve”.
Bem, se a ferramentaria, elite da fábrica, tinha parado, seria mais fácil convencer o resto da peãozada, como contou Gilson naquela entrevista, gravada no Bar da Rosa, ao lado da sede do sindicato, e na qual foram ouvidos ainda Janjão, Expedito Soares, Djalma Bom, Nelson Campanholo, Mané Anísio e outros. Gostaria de poder rever esse vídeo hoje.
De resto, falar que Gilson foi o primeiro prefeito pelo PT (contra sua vontade, lembre-se), que depois rompeu com a sigla e ganhou pela segunda vez Diadema pelo PSB em 1996, que concedeu inúmeras entrevistas há cerca de quatro anos dizendo sentir vergonha pelo rumo do PT, tudo isso é muito pouco perto do que ele representa na história da classe operária. Gilson nos deixa, mas deixa acima de tudo um grande legado.