P. Penedo
Aeroporto – Área irrestrita
Aeroporto 1
Em abril 93, cheguei a Miami às 21 horas, vindo da Cidade do México em voo da American Airlines. No avião havia suecos, holandeses, franceses, alemães e dois brasileiros, a minha mulher e eu. Longas filas diante dos balcões de imigração. Todos com os passaportes na mão. Minha mulher e eu éramos os últimos da fila. Notei que os casais se aproximavam, juntos, do funcionário. Chegou a nossa vez e tentei acompanhar a minha mulher quando o funcionário deu uma rápida olhada nos nossos passaportes brasileiros, ainda em nossas mãos, berrando para eu ficar atrás da linha. Quis explicar que se tratava de um casal, porém o funcionário repetiu, aos berros, a ordem, para em seguida berrar que nossos formulários estavam incompletos, que tínhamos de preenchê-los de novo numa das mesas e entrar no fim de uma das filas novamente. Na mesa, após cuidadosa verificação, percebemos que os nossos formulários estavam completos. Assim mesmo decidimos preencher novamente, caprichando na letra de fôrma. Resolvemos entrar numa fila diante de um balcão onde havia uma funcionária, a qual, achando que eu não dominava o inglês, chamou um auxiliar e lhe pediu que ensinasse a “esta gentinha” como se procede nos EUA. Saímos da imigração às 23 horas, e a pessoa que nos esperava no aeroporto já havia ido embora. Curioso foi observar que os turistas europeus, sem exceção, receberam as boas-vindas dos funcionários e toda a orientação dos auxiliares que circulam diante dos balcões de imigração. Estão de parabéns os funcionários do Consulado do Canadá e as autoridades daquele país por suas atenções e gentilezas. Espero que o Consulado dos EUA tome conhecimento desta carta (…) (e) desta minha experiência que me deixou indignado até os dias de hoje.
(Carta do senhor Rudolf Otto Loibl encontrada no acervo do jornal Estado de São Paulo datada de abril de 1993)
“Sempre barrado na imigração. É muita vontade de estudar mesmo viu? Ainda colocam a pessoa plantada para esperar não sei quem, com um monte de gente nos olhando, achando que somos algo errado. PACIÊNCIA!!! Paciência Gilberto, paciência!”
(Gil do Vigor, desabafando nas redes sociais após ser novamente barrado e levado para uma sala separada pela imigração americana, em 1º de janeiro de 2024)
Aeroporto 2
O incomparável cantor e compositor de tangos, Carlos Gardel, era francês, segundo as fontes mais fidedignas. Porém há quem afirme que era uruguaio. O próprio Gardel jamais esclareceu essa questão, e, quando indagado sobre o assunto dizia ter nascido em Buenos Aires “aos dois anos e meio de idade”. O parceiro de seus maiores sucessos, Alfredo Le Pera, além de compositor foi dramaturgo, jornalista, cronista, tradutor e roteirista de cinema. Migrou para a Argentina ainda criança, mas era paulista, nascido no bairro do Bexiga. Dos clássicos compostos pela dupla, destacam-se El Dia Que me Quieras e Por Uma Cabeza. A dupla fazia uma turnê de divulgação dos filmes de Gardel pela América Latina quando o avião em que estavam e preparava-se para decolar, no aeroporto de Medelin, na Colômbia, foi atingido por uma aeronave que aterrissava. Ambos morreram no incêndio que devastou o avião após o choque.
Aeroporto 3
No dia 15 de dezembro de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, Glenn Miller, o fantástico arranjador, desapareceu com toda a sua orquestra num voo noturno entre a Inglaterra e a França sobre o Canal da Mancha sem deixar nenhum vestígio. Historiadores resolveram pesquisar a fundo o desaparecimento e descobriram que naquela mesma noite uma esquadrilha de aviões bombardeiros ingleses cruzou o Canal para bombardear posições alemãs no interior da França. Sobrevoaram a posição que deveriam atacar mas foram obrigados a recuar em virtude do mau tempo. Na volta, a esquadrilha foi obrigada a se desfazer das pesadas bombas, pois o combustível estava calculado para voltarem sem o peso das bombas. Desfizeram-se dos artefatos, desarmados, para que não causassem algum desastre, deixando-os cair no Canal da Mancha. Os historiadores cruzaram os dados sobre horários e rotas do avião do Glenn Miller e dos bombardeiros e chegaram à conclusão de que as bombas, apesar dos cuidados dos militares, causaram sim um enorme desastre ao atingirem, numa incrível coincidência, o avião da orquestra que cruzava naquele instante exatamente a mesma rota da esquadrilha, só que em baixa altitude.
Passadas no passado
“As coisas ficaram pretas quando ele começou a não me dar mais bola”
(Rosemeire, ex-mulher de Pelé)
“Se Drummond tivesse inventado a palavra ‘imexível’ teria sido louvado.
(O filólogo e dicionarista Antônio Houais, na época presidente da Academia Brasileira de Letras, defendendo o então ministro do Trabalho, Antonio Magri)
Conjecturas
Quem me criou foi o tempo, foi o ar. Ninguém me criou. Aprendi como as galinhas, ciscando, o que não me fazia sofrer eu achava bom.
Dercy Gonçalves
O material escolar mais barato que existe na praça é o professor.
Jô Soares
Somos cromossomos
Glen Miller