Restaurante tradicional viveu, em primeiro lugar, o auge do sindicalismo, preserva raízes sergipanas e segue firme com cardápio que homenageia o Nordeste
Poucos estabelecimentos em São Bernardo do Campo podem dizer que acompanharam, de camarote, acima de tudo, a história da cidade.
O Restaurante Nordestão, fundado em 1969 por uma família sergipana, é, por exemplo, um deles.
Instalado originalmente na Avenida Lucas Nogueira Garcez, o local testemunhou de perto, em suma, a efervescência dos anos do sindicalismo.
Tempo em que os discursos de líderes metalúrgicos — entre eles o então sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva — ecoavam das sacadas e das ruas em frente ao restaurante.
Da época, ficou, portanto, a lembrança das passeatas, das concentrações e do aroma inconfundível da comida nordestina.
Mas, ela atraía tanto operários quanto empresários da região.
O Nordestão é, portanto, mais que um restaurante — é um símbolo da história, da cultura e da gastronomia de São Bernardo do Campo.
Preserva, além disso, as origens nordestinas com o sabor que atravessa gerações.
Para o presidente do Sehal (Sindicato das Empresas de Hospedagem e Alimentação do Grande ABC), Beto Moreira, representar estabelecimentos como o Nordestão é motivo de orgulho para o setor.
“O Nordestão é um exemplo de longevidade, tradição e contribuição social. É um estabelecimento que gera emprego, renda e ajuda diretamente no desenvolvimento local. A trajetória dessa família mostra a força do empreendedorismo e a importância da gastronomia como parte da história da cidade”, destaca, em resumo, Beto.
Vale lembrar que Vicente de Paula Mendonça, um dos filhos do pioneiro na empreitada, e que também participou do negócio por um período, foi diretor do Sehal por 10 anos, de 2007 a 2017, durante duas gestões.
O Início
A história começou com José Maynart e Dona Marianita Mendonça, que chegaram a São Bernardo nos anos 1960.
Vieram do interior de Sergipe em busca de melhores oportunidades.
Ele trabalhou na indústria metalúrgica e era ativo na comunidade católica da Igreja Santíssima Virgem, na Lucas Nogueira Garcez.
Já ela, com talento natural para a cozinha, encantava os amigos com os sabores típicos de sua terra natal.
O sucesso dos jantares caseiros foi tanto que, incentivados pelos amigos, o casal decidiu abrir um restaurante.
Empreendimento pioneiro à época, quando a culinária nordestina ainda era pouco conhecida por aqui.
De lá pra cá, o Nordestão passou, portanto, por três gerações da família.
Primeiro, sob o comando dos avós; depois, com os filhos Luiz Jorge e Vicente de Paula; e hoje à frente, Luiz Jorge Menezes Mendonça Filho, o Lulinha, de 42 anos, que mantém viva a essência do restaurante, ao lado do pai, de 67.
“Meu avô fazia o atendimento e minha avó cozinhava. Ele oferecia pequenas porções para quem nunca tinha provado vatapá ou moqueca – um menu degustação antes de existir esse nome”, lembra Lulinha.
O restaurante viveu por 30 anos na Lucas Nogueira Garcez, mudou-se para a Avenida Índico em 1999 e, após a pandemia, voltou à origem, ocupando novamente um espaço na mesma avenida.
“A pandemia foi um divisor de águas. O delivery cresceu muito e precisávamos de uma estrutura maior. Quando esse ponto ficou disponível, vimos a oportunidade de voltar pra casa”, conta o empresário.
Crescimento, tradição e sabores que contam histórias
Atualmente, o Nordestão tem 132 lugares e uma equipe de 32 colaboradores.
O movimento é intenso: cerca de 300 pessoas passam diariamente pelo salão, além de um volume mensal de 5 mil pedidos via delivery, que hoje representa 50% do faturamento.
“Aprendemos a equilibrar o salão e o delivery. Um complementa o outro — quando chove, o delivery sobe; quando faz sol, a casa enche”, explica Lulinha.
O cardápio é um capítulo à parte — uma verdadeira homenagem à cultura nordestina.
Os nomes dos pratos e bebidas evocam o sotaque e a identidade regional: a moqueca Maria Bonita, o prato de carne seca Chapéu de Couro, o drink Namoradeira.
Entre os campeões de venda estão a feijoada servida todos os dias e o icônico Baião de Dez, uma versão turbinada do tradicional baião de dois, que vem acompanhada de torresmo, costelinha, linguiça toscana, banana grelhada e queijo coalho.
Além dos pratos à la carte, o restaurante oferece um buffet de comida brasileira, com opções do dia a dia como parmegiana, frango assado e massas, atendendo tanto o público que busca o sabor nordestino quanto quem prefere refeições mais leves no almoço.
“Aqui a gente tenta agradar todo mundo, mas sem perder as raízes”, resume Lulinha.
Com o olhar atento à gestão e à eficiência, a terceira geração do Nordestão aposta em treinamento constante, tecnologia e inovação para manter a tradição viva.
“O desafio hoje é fazer mais com menos, sem perder qualidade. O segredo é manter o padrão e o sabor de sempre, que são a alma da casa”, conclui o empresário Lulinha.
