Em artigo científico, pesquisador mostra, em primeiro lugar, como a maconha pode ser usada para benefício das funções cerebrais.
Quando se fala na “Cannabis”, popular Maconha, é preciso desconstruir o conceito já comum de entorpecente e observar que ela pode ser instrumento terapêutico de qualidade.
Foi com essa visão, acima de tudo, que o pesquisador e médico psiquiatra Francis Moreira da Silveira publicou um artigo científico pela Logos University International (Unilogos).
Nele, destaca um ponto de vista biológico pouco conhecido da maioria das pessoas.
De início, é fundamental compreender, portanto, que o uso da planta para estes fins é algo ainda repleto de polêmicas e controvérsias entre a sociedade civil e os médicos.
Principalmente levando em conta “que ela é considerada uma droga ilícita, mas amplamente consumida em todo o mundo”, destaca o pesquisador.
Em sua publicação, Francis analisou, além disso, os aspectos moleculares da transmissão sináptica considerando a neurobiologia da Cannabis.
Sistema endocanabinoide e neuroplasticidade
Para isso, ele estudou os receptores canabinoides e dissertou sobre a relação entre o Sistema endocanabinoide e neuroplasticidade.
Não é segredo para ninguém, além disso, que o sistema nervoso é responsável pelas funções do corpo humano.
Com bilhões de neurônios reunidos para realizar tarefas, principalmente transmitindo informações para processamento e armazenamento das informações, eles também regulam, da mesma forma, a contração muscular e secreção glandular.
O cérebro, através destes elementos, forma conexões chamadas sinapses.
Efeitos adversos
A relação disso com a planta, explica o médico psiquiatra, é que a “a Cannabis apresenta efeitos adversos que podem ser divididos entre o hábito de fumar e aqueles causados pelos canabinoides.”
“O fumo habitual da maconha provoca alterações nas células que constituem o trato respiratório e aumentam a probabilidade de câncer de pulmão entre os usuários”, destaca.
Quanto aos canabinoides, o seu uso contínuo leva a uma dependência dos efeitos psicoativos.
Com a cessação do uso, o resultado é que a pessoa se torna vulnerável e passam a ser observados sinais como agitação, insônia, irritabilidade, náusea e câimbras.
O uso da substância leva a um impacto no sistema nervoso central, causando na pessoa sensações como euforia e alucinações.
Tema antigo
Mas, não é de hoje que este tema recebe atenção da comunidade científica internacional, revela Francis.
“Em 1964, o principal psicoativo da maconha, o Δ9-tetrahidrocanabinol foi isolado, levantando a hipótese de que seu mecanismo de ação era semelhante aos anestésicos gerais. Já em 1988, descobriu-se os receptores canabinoides. Na década de 1990, houve a descoberta do primeiro mediador endógeno, denominado anandamida e o lançamento do primeiro medicamento atuante no sistema de endocanabinoides, denominado rimonabanto, que tinha como finalidade reduzir o apetite e tratar a obesidade”, diz.
Recentemente, em 2019, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária regulamentou os requisitos para medicamentos feitos a base de Cannabis através da Resolução RDC nº 327/19.
Ela define, aponta o pesquisador, que “a aplicação clínica do sistema de canabinoides possui maior conhecimento, atuando na redução dos sintomas motores da Doença de Parkinson, na dor neuropática ou inflamatória, entre outras aplicações.”
Ele ainda assinala: “O potencial medicinal da Cannabis está relacionado ao grande número de substâncias químicas encontradas em suas amostras.”
E, completa: “Os canabinóides abrangem um grupo de compostos com 21 átomos de carbono presentes na Cannabis sativa e os respectivos ácidos carboxílicos, análogos e possíveis alteradores. Os compostos canabinoides podem ser classificados como terpenofenóis”.
Prós e contras
Depois de estudar os prós e os contras dos efeitos da planta no organismo, o pesquisador concluiu que “a neuroplasticidade e sua relação com o Sistema endocanabinoide afeta a percepção emocional e sensorial. Ele atua na modulação global e contribui com a definição de diversos pontos chave nas vias neurais. Esses pontos chave se tornam mais complacentes com a utilização de substâncias psicotrópicas, como é o caso da Cannabis”.
Ele acrescenta: “A ampla compreensão e modulação do sistema endocanabinóide poderá contribuir para futuros estudos sobre o uso terapêutico de Cannabis, reduzindo os efeitos colaterais ou a possibilidade de dependência. Tal fato representaria um grande avanço no debate sobre o uso desta substância como fins medicinais”, completa o pesquisador.
12 mil anos
A maconha, como é mais popularmente conhecida, mostra-se como uma das plantas mais antigas conhecidas pelo homem.
Há, por exemplo, relatos de uso na Ásia Central com mais de 12.000 anos.
Também há, da mesma forma, menção na farmacopeia chinesa em 2.700 a.C. Posteriormente, ela se espalhou pelo Oeste da Ásia, Egito e Europa Ocidental.
“Interessante observar que na época dos assírios, a mais de 300 anos, essa planta era considerada o principal medicamento de sua farmacopeia”, acrescenta, em resumo, o pesquisador.
Já no continente americano, a planta foi trazida pelos colonizadores espanhóis e atualmente, em conclusão, pode ser encontrada em todos os continentes.