O saguão do campus da UFABC (Universidade Federal do ABC) em Santo André foi palco nesta quarta-feira (17) da 16ª edição do Mental Fashion Day, encontro anual que reúne usuários e profissionais dos Caps (Centro de Atenção Psicossocial). Os participantes desfilaram peças confeccionadas e customizadas dentro das oficinas que acontecem na rede de saúde mental da cidade.
“Apoiamos todas as iniciativas da equipe de saúde mental, ainda mais neste momento pós-pandemia, onde percebemos grandes reflexos com pessoas precisando cada vez mais do serviço. Eventos como esse, além de trazer os usuários para uma festa, aumentam a autoestima e inserem esse indivíduo na comunidade”, afirmou o secretário de Saúde, Gilvan Junior.
Em clima de muita alegria e descontração, a plateia vibrava com a entrada de cada participante, o que estimulava e dava mais segurança para todos os modelos, inclusive os mais tímidos. Além de demonstrar a superação dos usuários, a iniciativa traz para debate a importância e necessidade de falar sobre a luta antimanicomial.
“A ideia do evento é poder trazer para a sociedade um pouco do que a gente faz dentro do nosso trabalho. O mais importante é a convivência, quando entramos em uma universidade ou em um parque, como fizemos no ano passado. Promovemos de fato a ideia de que essas pessoas podem estar em liberdade e têm direito à vida, à moradia, ao trabalho e à inclusão”, pontuou a psicóloga e coordenadora de Saúde Mental, Marines Santos de Oliveira.
Ronaldo Ledo de Oliveira, de 45 anos, relembrou com tristeza que em 1998 ficou três meses internado em um manicômio. “Foi terrível e é uma fase da minha vida marcada por muita tristeza. Na época não tinha Caps e os meus amigos da igreja me levaram para lá. Estar aqui hoje me deixa muito emocionado, eu já cantei, toquei gaita e fiz homenagem para Rita Lee. Eu me preparei muito porque é um momento marcante, é o ápice da festividade da saúde mental e marca a integração de todos os Caps”, comentou.
Segundo Marines Santos de Oliveira, ainda há mais de 500 pessoas internadas em manicômios no estado de São Paulo. ”Continuamos com 536 pessoas no estado de São Paulo vivendo dentro do manicômio e que precisam sair de lá. Estou falando de pessoas que estão morando lá dentro há 40, 50 anos. Estamos falando de homossexuais, de filhas de pessoas influentes que engravidaram e foram escondidas, estamos falando de esposas que foram traídas, foram tratadas como loucas e permanecem internadas até hoje”, concluiu a coordenadora de Saúde Mental.
Histórico
Desde o final da década de 1980, quando foi estabelecido o dia 18 de maio como o Dia da Luta Antimanicomial, manifestações e atividades são realizadas nacionalmente durante todo mês de maio com intenção de combater o estigma e o preconceito ainda presentes quando o tema é sofrimento psíquico, além de lembrar os horrores dos manicômios e as graves violações de direitos vividos por décadas pelas pessoas.
A 16ª edição do Mental Fashion Day contou com a participação de 300 pessoas, entre público e modelos de todas as idades, que desfilaram com trajes produzidos pelos usuários nas oficinas de artesanato. Em 2022, o desfile ocorreu no Parque Antonio Pezzolo (Chácara Pignatari), e ao longo dos anos se tornou uma grande atração cultural.
Nesta quinta-feira (18.05), Dia da Luta Antimanicomial, haverá, em conclusão, uma grande manifestação na Avenida Paulista, com ponto de encontro no Paço Municipal de Santo André e nos Caps.