Joaquim Alessi
Com uma prática que deve ser observada e adotada por outros municípios, Diadema exerce a democracia na sala de aula
Colegiados reúnem crianças da creche (maternal) até 2º ano do ensino fundamental; lei aprovada em 2022 garante a participação dos estudantes nas decisões sobre a escola
As escolas municipais de Diadema estão realizando, em primeiro lugar, o processo de escolha dos seus Conselhos Curumins.
Trata-se de colegiados que reúnem estudantes de 3 a 7 anos para, em conjunto e através de reuniões, identificar as demandas e necessidades da escola e sugerir melhorias e mudanças.
Lei de 2022
Os Conselhos Curumins e Grêmios Curumins (para estudantes de 8 a 11 anos) foram instituídos por meio da Lei 4269/22.
Ela especifica a natureza, a finalidade, a composição e o funcionamento dos colegiados escolares de gestão democrática das unidades educacionais da rede municipal da cidade.
Em todas as unidades escolares, os conselheiros eleitos devem tomar posse até 31 de março.
Na Emeb Jorge Ferreira, na Vila Elida, os 155 estudantes escolheram nesta quinta-feira (16.03) os 24 novos conselheiros curumins, que terão mandato de um ano.
Em cada uma das três salas, foram escolhidos dois conselheiros e dois suplentes, totalizando 12 para o período da manhã e 12 para o período da tarde.
A eleição foi feita por meio de cédulas onde constavam o nome e a foto dos candidatos e os estudantes as depositaram em uma urna oficial, cedida pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral). As professoras explicaram detalhadamente, antes, qual o papel dos conselheiros.
“Em todas as escolas esse processo já começou, alguns já vão dar posse aos novos conselheiros”, explicou, em resumo, a integrante do Núcleo de Gestão de Conselhos, Elena Alves da Silva.
“A gente começou o ano passado a implementar os colegiados e tem sido muito importante a participação dos estudantes no processo de construção da educação da cidade”, completou, da mesma forma.
Pintar a parede do pátio
E quem pensa que as crianças, por terem pouca idade, não sabem o que fazer, se enganam.
Tiffany Ferreira Oliveira, 5 anos, por exemplo, foi candidata no ano passado e neste ano se candidatou novamente.
“Se eu for conselheira vou dar dinheiro para todo mundo que trabalha na escola e pedir para pintar a parede do pátio”, adiantou.
Também com 5 anos, Maria Alice Rodrigues Braga Domingos disse, além disso, que escolheu votar na sua melhor amiga.
E explicou que um conselheiro curumim “tem que falar o que ele gosta e fazer seu trabalho, que é cuidar do planeta.”
Atentos
A diretora da Emeb Jorge Ferreira, Simone Gonçalves da Silva, destacou que todos os estudantes se envolveram no processo de escolha dos conselheiros e que a experiência do ano passado mostrou que eles estão atentos a todas as reivindicações feitas.
“No ano passado eles pediram durante uma reunião uma festa do pijama para o encerramento do ano, lanche com cachorro quente que eles mesmos prepararam e pizza na semana das crianças, e eles nos cobram até que a demanda seja atendida”, disse, em suma.
Ao todo, 44 alunos se candidataram na escola. Entre os 24 eleitos, três vão, portanto, cumprir um segundo mandato.
Elena explicou, ainda, que nem todas as demandas podem ser atendidas.
Um estudante, por exemplo, pediu que a escola fosse de algodão doce.
Disse ainda que conversar com as crianças e explicar o que pode e não pode ser realizado também é uma forma de educar para as frustrações.
“Às vezes, para evitar o conflito, para dar aos filhos o que eles mesmos não tiveram, os pais atendem a todos os pedidos. E aqui eles aprendem que algumas coisas vão demorar mais e outras não poderão ser feitas, esse também é um aprendizado”, disse, em conclusão.
