Deixa-nos nesta quarta (29-01-2020) o grande Jornalista Valdenízio Petrolli, que em 23 de março completaria 70 anos de vida.
Petrolli sempre foi um gozador e piadista de primeira. Numa dessas, tivemos uma passagem histórica, que rendeu confusão homérica com o ex-prefeito Luiz Tortorello, de São Caetano do Sul.
Corria o primeio mandato (1989-1992) do “Caipira”, como era conhecido o então prefeito, ou “Forasteiro”, e este jornalista, editor de Política do Diário do Grande ABC, ligou em uma sexta-feira para a assessoria de imprensa da Prefeitura. Petrolli atendeu o telefone (não existia celular à época). Segue o diálogo:
Eu: “Petrolli, boa tarde. Por favor, preciso falar com o prefeito”.
Ele: “O prefeito não está”.
Eu: “Onde ele está?”
Ele: “Em Matão”.
Eu: “Fazendo o que em Matão?”
Ele: “Não te interessa!”
Claro que não havia grosseria, nem desrespeito. Petrolli era assim. Brincalhão.
Mas o jornalista também não perderia a piada por nada.
Chamei o Juarez Correa, espetacular chargista, e pedi: “Jura, por favor, faz uma charge com o Torto (nome abreviado) atrás de uns arbustos, com aqueles óculos quadradões, enormes, e uma cara de espanto, olhos esbugalhados, ok?
Charge pronta, estupenda, só coloquei o título na coluna de Política do Diário do Grande ABC: “Tortorello vai a Matão na moita”.
Segunda-feira, logo cedo (e eu não tinha costuma de ir ao jornal pela manhã, pois sempre ficava para o fechamento até tarde da noite), estava na Redação e toca o telefone:
Eu: “Alô”.
Do outro lado: “Joaquim? Aqui é o Luiz.”
Eu: “Que Luiz?”
Ele: “Luiz TORTORELLO, CARAL…! (e gritou o palavrão).
Eu: “O prefeito, bom dia!”
Ele: “Bom dia, o CACE…”
Eu: “O que foi, prefeito?”
Ele: “O que foi? Foi o que você publicou. Você sabe o que eu fui fazer em Matão?”
Eu: “Não, o seu assessor disse que não me interessava…”
Ele: “Eu fui passar o fim de semana, talvez o último fim de semana, ao lado da minha mãe, no leito de morte dela, que está muito doente…”
Eu: “Poxa, prefeito, desculpa. Se soubesse disso jamais teria brincado com a situação, mas não me foi dito…”
Ele: “Ah, não quero saber. Você sempre brinca com tudo, sempre me critica…”
E passou a gritar um monte de palavrões.
Respondi: “Se é para gritar, eu também sei, estou pedindo desculpas, mas se é para xingar, vai tomar no…”
E bati o telefone.
Ficamos sem nos falar por mais de um ano.
Tortorello meu deu uma rápida entrevista nesse período, à saída do cemitério Santa Paula, após o enterro do primeiro prefeito da história de São Caetano do Sul, Ângelo Raphael Pellegrino, uma “aspas”, como se diz no jornalismo, mas evitava falar comigo.
Só voltamos às boas na campanha de Maluf a governador em 1990, quando fui cobrir um jantar em um clube de Mauá, e o irmão do prefeito, Pádua Tortorello, veio a mim e disse: “Por que você não fala mais com meu irmão?”. Respondi: “Eu falo, ele que não conversa comigo”. Pádua, sempre muito emotivo, com lágrimas nos olhos, me disse: “Se eu te levar até a mesa, você dá a mão a ele?”. Eu disse: “Claro”. E voltamos a ser amigos.
Tudo isso escrevi como lembrança desse grande Petrolli.
Sem nenhuma crítica a ele, mas apenas algo que sempre recordo, e que mostra como as nossas brincadeiras às vezes podem gerar problemas.
Encontrei Petrolli há um tempinho no Santuário Nacional de Aparecida.
Batemos um rápido e bom papo.
Falamos da idade, das doenças com o avançar do tempo… fizemos piadas e rimos muito, porque do contrário não seria um encontro entre a gente.
Fica em Paz, Mestre!