P. Penedo
Do mar
O peixe morre pela boca, adverte o ditado, o que não impede que homens também morram pela boca por morte provocada justamente pela ingestão de peixes. Quem conhece já sabe que estou falando do baiacu. Há cerca de 200 espécies espalhadas pelos oceanos e umas poucas em rios. No Brasil, 125 são encontradas em toda a costa. O peixe é apreciada iguaria, principalmente no Japão, apesar de conter uma toxina 1200 vezes mais poderosa do que o cianeto e de não existir antídoto para o veneno. No Brasil, casos fatais são raros. No Japão, porém, cerca de 50 apreciadores, principalmente do sashimi de baiacu, morrem pela boca todos os anos, e pior, cientes da tremenda tragédia, já que o veneno paralisa os músculos até que a respiração seja obstruída enquanto a vítima jamais perde a consciência. No Japão, cozinheiros precisam de no mínimo três anos de treinamento rigoroso com o fim de obter uma licença especial para que possam preparar comercialmente o fugu, como é conhecido por lá.
Da selva
Existem vários exemplos de alimentação de risco praticados mundo afora. No Brasil, o grande destaque é a ingestão, na região amazônica, das folhas de mandioca-brava incluídas no preparo da maniçoba. As folhas dessa espécie de aipim precisam ser cozidas em fogo baixo por pelo menos uma semana para que estejam livres do ácido cianídrico, uma potente e letal substância tóxica presente nelas. Depois disso, podem ser acrescentadas à receita sem problema. O problema é saber como os indígenas descobriram, sem laboratórios, análises, ciência avançada, que esse processo deixava as folhas livres do veneno. Quem tiver dicas sobre o assunto, favor enviá-las através do e-mail: phioravantipenedo@gmail.com
Últimas das primeiras
Nas repúblicas, o cargo de primeira-dama oficialmente não existe. Em razão disso, não há salário de primeira-dama, não há seguro-desemprego para primeira-dama, não há primeira-dama. Ops, há primeira-dama, mas oficialmente ela figura apenas como hóspede do palácio governamental, embora frequentemente ocupe funções relevantes em parceria com o marido presidente. E, no caso de morte do companheiro nem sequer ajuda para que seja amparada na viuvez existe. No caso das rainhas, se o rei falece é substituído pelo herdeiro do trono, ou em muitos casos até pela viúva. Porém, uma ex-rainha, mesmo quando perde o cargo, continua sendo protegida pela monarquia. E nos antigos impérios, o que acontecia com as rainhas de reinos derrotados e em muitos casos até mesmo destruídos? Quando os romanos, no ano 274, destruíram o reino de Palmira, a rainha Zenóbia, que havia herdado a soberania do marido, morto anos antes, foi obrigada a participar, a pé, do desfile dos vencidos diante dos vitoriosos. A partir dali, pouco se sabe sobre seu destino. Alexandre, o Grande, derrotou os persas, liderados pelo rei Dario III, que fugiu, mas tratou com respeito não só a ex-rainha capturada como toda a família real, tendo inclusive tomado a irmã do fujão como esposa. Esse tipo de história acontecia, entretanto, no tempo em que reis participavam pessoalmente de campanhas bélicas. Com o tempo passaram a comandar as batalhas à distância e no caso de derrota de suas forças armadas tinham tempo de recuar e negociar uma rendição que protegesse a si mesmos e à família, salvando a rainha de desfiles humilhantes e, em alguns casos, até mesmo de execução. Velhos tempos, novos reinos, velhas histórias, God save the queens and the kings.
Conjecturas
Os reis são para os seus ministros como os cornudos para as esposas: nunca sabem o que se passa.
Voltaire
Quero ir para o inferno, não para o céu. No inferno, gozarei da companhia de papas, reis e príncipes. No céu, só terei por companhia mendigos, monges, eremitas e apóstolos.
Maquiavel
O fraco rei faz fraca a forte gente.
Luís de Camões
Ao término do jogo, o rei e o peão voltam para a mesma caixa.
Ditado italiano
