Joaquim Alessi
Longe do chavão de “herança maldita”, o novo governador paulista Tarcísio de Freitas deixou claro suas intenções na primeira fala pós-posse.
Está de olho, acima de tudo, é no espólio tucano. Razão pela qual enalteceu mais José Serra, Franco Montoro e Mário Covas do que o padrinho Jair Bolsonaro.
Tarcísio sabe que o PSBD foi ferido de morte nas tão contestadas urnas eletrônicas de outubro de 2022.
Mas promete investir na Saúde não para ressuscitar, porém reconstruir um grupo político tipo Frankstein, em cujas veias corra um sangue não vermelho.
Em pronunciamento relativamente curto na Assembleia, Palácio Nove de Julho, citou exatamente os emblemáticos anos de 1930.
Foi, em primeiro lugar, um apelo ao sentimentalismo de parcela que ainda se apega à “Guerra Paulista”.
Esqueceu-se, entretanto, que nas décadas de 1920 e 1930, a rivalidade de São Paulo com o seu Rio era tão ou mais intensa do que a luta com os gaúchos.
Cabe o benefício da dúvida? Até alguns petistas têm se posicionado nessa linha, mas só o tempo dirá a que veio.
De muito positivo, o compromisso em não ser o dono da verdade, já que “a verdade não tem dono, não”, como canta Raul Seixas.
Compromisso, aliás, já praticado, com a “volta atrás” no caso da Secretaria da Pessoa com Deficiência. Desistiu de destruir.
A íntegra
Para quem se interessar, segue o discurso na íntegra:
“Hoje é um dia especial, pois marca o início de uma caminhada. Pelos próximos quatro anos, o time que hoje assume fará o máximo para vencer os imensos desafios que nos são impostos. A responsabilidade de governar um Estado como SP, que se fosse um País seria a 21ª economia do mundo, 3ª da América Latina, é enorme, só não é maior do que a motivação de fazer a diferença. Apesar da pujança, temos um Estado desigual e a atenção às demandas populares deve ser o grande direcionador da ação do Estado.
É dia de expressar gratidão, que é uma forma singular de reconhecimento. Gratidão a Deus por revigorar as nossas forças, preparar o nosso caminho e conduzir nossos passos sob a sua vontade. Gratidão à minha família que é minha fortaleza.
Na política, inicio meus agradecimentos, como não poderia deixar de ser, pelo presidente Jair Bolsonaro, que me lançou este desafio, que enxergou o que ninguém havia enxergado naquele momento. Quanta ousadia! A montagem do ministério em 2019 já havia sido ousada. Houve a aposta em técnicos desvinculados das pressões partidárias, padrão que estamos reproduzindo em São Paulo. Aliás, a indicação irresponsável de dirigentes é raiz da ineficiência, da corrupção, do fisiologismo e, porque não dizer, desmoralizam a própria democracia, como já havia dito José Serra. As ideias ousadas, segundo Goethe, são como peças de xadrez, que se movem para frente; às vezes até as perdemos, mas podem começar um jogo vitorioso. Neste movimento, eu e outros técnicos chegamos ao primeiro escalão do governo federal e nunca nos faltou apoio, incentivo, patrocínio da ousadia, que foi premiada, no caso da Infraestrutura, por leilões de concessão com modelos inovadores, vitoriosos em um momento desafiador e por reformas de marcos importantes referendadas pelo Congresso Nacional.
Expresso ainda minha gratidão a Felício Ramuth, vice-governador de São Paulo, um grande amigo que a política me deu. Que, em um gesto de grandiosidade, abriu mão do seu projeto para caminhar comigo Gestor experimentado, bem sucedido por onde passou, trouxe uma densidade para nosso time e ainda mais certeza de que será possível fazer muito por São Paulo.
A Guilherme Afif Domingos, que, além de um grande professor, se tornou um amigo e uma pessoa que fez toda a diferença na construção desse projeto. Que honra o ter ao meu lado nessa jornada, Afif. Ao Presidente do meu partido, o Dep. Federal Marcos Pereira, que me acolheu nos quadros do Republicanos e meu deu todo apoio necessário em todos os momentos da caminhada. Também agradeço aos presidentes dos partidos que fizeram parte da nossa coligação, em especial ao ex-ministro e futuro Secretário de Governo Gilberto Kassab, pelas inúmeras portas abertas ao longo da campanha, ao Senador Marcos Pontes, às deputadas e deputados, prefeitas e prefeitos, vereadoras e vereadores, aos amigos de toda uma vida que, mais uma vez, acreditaram em mim e resolveram me acompanhar.
Hoje é dia de agradecer a população de São Paulo, que me acolheu de forma muito carinhosa. Que não perguntou de onde eu vim. Que preferiu apostar no “para onde podemos ir”. Agradeço aos quase 13,5 milhões de paulistas que acreditaram neste projeto. Entendemos o recado das urnas: vamos governar para todos, renovando a esperança de um futuro melhor, percebendo e explorando cada potencial do Estado, apostando na inovação, na tecnologia como arma poderosa para o crescimento e para a melhoria na prestação dos serviços.
É uma honra muito grande tomar posse na Assembleia Legislativa, a Casa do Povo, essência da representação democrática paulista. Aqui teremos o ambiente de diálogo para fazer de São Paulo um exemplo para o Brasil, em termos de políticas sociais, de sustentabilidade, de inclusão, de inovação, de luta pela segurança, pelo emprego, pelo desenvolvimento econômico e regional. Vamos trabalhar na construção de consensos, no convencimento por meio do trabalho técnico e da transparência, sempre respeitando as diferenças, sempre com uma atitude propositiva. Vamos buscar a maioria para realizar programas e manter profundo respeito pelos adversários. Aliás, interessante seria se aliados do governo não se furtassem em abordar os projetos criticamente e se a opositores tiverem a consciência do imperativo da responsabilidade e se dispuserem a propor, a construir.
Esperamos aqui a interlocução, o diálogo franco. Nós no governo estaremos prontos para a discussão de ideias, para a construção de caminhos. Não somos donos da verdade, não hesitaremos em dar passos atrás quando necessário, mas estamos extremamente cientes da nossa responsabilidade e comprometidos com o acerto.
O diálogo também será importante para aglutinar as bancadas em torno dos interesses do Estado, de forma a suprir uma grande lacuna. Desde a década de 30 do século passado, há um desbalanceamento entre o peso econômico e o peso político. São Paulo precisa ter mais voz!
Hoje é dia de reafirmar compromissos. O compromisso com o desenvolvimento, com um Estado que é a locomotiva econômica do País, que merece uma economia dinamizada e aberta, parceira do empreendedor e da iniciativa privada, mais competitiva e mais integrada internacionalmente. São Paulo pode e deve ser protagonista nos processos de transição energética, líder em economia verde, exemplo de investimentos sustentáveis. Não é para menos. Sabemos que os fluxos financeiros estarão fortemente aderidos aos padrões ambientais. O compromisso de acionar as alavancas do crescimento: o aumento da oferta de energia, a diminuição da carga tributária, a oferta de crédito para micro e pequenos empreendedores, os investimentos pesados em infraestrutura, a capacitação profissional e a digitalização.
Mas o crescimento econômico não é um fim em si mesmo. Há uma razão para que persigamos insistentemente o crescimento: é o resgate social. A grande finalidade do mandato é fazer a diferença. Cada meta alcançada muda realidades, transforma trajetórias, traz esperança, dignidade! Dignidade é uma palavra chave. Não podemos ficar inertes ao sofrimento cotidiano de dependentes químicos amontoados nas cracolândias, insensíveis com a situação de quem não tem abrigo, emprego, futuro. Não podemos achar normal a fome e, em um mundo que dispõe de tanta tecnologia, não podemos tolerar o analfabetismo.
Podemos e devemos contribuir para o aumento da oferta de moradias, para a revitalização dos centros urbanos, para a melhoria da mobilidade, para a melhoria do ensino, para a melhoria dos serviços de saúde e para o fortalecimento dos programas de transferência de renda e combate à pobreza. Como será bom ver jovens acessando pela primeira vez o mercado de trabalho por meio do “Programa Jovem Aprendiz Paulista”. A cidadania existe de fato na medida da qualidade da prestação dos serviços públicos.
Hoje é dia de pensar em disrupção. Em tempos de 5G, de democratização de acesso à dispositivos móveis precisamos fazer mais com menos, mudar os modelos de prestação de serviço público, usar maciçamente a tecnologia em prol do cidadão. A integração de sistemas e o geoprocessamento serão fundamentais na segurança pública, por exemplo. A ousadia na gestão nos ajudará a tirar o máximo do patrimônio imobiliário do Estado. Será necessária a criatividade para aumentar significativamente o investimento em universalização do saneamento básico e ainda assim, reduzir as tarifas, para concluir o rodoanel ou a linha 17, para fazer o metrô alcançar mais pessoas ou para ver ligações ferroviárias saindo do papel. Para acabar o que ficou pelo caminho. Precisamos entregar as pequenas coisas, que mudam a rotina e fazem a diferença. Como dizia Franco Montoro “minha maior obra é o conjunto das pequenas obras” ou Mário Covas “Penso que, às vezes, mais vale eliminar uma fila do que construir um viaduto”.
Hoje é dia de pensar e exaltar São Paulo!
Pelo Brasil, faça-se o melhor!