Saúde da população negra é tema de Escola para Igualdade

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Fotos: André Baldini/PMD

A implantação de políticas públicas precisa levar em consideração a multiplicidade de fatores que colocam a população negra em situação de vulnerabilidade

“Muitos agravos de saúde são consequência do impacto do racismo na vida das pessoas negras do que propriamente determinantes biológicos”, afirmou, em resumo, Yury Puello Orozco.

Ela é responsável pela área técnica que trabalha com populações estratégicas na Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Diadema.

Sua fala deu-se nesta sexta-feira (23.06), em aula do curso “Escola para Igualdade: Classe, Gênero, Raça e suas Relações com o Território e Meio Ambiente”.

A socióloga especialista em políticas públicas explica que doenças infecciosas, abalos na saúde emocional e na autoestima, sofrimento psíquico, mortalidade infantil, abuso de álcool e outras drogas, doenças cardiovasculares podem ser evitáveis.

“Precisamos levar em consideração a multiplicidade de fatores que colocam a população negra em situação de vulnerabilidade. Muito foi desqualificado, ocultado e silenciado, do ponto de vista da saúde dessa população, no processo de cura. Ainda hoje, as consequências de um projeto de mundo, de país e de sociedade que foi deliberadamente pensado e organizado do ponto de vista social, econômico, politico e religioso continua impactando de forma negativa na vida destas pessoas. As atitudes e palavras discriminatórias afastam as pessoas dos serviços”, ressalta.

Imaginário social coletivo racista

No recorte das mulheres negras, Yuri ressalta ainda que há um imaginário social coletivo racista que as impactam.

As mulheres negras têm menos consultas de pré-natal, maior mortalidade materna, menos acesso a exames preventivos de mama e colo de útero.

Da mesma forma, recebe menos anestesia no parto do que mulheres brancas e são maioria em situações de violência doméstica e obstétrica.

Além disso, os profissionais de saúde não são treinados para atentar às necessidades de mulheres negras.

“As populações pretas, sobretudo nos países da América do Sul, são mais pobres dentro das classes sociais, porque existe um processo enorme de falta de acessibilidade, discriminação e violência. E a medicina reproduz todos esses valores”, reforça a ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres e uma das coordenadoras da escola, Eleonora Menicucci.

Dados do período entre 2006 e 2023, revelam que as principais causas de mortalidade da população negra, em Diadema, são relativas a doenças do aparelho circulatório, neoplasias, causas externas, doenças do aparelho respiratório e doenças infecciosas e parasitárias.

Já o cuidado de pessoas com anemia falciforme, doença genética e hereditária caracterizada pela alteração dos glóbulos vermelhos do sangue, registrou 540 atendimentos na rede municipal desde 2015.

Políticas públicas

Para mudar essa realidade, a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra prevê a criação de comitês para pensar e implementar políticas públicas.

Na cidade, o Comitê Técnico de Saúde da População Negra e demais Grupos étnicos raciais de Diadema foi regulamentado em setembro de 2022.

A temática também é contemplada no Plano Municipal de Saúde 2022-2025, no Plano Municipal Decenal de Promoção da Igualdade Racial de Diadema e 11ª Conferência Municipal de Saúde 2021.

Para um dos coordenadores do curso, Dr Acácio Almeida, “essa discussão também nos coloca para pensar sobre saberes locais e regionais e como eles são impactados pelas indústrias, principalmente as farmacêuticas, e do quanto pensar saúde da população negra é pensar na saúde como um todo, mas olhando para essas questões mais específicas. Fico feliz em ver o quanto avançamos em Diadema”.

Especialização

A aula ainda teve a participação da diretora do Departamento de Educação Popular da Secretaria de Educação de Diadema, Evelyn Cristina Daniel.

Ela abordou a implementação das leis 10.639/2003 e 11.645/2008, bem como a criação do Núcleo de Educação para as Relações Étnico-Raciais (NERER) da Secretaria Municipal de Educação.

O curso “Escola para Igualdade: Classe, Gênero, Raça e suas Relações com o Território e Meio Ambiente” é, acima de tudo, uma parceria da Universidade Federal do ABC (UFABC) com a Prefeitura de Diadema, voltado aos servidores, com objetivo de qualificar o atendimento prestado aos munícipes.

A formação, em conclusão, teve início em março deste ano e vai até o mês de agosto.

 

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