Pesquisa da USCS avalia influência da percepção da família no diagnóstico precoce do Transtorno do Espectro Autista – TEA

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Estudo foi realizado em instituição que desenvolve avaliação neuropsicológica e terapias interdisciplinares para diagnóstico e tratamento de crianças e adolescentes com TEA

Como a percepção dos pais, sobre manifestações de retardo no neurodesenvolvimento, pode auxiliar no diagnóstico precoce do Transtorno do Espectro Autista? Esta foi a pergunta norteadora da pesquisa de iniciação científica (IC) das alunas Paula Guirão Giron, Michelle Kaori Menezes Fukuda e Mariana Figueira, do curso de Medicina, da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). O objetivo principal foi analisar como a percepção do cuidador pode ajudar no diagnóstico e tratamento precoce do TEA a fim de proporcionar melhor desfecho para o paciente com autismo e seus familiares. A pesquisa teve orientação da Profa. Dra. Susana Rosa Lopez Barrios, recebendo o prêmio de melhor trabalho no Congresso Médico Universitário da USCS, em 2022.

O estudo revela que o Transtorno do Espectro autista (TEA) tem se tornado cada vez mais um problema de Saúde Pública, cujos impactos econômicos, sociais e principalmente familiares podem ser notados com facilidade, principalmente, pelos pais das crianças portadoras de tal transtorno. “A partir do convívio, comparação da criança com outras, e um olhar cuidadoso capaz de detectar sinais como a dificuldade de interação social, maior interesse por objetos do que por pessoas e recusa de colo ou afagos, podemos considerar o cuidador como um ponto-chave fundamental para o diagnóstico precoce de TEA. É sabido que os primeiros sintomas se iniciam entre os 6 e 24 meses, apesar de o diagnóstico ocorrer apenas após o 4º ano, na maioria dos casos”, explicam as alunas de IC da USCS.

De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V,2013), o Transtorno do Espectro Autista – TEA – é classificado como um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado, basicamente, pelo déficit persistente na comunicação e interação social em múltiplos contextos; e por padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Ademais, esse transtorno comumente está associado com outras manifestações inespecíficas, como: fobias, perturbações de sono ou da alimentação, crises de birra ou agressividade. O TEA é de três a quatro vezes mais comum em homens do que em mulheres.

As pesquisadoras de IC lembram que as manifestações do TEA tendem a ocorrer comumente entre o primeiro e segundo ano de vida, a partir de diversas sintomatologias. Contudo, o diagnóstico desse Transtorno é realizado, mais frequentemente, entre o quarto e o sexto ano de vida. Isto devido, principalmente, à sua etiologia que pode ou não ter uma ou mais causas específicas e identificáveis. Neste caso, tais causas podem incluir fatores genéticos e ambientais, os quais habitualmente interagem entre si. “Em razão de tantas variáveis, pode haver atraso no início de intervenções, acarretando impactos negativos na evolução da comunicação e interação social dessas crianças, e consequentemente em seu prognóstico”, ressaltam as futuras médicas da USCS. Aliás, essa foi a justificativa da pesquisa: apesar de as manifestações do TEA poderem ocorrer já no primeiro ano de vida, o que se observa é que o diagnóstico ocorre, tardiamente, entre os 4 e 6 anos. Demonstrar que os pais percebem atrasos no neurodesenvolvimento nos primeiros anos de vida pode contribuir para alertar os profissionais envolvidos e acelerar o diagnóstico.

Além da revisão teórica sobre o tema, os alunos foram à campo e realizaram pesquisa do tipo exploratório com aplicação de questionário com perguntas objetivas a pais e profissionais de saúde. A amostra foi formada por crianças com o diagnóstico confirmado para Transtorno do Espectro Autista, na faixa etária de 0 a 18 anos, em clínica do ABC que desenvolve avaliação neuropsicológica e terapias interdisciplinares para diagnóstico e tratamento de crianças e adolescentes com TEA.

Entre os resultados apontados, foi possível identificar que a incerteza diagnóstica e a falta de preparo dos profissionais de saúde são os principais empecilhos para o diagnóstico precoce do TEA. “Concluímos que os pais têm capacidade de perceber problemas no neurodesenvolvimento de seus filhos ainda entre o primeiro e segundo anos de vida. Mesmo sem conhecimento técnico, suspeitam da possibilidade de terem um filho autista. Apesar da demanda aos serviços de saúde, o diagnóstico acontece tardiamente. Uma possibilidade para tal é a falta de conhecimento suficiente para reconhecer os sintomas de TEA ou se de fato tem-se avaliados os marcos do desenvolvimento neuropsicomotor nos atendimentos de puericultura, uma vez que, o atraso já indica algum problema”, avaliam as alunas de IC da USCS Paula Guirão Giron, Michelle Kaori Menezes Fukuda e Mariana Figueira.

De acordo com a Profa. Dra. Susana Rosa Lopez Barrios, orientadora da pesquisa, o estudo é relevante porque “evidencia dois pontos de suma importância para o diagnóstico, não só de TEA, como de qualquer outro transtorno do desenvolvimento neuropsicomotor. O primeiro é que nós profissionais da saúde, em especial os pediatras, temos que ter escuta qualificada às queixas da família, posto que eles observam seus filhos e se incomodam com a possibilidade de que algo não vai bem. Esse olhar dos pais é muito importante e pode nos dar alerta para investigar problemas. Outro ponto que gostaria de destacar é a importância da puericultura ‘raiz’. Refiro-me ao olhar do pediatra não só ao crescimento em peso e altura, mas a avaliação do neurodesenvolvimento do bebê. Atrasos nos marcos do desenvolvimento (sorrir, segurar objetos, olhar, sentar, esconder) alertam para muitos tipos diferentes e sérios de problemas. A forma como a criança brinca é muito esclarecedora também. Se juntarmos estes dois pontos, ouvir e avaliar, poderemos suspeitar e investigar. Logo, jamais devemos dizer às famílias preocupadas com atraso de linguagem, por exemplo, que devemos esperar crescer. Esperar pode significar perder a oportunidade de intervir precocemente e melhorar o prognóstico dessas crianças. Esta pesquisa foi muito oportuna para reforçar estas duas questões e nos alertar da importância de sermos atentos e acolhedores”, avalia a orientadora.

O programa de Iniciação Científica da USCS é voltado aos estudantes de graduação, servindo de incentivo à sua formação, despertando vocações científicas e incentivando talentos potenciais dos estudantes de graduação na vida acadêmica, a partir do desenvolvimento de pesquisas com mérito científico.

Campus Centro da USCS, onde é oferecido um dos cursos de Medicina da Universidade.

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