Com dramaturgia criada por Rafael Gomes (que também assina a direção) e Vinícius Calderoni e produzido pela Sarau Cultura Brasileira, o espetáculo – que tem patrocínio da BB Seguros e realização do Sesc – é inspirado, acima de tudo, nas canções, álbuns, livros e espetáculos teatrais dessa lenda da música brasileira
Depois da bem-sucedida estreia carioca, o musical Nossa História com Chico Buarque, dos premiados Vinicius Calderoni e Rafael Gomes, que também assina a direção, desembarca em São Paulo, portanto, para temporada de 30 de janeiro a 28 de fevereiro no Teatro Paulo Autran, no Sesc Pinheiros.
O trabalho, em primeiro lugar, ainda traz no elenco Laila Garin, Heloisa Jorge, Artur Volpi, Felipe Frazão, Francisco Salgado, Larissa Nunes, Luísa Vianna e Odilon Esteves, com participações especiais de Soraya Ravenle e Ju Colombo.
A banda é formada, da mesma forma, pelos músicos Alfredo Del Penho, Aline Falcão, Diego Zangado, Dirceu Leite e Ingrid Cavalcanti.
Ao longo das últimas seis décadas, Chico Buarque construiu, em primeiro lugar, uma obra monumental, por meio de de centenas de canções, álbuns, livros e espetáculos teatrais.
Mais do que uma produção vultosa, suas criações ocupam lugar único dentro da vida brasileira.
Não só por cantar momentos icônicos da história recente do País, mas também ao traduzir os sentimentos mais íntimos do inconsciente coletivo nacional.
Nossa História com Chico Buarque nasce justamente, por exemplo, do desafio de contar um enredo absolutamente original, concebido sob a inspiração do inesgotável universo buarqueano.
Provocação
O musical, além disso, surgiu de uma provocação da produtora Andréa Alves, da Sarau Cultura Brasileira, para o diretor Rafael Gomes.
Juntos, eles montaram, da mesma forma, o sucesso ‘Gota D’água [a seco]’ (2016), em uma releitura do clássico ‘Gota D’água’.
Também passaram por outras incursões no repertório do homenageado: Rafael assinou uma montagem de ‘Cambaio’ e Andréa produziu ‘A Ópera do Malandro’ e ‘Os Saltimbancos’.
O texto inédito é assinado, em suma, por Rafael com Vinicius Calderoni, seu parceiro em diversos projetos, e narra a saga de alguns personagens de duas famílias cariocas ao longo de três gerações, como em um épico íntimo.
A ação se passa em três momentos: 1968, 1989 e 2022, não à toa datas fundamentais para se contar a recente história política e social brasileira, quando, respectivamente, o país atravessava a pior fase da Ditadura Militar, logo após vem o período da redemocratização e chega na fase final, depois da pandemia e de uma nova ruptura democrática.
Três tempos distintos
Situadas em três tempos distintos, as narrativas começam separadas e vão aos poucos se interligando, formando um mosaico que contrapõe passado, presente e futuro.
Um narrador costura as tramas e traz a realidade sociopolítica do Brasil para as margens da cena, encarnando também a presença-ausente de Chico Buarque e sua latente relação com a vida do país, em termos históricos e emocionais.
Enquanto os conflitos, paixões, encontros e desencontros das personagens se desenrolam no palco, mais de 50 canções e trechos de composições de Chico Buarque se embaralham com os diálogos, pontuando a ação e se incorporando à dramaturgia, ao complementar o que é dito pelos atores e revelar também o que não é dito, além de avançar com a ação da trama.
Tudo é embalado, além disso, pela direção musical de Alfredo Del-Penho, que criou novos arranjos para cada obra.
Entre as músicas selecionadas, estão clássicos incontestáveis (‘Construção’, ‘O Que Será’), hits radiofônicos (‘A Banda’, ‘Olhos nos Olhos’), obras também compostas para outras peças (‘Tatuagem’, ‘Roda Viva’, ‘A História de Lily Braun’) e criações mais recentes.
Tijolo com tijolo como se fosse música
‘É um desespero ter que escolher dentro de uma obra de quase 400 músicas. O grande critério é mesmo saber quais as canções que vão servir à narrativa. É uma peça cuja proposta de dramaturgia se estrutura ao redor do quanto essas músicas fazem parte de nossa vida’, conta Rafael Gomes, que, inclusive, buscou uma inspiração inicial para toda a trama na canção ‘Construção’:
‘É uma inspiração de estética, no sentido de que os versos se repetem, alterando o fim ou variando entre si. A gente também tem três gerações de personagens que de alguma maneira se repetem ou não, ou variam entre si. Isso fica latente não só na trama, no que está escrito como situação, mas na própria estética do espetáculo, em que o elenco vai fazendo mais de um personagem conforme passam os anos’, revela.
‘Nossa História com Chico Buarque’ busca um certo conceito de arqueologia do cotidiano, ao mostrar grandes e pequenos acontecimentos ao mesmo tempo.
Macro e micro
A dramaturgia flagra o macro da vida coletiva do Brasil se relacionando com o micro da vida do indivíduo e de uma família.
Para Rafael, pareceu natural criar uma história que se desenrolasse pelas seis décadas de produção artística de Chico, tomando como marco inicial o lançamento de ‘A Banda’, em 1966:
‘No palco, a plateia vai acompanhar três gerações de pessoas que vão tendo seus descendentes e esses descendentes vão ressignificando o que foi feito antes, ou o próprio amadurecimento das personagens vai transformando suas experiências anteriores’, reflete o diretor, que contou com a parceria de Vinicius Calderoni para a empreitada de criar toda a dramaturgia original.
A dupla comemora 16 anos de criação artística e 14 de fundação da companhia Empório de Teatro Sortido. Curiosamente, esta é a primeira peça de teatro adulta escrita por eles, que já assinaram o texto de dois infantis juntos.
‘Eu já dirigi textos que ele escreveu, já o dirigi em cena e em shows, já fizemos roteiros de séries e filmes, mas a gente nunca tinha escrito teatro adulto juntos. Então foi um ponto de chegada glorioso também que isso acontecesse com esse projeto e com a obra do Chico. Eu tinha já um argumento quando o Vinícius entrou no projeto, já um desenho da história e de como eu gostaria de contar. Ele entrou para realmente avançar e melhorar as ideias, debater e escrever o texto em si’, conta Rafael.
Vinicius também é um parceiro constante da Sarau Cultura Brasileira e nos últimos anos assinou a dramaturgia de ‘Elza’ (2018), dirigiu e escreveu ‘Sísifo’ (2019), com Gregorio Duvivier, e ‘Museu Nacional – Todas as Vozes do Fogo’ (2022), com a Barca dos Corações Partidos, três bem-sucedidos projetos da produtora.
Chico Buarque e a Sarau Cultura Brasileira
‘Nossa História com Chico Buarque’ marca, por exemplo, mais uma etapa da longa relação de parceria entre a Sarau Cultura Brasileira e o compositor.
Entre os frutos, estão ‘Os Saltimbancos’ (2012), ‘A Ópera do Malandro’ (2014) e ‘Gota D’Água [a seco]’ (2016), todas as montagens idealizadas por Andréa Alves.
‘A obra de Chico Buarque passou a fazer parte da minha vida e trabalhar com o seu repertório teatral virou um desejo constante. Nunca é demais render homenagem e lembrar o seu tamanho, em um País cuja memória precisa ser sempre revisitada, para que as novas gerações valorizem a sua cultura. Foram anos pensando em como e com quem fazer esse espetáculo acontecer, até que alcançamos as oito décadas do mestre’, conta, em resumo, a produtora, que celebrou recentemente os 30 anos da Sarau, responsável por projetos como o musical ‘Elza’, o Festival Toca e a companhia Barca dos Corações Partidos, entre muitos outros.
“Apoiamos espetáculos que incentivam a cultura, porque entendemos que as manifestações artísticas são expressões sociais importantes. Este musical, que conta parte da história do Brasil a partir da visão de um talento singular, muito nos orgulha. Chico Buarque é um artista plural, um ícone da música popular brasileira e um nome muito respeitado na literatura contemporânea. Estamos animados com mais esta parceria cultural!”, afirma, em conclusão, Amauri Vasconcelos, presidente da Brasilseg, uma empresa BB Seguros.
Ficha Técnica
Texto: Rafael Gomes e Vinicius Calderoni
Músicas: Chico Buarque
Direção: Rafael Gomes
Direção Musical e Arranjos: Alfredo Del-Penho
Idealização e produção artística: Andréa Alves
Diretora de Projetos: Leila Maria Moreno
Com: Laila Garin, Heloisa Jorge, Artur Volpi, Felipe Frazão, Francisco Salgado, Larissa Nunes, Luísa Vianna e Odilon Esteves, com participações especiais de Soraya Ravenle e Ju Colombo.
Músicos: Alfredo Del Penho, Aline Falcão, Diego Zangado, Dirceu Leite e Ingrid Cavalcanti.
Cenografia: André Cortez
Iluminação: Wagner Antônio
Figurino: Kika Lopes e Rocio Moure
Desenho de som: Gabriel D’Angelo
Direção de Movimento e Coreografia: Fabrício Licursi
Design Gráfico: Beto Martins
Patrocínio: BB Seguros, através da Lei de incentivo à cultura
Realização: Sesc
Serviço
Nossa História com Chico Buarque
De 30 de janeiro a 28 de fevereiro | quinta a sábado, 20h e domingos 18h
Sessões extras:
22 de fevereiro (sábado), às 15h
26 de fevereiro (quarta), às 20h
Duração: 150 minutos
Local: Teatro Paulo Autran
Classificação: 14 anos
Ingressos: R$ 70 (inteira); R$ 35 (meia) e R$ 21 (credencial plena)
Sesc Pinheiros – Rua Paes Leme, 195
Estacionamento com manobrista: Terça a sexta, das 7h às 21h; sábado, domingo e feriado, das 10h às 18h.