Joaquim Alessi
Tomo conhecimento pelo prefeito Paulo Serra, em sua redes sociais, da triste notícia do falecimento de Angelo Puga, aos 86 anos.
O óbito deu-se, em primeiro lugar, na noite desta sexta-feira (06.10).
Puga estava internado no CHM (Centro Hospitalar Municipal) de Santo André e morreu em decorrência de complicações de duas cirurgias vasculares às quais teve de ser submetido.
Trabalhei por cerca de uma década sob o seu comando, assim como o de Edson Danillo Dotto (1934-1997) – presidente; Fausto Polesi (1930-2011) – diretor de Redação; e Maury de Campos Dotto – diretor comercial.
Os quatro fantásticos criadores, em maio de 1958, do News Seller, que depois viria a transformar-se no então nacionalmente reconhecido Diário do Grande ABC.
“O coração da Redação”
Dr. Puga, como o chamávamos, era essencialmente voltado à área administrativa do DG (apelido, entre nós, do jornal).
Mas, claro, também dava seus pitacos quando o assunto era notícia.
Incomodava, porém, em algumas oportunidades, quando ele, guiando uma importante visita ao jornal, chegava à Redação, e estufava o peito para revelar:
“Aqui está o coração do jornal”, e apontava para as então “moderníssimas velhas” máquinas de teletipos, que “cuspiam” sem parar rolos e rolos de laudas com notícias de todas as partes do mundo.
Eram os teletipos nacionais, com a Agência Estado, ou os internacionais, com a Reuters, Associated Press, UPI (United Press Internacional), Ansa (Agência Italiana de Notícias) etc.
Claro que nós, jornalistas, sabíamos que ele tinha orgulho das caras aquisições, mas a gente pensava: “Poxa, damos o sangue pelo jornal, e o coração está nessas máquinas?”
Parem de mexer nos papéis, movam as máquinas
Vinguei-me (obviamente no sentido carinhoso da vingança, se é que ele existe) na noite da morte de Tancredo Neves: 21 de abril de 1984.
Era editor de política do Diário do Grande ABC e, após acompanhar todo o tratamento do presidente eleito, sempre tive uma estranha sensação.
“Ele vai acabar morrendo em um domingo, e o jornal não circula às segundas-feiras; vamos noticiar dois dias depois, caso isso aconteça?”, pensava com meus botões.
Botões mesmo, de teclas, pois trabalhávamos naquele 1984 com máquinas de escrever.
E não deu outra. O anúncio da morte de Tancredo aconteceu no início da noite de domingo, 21 de abril, e não tínhamos um plano para a emergência.
Corri para a Redação sem saber direito o que aconteceria.
A primeira pessoa que vi, recolhendo de maneira afoita as laudas dos velhos teletipos, foi Angelo Puga, no “coração da Redação”.
Impensadamente dei a ordem ao chefe (que ousadia): “Tire as mãos daí, deixa que eu resolvo”.
Claro, em primeiro lugar, nós, jornalistas, estávamos habituados com a confusão daquele monte de papel. E sabiámos botar ordem na bagunça.
Felizmente, Dr. Angelo entendeu bem minha preocupação, e deixou que a gente tomasse conta do pedaço.
Lembro bem do esforço de cada um, e, especialmente, do grande jornalista Roberto Gazzi, que dava show fechando quatro páginas ao mesmo tempo.
Uma com cada diagramador: Valdir Fumene, Flávio Ficarelli, Miltinho, Gigi (Rubens Justo).
Edição extra
Dr. Puga, ao lado do Dr. Fausto Polesi foi encarregar-se do que sabia fazer melhor: providenciar que os gráficos chegassem (não existia celular, lembre-se).
Chegassem para fazer rodar uma edição extra, algo difícil para a época, e que o Diário do Grande ABC estivesse nas bancas já na madruga de segunda, como um jornal de primeira.
Se essa pode ser a forma de homenagear e agradecer ao Dr. Puga, neste dia tão triste, que assim o seja.
Descansa em paz, grande guerreiro, um dos heróis da resistência da nossa Imprensa livre, democrática, responsável e soberana.
Natural de Catanduva, Interior de São Paulo, Angelo Puga nasceu a 13 de janeiro de 1937, teve quatro filhos – Gisele, Claudia, Silvia e Emerson -, cinco netos e três bisnetos. Era casado com Nelly Donaire Puga.