Para presidente do Sindicato Nacional dos Cegonheiros, movimento precisa ser estudado para adaptar mercado brasileiro
O mercado automobilístico americano retomou, em primeiro lugar, o foco na produção de modelos a combustão.
Nos cinco últimos anos, por exemplo, as montadoras investiram bilhões de dólares na indústria dos elétricos.
Sempre na expectativa de que o consumidor entrasse firme nessa onda, o que não aconteceu.
No último ano, portanto, a taxa de crescimento das vendas de veículos elétricos caiu, com uma redução importante de 18,3% em relação a abril de 2023.
Boa parte dos compradores de carros, em suma, não gostou dos altos preços dos automóveis e caminhões elétricos.
Além disso, pesaram negativamente também as dificuldades de carregá-los, especialmente em viagens longas.
O movimento no mercado norte-americano tem sido acompanhado de perto no Brasil pelo Sinaceg (Sindicato Nacional dos Cegonheiros).
“Sabemos que a transição energética deve ser feita com cautela e por etapas para que dê tempo de o mercado se adaptar”, diz, em resumo, o presidente do Sinaceg, José Ronaldo Marques da Silva, o Boizinho.
Atenção mudada
A queda nos EUA fez com que muitas montadoras recuassem em seus planos de investimento agressivos.
Da mesma forma, voltaram a atenção, pelo menos em parte, para os veículos com motor a combustão.
São eles os responsáveis pela maioria das vendas de carros novos e por uma grande parcela dos lucros corporativos na América do Norte.
Boizinho avalia que o exemplo dos Estados Unidos merece ser estudado com atenção. E compreendido. “Esse recuo que observamos lá demonstra que o mercado de carros não aceita cavalos-de-pau, mesmo na economia mais dinâmica do planeta.”
O exemplo que chamou mais a atenção recentemente ocorreu quando a Ford afirmou, há duas semanas, que iria reequipar uma fábrica no Canadá para produzir grandes caminhonetes movidas a combustíveis fósseis, em vez dos utilitários-esportivos elétricos que planejou fabricar. A decisão da Ford ocorreu um dia depois que a General Motors informou que espera fabricar de 200 mil a 250 mil carros e caminhões movidos a bateria este ano, 50 mil a menos do que o previsto anteriormente.
Momento tenso
O receio das montadoras em relação aos veículos elétricos ocorre num momento politicamente tenso para o setor. As regulamentações automotivas dos EUA podem mudar muito se o ex-presidente Donald Trump vencer a eleição em novembro. Trump prometeu desfazer muitas das políticas do presidente Joe Biden, incluindo aquelas que promovem o uso de carros movidos a bateria para lidar com as mudanças climáticas.
Mas mesmo antes do início da campanha presidencial, a Ford, a GM e outras montadoras vinham reduzindo seus investimentos em veículos elétricos, atrasando alguns modelos novos e o trabalho em fábricas de baterias. Há apenas alguns anos, a GM e a Ford esperavam conseguir fabricar mais de 1 milhão de veículos elétricos por ano até meados desta década.
Vendas em queda
Até mesmo a Tesla, a principal produtora de carros elétricos dos EUA, mudou seus planos. Isso porque não espera mais que as vendas cresçam 50% ao ano.
As suas vendas globais caíram 6,6% nos primeiros seis meses do ano.
A empresa desacelerou seus planos de construir uma fábrica de carros elétricos no México e cancelou uma reunião em abril entre seu CEO, Elon Musk, e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, para discutir uma nova fábrica naquele país.
Recentemente, a fábrica da Ford em Oakville, Ontário (Canadá), deixou de produzir o utilitário-esportivo Edge, movido a gasolina, e estava programada para produzir novas versões elétricas do Ford Explorer e do Lincoln Aviator. Em vez disso, a Ford transformará a fábrica em um terceiro local de produção para sua picape Super Duty, um de seus modelos mais lucrativos.
O cenário de mudanças, segundo o presidente do Sinaceg, sugere que o Brasil deva continuar investindo em novas tecnologias, principalmente nos modelos híbridos.
“Os carros híbridos são mais limpos e superam a falta de logística que os motoristas têm para carregar os veículos”, Boizinho explica.
“Hoje, são a melhor opção para indústria, consumidores e o meio ambiente”, afirma, em conclusão.