Mania, Hábito, Costume.

In ABCD, Artigo On
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Por Marli Gonçalves*
Semana passada escrevi sobre a minha quase mania, como considerei, de contar coisas diversas nas ruas, mas apenas por pura distração.  Muitos leitores me escreveram dizendo que se divertiram lendo e acabaram me revelando algumas das suas particulares manias e coisas que também notaram, comuns. Seriam hábitos? Costumes? Tudo se funde e se confunde, enfim.

Falo mania de forma tranquila, mas bem sei que quando tratadas na área de saúde mental elas podem ser sérias, indícios de transtornos, como quem tem a de limpeza, verificação constante de portas e janelas, roer unhas ou até mais graves como a cleptomania. Podem, inclusive, trazer sofrimento. Pelo que entendo, a principal diferença entre hábitos e manias reside na frequência, intensidade e impacto na vida de cada um. Hábitos seriam ações repetitivas e regulares que fazem parte do dia a dia, enquanto manias seriam os comportamentos repetitivos, alguns incomuns, questões emocionais, e que podem ou não causar prejuízos.

Mas quero voltar ao bom humor: declaro, antes de mais nada, que nem tenho tempo de sair contando muitas coisas por aí. Aliás, já temos tantas atividades obrigatórias e aborrecimentos diários que tentar coisas bobas para distração é até saudável. Um exercício mental individual nesse que considero o templo da liberdade, o pensamento. O nosso silencioso e inexpugnável pensamento onde, se houver censura, somos nós mesmo que as fazemos quando eles, os pensamentos, são mais, digamos, fortes.

Problema mesmo é quando pensamos uma coisa, mas temos de nos calar ou dizer outra, dependendo da situação, seja para nos resguardar, por segurança, evitar embates ou mesmo preguiça de revidar. Pior é que o que tem de bobagem sendo dita, escrita, até defendida no nosso país nos últimos tempos tem tornado esse exercício quase uma capacidade teatral. Do meu ponto de vista, que quem me conhece sabe que expresso emoção no rosto claramente, não mover um músculo principalmente quando me tiram de inexperiente ou mesmo desinformada, chega a ser um sacrifício. Apelo para o lado atriz. Por exemplo – e não faltam exemplos – ouvir o irresponsável discurso antivacinas. Ou a opinião besteira de quem se acha de direita ou esquerda sem ter a menor noção do que é exatamente isso; só repete o que ouviu sabe-se lá onde, ou de algum desses malfeitores que se espalham de forma impressionante.

Enfim, acreditem, lembrando dos leitores que me contaram seus particulares hábitos legais, fiquei pensando mesmo foi em como andam as relações e entendimentos pessoais, como conseguem manter inclusive os seus casamentos. A esta altura da vida, às vezes admito que me sinto meio incapaz de construir novas convivências íntimas, que significariam mudanças em hábitos (ou seriam costumes? manias?), alguns até bem bobos. Reparei agora durante esse frio forte que atingiu São Paulo a deselegância da roupa que amo ficar em casa, que autodenomino vestida de monstrinho: roupas mais velhas e confortáveis, uma peça grita e a outra não escuta, Glorinha Kalil ficaria horrorizada, lúmpen total. Tá bem também que essas histórias de quem gosta de frio alegar que um dos motivos é o de que as pessoas andam mais elegantes nas ruas é pura bazófia. Cebolas ambulantes, que somos país de gritantes diferenças sociais.

Olha só: tudo isso só porque acordei hoje bem feliz no meu ninho, como de hábito. A cama totalmente desarrumada, quentinha, enroscada debaixo do edredom, nos meus lençóis de cetim que deslizam, a gata roncando aos meus pés. E isso é felicidade. Sei de quem – e até já vivi ao lado – não consegue de maneira alguma nem deitar se o lençol não estiver esticado, preso ao pé da cama. E tem quem deita e acorda na mesma posição, realmente notável.

Cada qual com sua mania, hábito, costume. Isso é liberdade e poder.

______________

MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano, Coleção Cotidiano, Editora Contexto. (Na Editorae na Amazon). Vive em São Paulo, Capital.

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