Joaquim Alessi
Há notícias que a gente jamais gostaria de publicar, mas é o dever do ofício.
O literalmente grande José Nello Marques, Zé Nello – como sempre o chamamos – deixa de nos brindar a partir deste 25 de janeiro de 2024 com sua possante e linda voz.
Aos 69 anos de idade, muito novo, portanto.
E, como sempre disse, em primeiro lugar, o também saudoso Rolando Boldrin, partiu, acima de tudo, muito antes do combinado.
Conheci Zé Nello, por exemplo, ainda nos bancos da escola de Jornalismo. A Fiam (Faculdades Integradas Alcântara Machado).
Ainda uma escola isolada, no Jabaquara, próximo à estação Conceição do Metrô.
Corria, em suma, o ano de 1976, a gente no primeiro ano, eu com 17 anos de idade. Zé Nello era mais velho, com 21 anos.
A voz dele já impressionava, acima de tudo. Potente, linda, limpa. Vinha do rádio da Grande Garça, região da qual ele costumava brincar que fazia parte Marília.
Claro, era, exatamente o contrário. E em Marília ele trabalhara, por exemplo, com o mito Osmar Santos e Oswaldo Maciel.
Na faculdade, matéria de radiojornalismo, ele, portanto, dominava.
Que voz!
Eu, muito besta, sugeri que produzíssemos um especial de rádio sobre meu grande ídolo de todos os tempos: Noel Rosa.
Levei vários discos – alguns em 45 rpm, cedidos pelo meu já saudoso sogro João Franco de Oliveira -, escrevi o roteiro e me imaginei ao microfone.
“Besta é tu”, cantariam os Novos Baianos.
Quando, no estúdio da escola, ouvi Zé Nello e outra voz estonteante – de Ederson Granetto, que por muitos anos fez sucesso na TV Cultura -, recuei.
Limitei-me à humilde condição de produtor, redator, seja lá o que for. Menos, locutor.
Havia uma menina também, cujo nome, peço desculpas, não consigo lembrar. Afinal, são quase 48 anos passados.
De colega a ídolo
Formados, cada um tomou seu rumo.
Ele já fazia sucesso na Jovem Pan, onde Rosana Alessi ouviu pela primeira vez os Trovadores Urbanos. E contratou o grupo para cantar, de surpresa, em meu aniversário.
Quase me matou do coração.
Continuei sempre ouvindo o Zé, vendo-o na tevê, babando ao pensar: foi meu colega de faculdade.
Em 2003 fui convidado por Marcelo Parada para ser editor-executivo da Rádio Bandeirantes.
E lá pude trabalhar ao lado de Zé Nello, que dava show no Manhã Bandeirantes.
Até entrevista em concedi a ele. Um pouco antes, em 2001, quando ainda era diretor de Redação do Diário Popular.
Depois, na Bandeirantes, quando levei Saul Gelman para falar de uma novidade surgida em Santo André: o Ombudsman da cidade.
Divergências…
Zé Nello, teria tantas outras histórias, causos, coisas da profissão para contar, mas a tristeza impede de forçar a lembrança.
Só desejo lembrar, em resumo, de fatos alegres, e das divergências quando o assunto era futebol.
Palmeirense pra lá de fanático, aí a gente batia boca mesmo, porque eu, são-paulino, não deixava barato.
Mas, essas são outras histórias.
Palestrino mesmo
Aliás, quatro dias antes de calar essa voz maravilhosa, Zé Nello aindar cornetou a arbitragem do Paulistão.
Ao comentar o pênalti em Lucas, no jogo São Paulo e Santo André, escreveu: “O pênalti inexistente para o São Paulo foi a primeira vergonha do Paulistão”.
Coisa de palestrino doente, né Grande Zé? Nem é preciso, além disso, dizer que recebeu inúmeras críticas… Menos de Haisem Abaki, outro genial colega, e palmeirense.
O velório será, portanto, nesta sexta (26.01), a partir das 9h, no Cemitério do Araçá, avenida Dr. Arnaldo, 300.
O sepultamento, em conclusão, às 15h, no mesmo local.
Um grande beijo, meu amigo Zé Nello!