Fevereiro. Sem Carnaval.

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Ilú Obá di Min

Por Marli Gonçalves*

Mais ou menos. Fevereiro chegou, e não vai me dizer que também não está surpreso. Mesmo com seus 31 arrastados dias, janeiro passou ventando e chovendo e trazendo, além de muitas contas a pagar, acontecimentos que, vou te contar, já arrepiaram até os mais otimistas, creio.

E se fevereiro é conhecido como o mês do Carnaval, neste ano a coisa andou para março, junto com as águas, e levando o refrão do País Tropical, de Jorge Benjor, pouco mais adiante. Mas, cá entre nós, isso por aqui não significa nada, uma vez que qualquer assunto quando entra no nosso território é carnavalizado, por tradição. Por aqui, Brasil, País dos Carnavais, incluindo todas as tradições que a festa carrega, religiosas ou pagãs, tem festa o ano inteiro.

Temos, aliás, o hábito das fantasias não necessariamente nas roupas, mas nos sonhos que cativamos, nos devaneios de nossa imaginação, e nos desejos. Questão de sobrevivência e saúde mental. Do jeito que a maré avança, fugir da realidade construindo realidades paralelas é uma forma de se salvar.

Nas redes sociais, por exemplo, podemos assistir, literalmente de camarote, a criação de vidas inteiras de fantasia. Fora isso, o uso da inteligência artificial vem proporcionando que encontremos, principalmente nas imagens, criações digitais absolutamente fantásticas e inimagináveis de serem produzidas rapidamente fora dos pincéis e telas dos artistas. Gatos gigantescos passeando pelas cidades, seres que se movem ao nosso olhar, velhas senhoras interagindo com cores e formas, estátuas que criam vida, surpreendentes propagandas em 3D projetadas nos prédios das maiores cidades do mundo. Um infinito de possibilidades salta aos olhos – basta abrir o Instagram e elas lá estarão, muitas vezes nos distraindo até do que mesmo fomos fazer ali. Parece não haver mais limites para essas fantasias que chegam a ressuscitar mortos, devolvendo o presente, às vezes um futuro. O Pelé outro dia mesmo apareceu mandando mensagem para o Neymar.  E olha que não faz muito nos surpreendíamos com simples holografias.

Voltando às nossas carnavalizações, este ano o Carnaval oficial cai de 1º a 4 de março. Por aqui em São Paulo há alguns anos o Carnaval, na forma de blocos de rua, ocupa a cidade bem antes, e continua inclusive no fim de semana seguinte. Este ano terá o recorde de 767 blocos inscritos e cerca de 860 desfiles. Fora os que saem por livre e espontânea liberdade. No Rio de Janeiro, que é o Rio, serão 482 blocos. E ainda tem, claro, as Escolas de Samba, os Sambódromos e, creio, ainda, alguns daqueles saudosos Bailes nos salões de Clubes. Sempre adorei ver o Gala Gay na tevê, mas agora se espalha pelas ruas, atrás dos trios elétricos.

Tudo parece ter mudado a ordem, onde era o “túmulo do samba”. Antes, nessa época, a cidade aqui virava um deserto, mais até do que no Natal e Ano Novo. Havia quase um êxodo pelas estradas e aeroportos. Nas ruas não se via sequer uma pluminha, um paetê, um brilhinho que fosse, fora da área das agremiações. Hoje? Tem até quem primeiro aproveite os blocos e depois viaje. Todos os lugares – ruas, ônibus, metrô – ficam completamente coloridos, todas as idades, corpos e desejos, repletos de anjos, asinhas, diabinhos e diabinhas, sereias, piratas, unicórnios com seus arco-íris, xuxas e paquitas e paquitos, memes ambulantes, críticas sociais. E pelados e peladas, muita nudez, carne de fora. A sempre censurada nudez, a nudez transformadora para os foliões e foliãs, tanto quando a possibilidade de se travestir do que quiser.

Já estão elegendo as fantasias do ano e, claro, a de Fernanda Torres recebendo o Oscar de melhor atriz por “Ainda Estou Aqui”, que torcemos seja anunciado em pleno Carnaval, dia 2, está à frente. Também veremos muitos trumps, e só assim pra a gente se divertir um pouco com esse assunto tão cabuloso.

Fevereiro, sem carnaval, tem carnaval. No país tropical. Que tudo transcorra em paz e com respeito. Não é não.

carnaval fevereiro

MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano, Coleção Cotidiano, Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo, Capital.

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