Estudantes de Diadema têm aulas de história e cultura afro-indígena de forma descontraída

In ABCD, Educação On
Fotos: Pedro Roque/PMD

Implementado em 2022, programa Diadema de Dandara e Piatã valoriza a história e cultura africana e indígena por meio de danças, jogos e brincadeiras

Ana Gabriela Freitas Silva, de 10 anos, cursa o 5º ano na Emeb Marieta de Freitas Martins, na Vila Ida, em Diadema, e tem um novo assunto predileto: o Maculelê, dança de matriz afro-indígena.
Mas, na verdade, como faz questão de dizer Ana, a dança tem origem em uma lenda antiga com pelo menos duas versões.
“A história é sobre um homem negro, ex-escravizado, que vivia em um quilombo. Um dia, ele ficou sozinho porque todos os homens saíram. O quilombo foi invadido e, como ele não tinha armas, pegou dois bastões, que a gente chama de ‘grima’, para lutar contra os invasores. Numa das versões ele acaba morrendo e, na outra, somente se fere”, explica, com muita facilidade, como se fosse uma narrativa que ouvisse todos os dias.
Na dança do Maculelê também são usados, da mesma forma, bastões, que fazem referência justamente à luta da lenda.

História em aula

A facilidade para falar sobre o Maculelê se justifica.
A estudante e seus colegas de turma ouviram a história durante uma das aulas do programa Diadema de Dandara e Piatã.
Iniciativa da Prefeitura de Diadema que assegura a efetivação das leis federais 10.639/2003 e 11.645/2008.
Elas estabelecem, por exemplo, a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro brasileira e indígena na educação básica.
Por meio do Dandara e Piatã, mais de 11 mil crianças do Ensino Fundamental da rede pública da cidade têm, da mesma forma, uma hora de aula por semana sobre esses temas.

Orgulho do conhecimento

“Eu sei bastante sobre essas lendas, presto muita atenção nas aulas”, afirma a menina, orgulhosa. Depois de aprender sobre a história que envolve o Maculelê, outra coisa que a estudante gosta muito de fazer é dançar o Maculelê com sua amiga de sala, Letícia da Silva Moraes, de 11 anos.
Letícia é outra apaixonada pela dança e pelas aulas do Dandara e Piatã.
E ela sabe muito bem porque é importante valorizar as culturas negra e indígena na escola.
“Tem muitas pessoas racistas e com o Dandara e Piatã a gente consegue aprender sobre essas culturas”, diz.
E complementa: “Eu acho muito importante saber mais da história africana, indígena. E saber que todo mundo é igual”.

Desde 2022

O programa, implementado desde 2022 na rede de Diadema, tem o objetivo de valorizar histórias e culturas historicamente invisibilizadas.
Utiliza, por exemplo, os jogos Mancala Awelé e o Jogo da Onça como caminho de vivência curricular.
Além dos jogos, o programa utiliza brincadeiras, leituras e atividades culturais, o que ajuda a engajar os estudantes.
Katia Maciel, professora do Dandara e Piatã que dá aula na Emeb onde Leticia estuda, explica qual o enfoque do programa: “O nosso papel com as crianças é apresentar, por um olhar menos europeu, como foi o processo de constituição do país, focado na valorização das culturas africana, indígena, raízes da história brasileira”.

Docentes selecionados na rede

Katia explica que os professores que fazem parte do Dandara e Piatã são selecionados, portanto, entre os docentes da rede.
“Nós passamos por um processo seletivo, que envolve prova, dinâmicas e entrevista. Trabalhamos de segunda a quinta nas escolas e na sexta temos formação na Secretaria de Educação”, explica.
Segundo a professora, o programa Dandara e Piatã cumpre de forma tão ampla as leis federais relacionadas à um formação da verdadeira história brasileira;
É um diferencial da cidade, em relação aos municípios brasileiros que ainda não organizaram um verdadeiro currículo, com carga horária e professores especialistas.
“Diadema está anos luz à frente nesse quesito por ter um programa como esse e que está presente em toda a sua rede”, explica.
“Eu me encontrei como ser humano primeiro na educação, que me fez entender que eu era uma pessoa, que tinha direitos, que poderia sonhar e realizar meus sonhos. E estar no Dandara, hoje, é um pertencimento que não tem medida porque estamos com os nossos, aprendendo sobre nós, tendo voz e tendo vez”, finaliza.
Além de atender diretamente 11 mil crianças do Ensino Fundamental da rede pública com o programa Dandara e Piatã, Diadema tem um Núcleo dos Estudos e Relações Étnico Raciais, o NERER, que congrega os profissionais da educação, a Coordenadoria da Igualdade Racial e lideranças do movimento negro.
Em diálogo constante, o Nerer ajuda, da mesma forma, na discussão e preparação de formações com coordenadores e professores de outros 8 mil estudantes da Educação Infantil, 8 mil da creche e 1,8 mil da EJA.

Apoio Pedagógico

Como forma de apoiar as atividades pedagógicas desenvolvidas nas escolas, faz parte do programa o envio às escolas de baú, apelidado de ‘Tesouros de Dandara e Piatã’.

Nele há 92 livros temáticos, além de tecidos africanos, instrumentos musicais e objetos pertencentes às culturas indígenas e africanas.

Sem contar lápis cor de pele, mapas da África, da Diáspora Africana que enfoca a localização original dos povos indígenas no Brasil, entre outros.

Mas, afinal, o que significa Dandara e Piatã?

O nome do programa, Diadema de Dandara e Piatã, junta, por exemplo, termos das culturas africana e indígena.
Dandara dos Palmares foi, acima de tudo, uma mulher forte e guerreira, lutou até o fim por um ideal, por um povo e por si mesma.
Sobreviveu à escravidão e liderou seu povo, lado a lado com Zumbi.

Já Piatã, em conclusão, é um termo de origem tupi, significa ‘pé duro’, ‘pedra dura’ ou ‘homem forte’.

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