No início de fevereiro, em um dos momentos mais críticos logo após a descoberta do novo coronavírus, o governo chinês entregou, em 10 dias, um centro de tratamento de 25 mil metros quadrados para receber pacientes diagnosticados com a COVID-19. O Hospital Huoshenshan, em Wuhan, epicentro do surto da doença, conta com aproximadamente mil leitos. Para o arrojado prazo de construção e entrega, estruturas pré-fabricadas foram utilizadas, além de quatro mil colaboradores e cem tratores.
Com o crescimento dos casos no Brasil, uma questão se abre: seria possível uma obra do mesmo porte no país? Para o engenheiro de obras do Grupo A.Yoshii, Paulo Alexandre Tomen, do ponto de vista técnico e de processos, o Brasil está apto para uma obra deste porte, mas questões burocráticas podem ser o entrave. O profissional explica quais as etapas necessárias a serem cumpridas para o sucesso de um projeto como este.
“A empresa e o gerente de obras à frente do projeto precisam ter um planejamento estratégico, alinhando suprimentos, recursos humanos e segurança do trabalho. Além disso, devem buscar um capital humano diferenciado. Para ter êxito em cumprir um cronograma ousado como esse, precisa-se de profissionais qualificados, que contribuam para que tudo ande conforme o esperado. O bom planejamento é a chave para não haver erros ou interferências”, afirma Paulo
Do projeto ao acabamento de uma obra, o Building Information Modeling (BIM), ou modelagem de dados de construção, já é uma realidade no Brasil. A tecnologia permite integrar todas as áreas envolvidas em um projeto numa única plataforma que reúne informações relativas às etapas produtivas, e pode auxiliar em uma construção arrojada como a de um hospital. “Tecnologias como a plataforma BIM são essenciais para o êxito do projeto. Por meio dela se verifica incompatibilidades, interferências entre as disciplinas envolvidas, levantamento de material, elaboração de sequenciamento e cronograma de obra. É imprescindível em obras desse tipo, e temos familiaridade com a ferramenta após o uso em algumas de nossas obras”, comenta o engenheiro, referindo-se aos projetos corporativos desenvolvidos pela construtora.
A construção modular pré-fabricada confere agilidade, produtividade e eficiência aos processos. “No Brasil já existem grandes obras sendo feitas nesse ritmo de produção, a exemplo do hospital em Wuhan. Várias empresas trabalham com a construção modular, onde se pré-fabrica uma edificação no chão fabril, e os módulos são transportados e montados no local desejado, agilizando o processo. É preciso ter em mente as particularidades de uma construção hospitalar como módulos preparados para cada ala, como raio-x, manejo de esgoto, entre outras necessidades”, diz o profissional.
No entanto, mesmo com todos esses recursos, para se construir um hospital desse porte no Brasil em 10 dias seria necessária uma ação conjunta de diversas empresas, como construtoras e fornecedores de insumos, e, também, do poder público. Ou seja, além do projeto arquitetônico e do planejamento de execução previamente desenhados, durante a execução da obra nada poderia dar errado do ponto de vista da disponibilização dos insumos, da integração entre todas as empresas envolvidas, da qualidade dos serviços e, também, do ponto de vista do meio ambiente (chuvas torrenciais e comportamento do solo, por exemplo).