Programa da Prefeitura ajuda, em primeiro lugar, a transformar a vida de pessoas de todas as idades
Joaquim Alessi
Os documentos revelam, acima de tudo, a data de nascimento, e não nos deixam mentir: 02 de maio de 1915.
Dona Josefa dos Santos exibe uma vitalidade que dificultaria acreditar em seus 108 anos de vida, prestes a completar 109, daqui a exatos 49 dias.
Ela recebeu a reportagem, por exemplo, na porta de casa, no Jardim Cruzeiro.
É de onde sai, portanto, toda terça-feira pela manhã para fazer os exercícios de Fisioterapia e as atividades do Programa Viver Bem, da Prefeitura de Mauá, nas instalações da Unidade Básica de Saúde (UBS) São João.
Cerca de 3 mil, em todos os bairros da cidade, participam, da mesma forma, do Viver Bem.
Ansiosa, esperava a hora de ir para a unidade. Para comemorar o Dia da Mulher, e tinha uma festinha para o grupo de idosos.
Estava, além disso, de unhas feitas, batom vermelho, perfumada e com um vestido de laise rosa choque.
Carregava sua bengala, mas percorreu a distância entre seu portão e o carro com razoável rapidez, para quem tem mais de 100 anos.
Equipe cuida há mais de 15 anos
Quem cuida da saúde da Dona Josefa é, em resumo, a equipe da unidade há mais de 15 anos, quando ela mudou para o bairro.
Antes era a médica clínica Nela Latorre e, agora, é a médica Carolina Moraes quem cuida do coração amoroso da idosa.
Lúcida, saudável, bem disposta e ágil, a única reclamação da Dona Josefa é com os pés, que doem. Segundo ela, não fosse isso, faria o que mais gosta: passear.
Ela chega e atravessa a unidade sendo cumprimentada por todos os funcionários e vizinhos de bairro, se dirigindo para a sala no fundo do prédio provisório.
Em breve, os encontros se darão no novo e maior prédio que está em fase final de construção bem ao lado.
Vestida para treinar
Depois de cumprimentar todo mundo, começam rápidos exercícios de alongamento, apenas para não perder o hábito.
Afinal, dona Josefa não veio vestida para isso. A fisioterapeuta Vania Aparecida da Silva a trata com todo carinho e explica a importância da terapia na vida da senhora.
“É a primeira vez que vejo uma paciente funcional e assídua com esta idade e a gente precisa adaptar algumas coisas para ela por conta da idade”, explica Vânia.
A fisioterapeuta destaca que além de fazer os exercícios sem reclamar, também executa em casa.
E a dor na coluna lombar que a levou para a terapia já foi resolvida. Toda a segurança para andar e se movimentar com mais de um centenário de Dona Josefa se deve em muito aos exercícios de fortalecimento muscular, treino de marcha e equilíbrio.
Assim, é possível evitar as quedas, que são tão arriscadas para a vida dos idosos.
Dona Josefa gostava de nadar e fez isso por dois anos no Ginásio da Prefeitura. Parou por causa da pandemia.
“Covid acabou comigo”
“A Covid acabou comigo, depois tive pneumonia, fiquei morre, mas não morre. Mas fiquei sozinha e isolada no hospital, com apenas uma pessoa cuidando de mim. E hoje estou aqui, graças a Deus, infelizmente morreu muita gente que não merecia”, avalia a idosa.
Em todos esses anos, disse ela, nunca tinha visto nada parecido na vida.
Ela gosta muito de plantas, de música e gostava muito de viajar e passear, quando podia.
“Antigamente, a nossa vida era só trabalho, só trabalho, só trabalho! Naquele tempo antigo a gente era que nem rebanho, trabalhava duro, na roça, ninguém tinha amor a ninguém, ninguém dava um beijo em ninguém, ninguém dava um cheiro em ninguém…”, lamenta.
“Hoje tá moderno, tudo claro, todo mundo se beijando… eu não tive esse prazer!”, completa às gargalhadas.
Nasceu na Bahia
Nascida em Entre Rios, na Bahia, ela ficou viúva há uns 30 anos do pai dos 10 filhos dela, o mais jovem com 40 anos.
Eles lhe deram, acima de tudo, 28 netos, que geraram 12 bisnetos.
“Os bisnetos? Nenhum me deu um tetraneto ainda”, reclama, em suma.
Dona Josefa divide o quintal com três casas com a filha também viúva Domingas Celestino Miranda e com a família do filho dela.
“Meu neto tem o temperamento da minha mãe, só faz o que tem vontade. Os dois são muito parecidos”, analisa Domingas.
Ela explica que a mãe tem muita autonomia e, quando está de “veneta”, até resolve cozinhar.
“A sopa que ela faz é uma delícia. E só ela sabe fazer ‘aquele’ feijão com jabá e a carne de panela. Só quando ela tá de bom humor. E fica muito bom!!”, elogia a filha.
Domingas também diz que a mãe é uma boa conselheira.
Tem dia que a idosa “nem quer conversa, é quando o mau humor ataca. Mas, aos 108 anos, ela tem direito… Quando ela precisa, meu sobrinho vem na hora buscar, porque ele é motorista de aplicativo e vem sempre que a vó precisa”, explica Domingas.
“Todo domingo vem uma turma aqui em casa, quando não é um é outro. Tenho dois filhos morando no Nordeste. Quando junta a turma é uma festa”, conta Dona Josefa, alegremente.
Inspiração
“A Dona Josefa serve de inspiração para a Unidade como um todo porque, a partir do momento que ela começou a frequentar a fisioterapia e o Viver Bem, ela agregou importância a esse trabalho. A medida que vemos a melhora dela, a resposta que ela dá e do bem estar que ela representa, ela atrai mais pessoas para as nossas atividades”, afirma, da mesma forma, a gerente da UBS São João, Silvia Helena Marangoni.
A Unidade do São João tem outras pérolas, por exemplo, como duas funcionárias que trabalham no local desde o início.
Terezinha de Jesus da Silva, responsável pela organização de mais de 50 mil prontuários de pessoas que já utilizaram o serviço, tem 34 anos dedicados com muito carinho a essa tarefa.
Laura Rudi, com 35 anos de trabalho, é a voz que liga diariamente confirmando as mais de duas mil guias de consultas e o comparecimento dos pacientes nas agendas médicas.
A expectativa é que após a inauguração da nova UBS São João, duas turmas de ginástica laboral sejam abertas para os próprios funcionários, em horários diferentes para que todos possam participar.
E também será implantado, em conclusão, mais um grupo do Programa Viver Bem.