Joaquim Alessi
Chega pela rede social de Adilson Torres dos Santos, o Sapão, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, a triste notícia do passamento de seu antecessor Benedito Marcílio, presidente da entidade no final dos anos de 1967 até o final de 1980.
Marcílio completara 87 anos de idade em 30 de março.
Deixa um legado de lutas, bravura, determinação e ousadia enquanto líder de uma categoria destemida, como a dos metalúrgicos.
Conheci Marcílio no início de 1978, quando ele foi escalado pela Convergência Socialista, grupo do movimento estudantil, para disputar uma cadeira de deputado federal.
Estive com ele em Santo André e depois em uma reunião na PUC, onde ele foi apresentado aos estudantes como aquele que viria a ser o primeiro operário a ocupar uma cadeira no Congresso Nacional, espaço até então impenetrável, permitido somente à classe dominante.
E os estudantes da década de 70 conseguimos de fato esse feito: elegê-lo deputado federal pelo MDB.
À época, o regime militar, ditadura, só permitia dois partidos no Brasil: Arena, dos donos de poder, e o MDB, a oposição consentida.
História controversa
Claro que a opção por Marcílio não foi fácil, muito menos por unanimidade, mas ele foi candidato e se elegeu.
Vários líderes estudantis da época e até gente do meio sindical o classificavam de “pelego”.
Ou seja, um sindicalista mais próximo de ceder aos caprichos dos patrões. Mas, com certeza, era necessário ter muito jogo de cintura naqueles tempos de ditadura militar brava.
Miguel Rupp, José Cicote e outros líderes que vieram na sequência tinham mesmo sérias divergências com Marcílio, mas nada que desabonasse sua história.
Até mesmo Dom Cláudio Hummes, o chamado “Bispo Vermelho” (que de vermelho só tinha mesmo a batina), às vezes discordava do líder.
E Dom Cláudio sempre estava ao lado da luta dos metalúrgicos do ABC, de Lula e companhia, ou melhor, companheirada…

Greve da Coferraz
Cobri a famosa greve da Coferraz, no começo dos anos de 1980, movimento liderado por Marcílio, funcionário da empresa.
Marcílio teve um papel heroico nessa luta, apesar de os resultados demorarem demais e não serem os mais satisfatórios para toda a peãozada.
Depois, comandou por muito tempo a entidade dos aposentados, com êxito.
Em conclusão, Benedito Marcílio foi um líder sindical que marcou a história da luta operária no ABC, e como tal deve ser lembrado e homenageado.
Em agosto de 2022, ele recebeu em casa líderes da categoria em Santo André e Mauá.
O então presidente Cícero Martinha, o hoje presidente Adilson Torres Sapão, Manoel do Cavaco e Osmar Fernandes, como mostra a foto.
Encontro reportado
Em reportagem no portal do Sindicato, o jornalista Fábio Bézza relatou esse encontro, quando Marcílio contava 84 anos.
“Que coisa boa ver vocês aqui”, disse, com um sorriso no rosto, o ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá Benedito Marcílio, 84 anos, numa ensolarada manhã de inverno do mês de agosto, ao receber o atual presidente Cícero Martinha, o vice-presidente Adilson Sapão, o secretário-geral Manoel do Cavaco e o diretor Osmar Fernandes Osmar Fernandes, em sua residência.
E Bézza relata com maestria:
“Num bate-papo, entre cafés, fotos, documentos e recordações espalhadas na mesa da sala, os companheiros, com fundo musical privilegiado pelo canto de um curió, lembraram momentos memoráveis que viveram na entidade.”
Pai de todos
“O Sindicato de Santo André e Mauá é o pai de todos os sindicatos metalúrgicos. A luta começou aqui”, afirma, em suma, Marcílio. “Depois da ditadura militar, na eleição seguinte, você e o Aurélio Peres foram os únicos dois operários eleitos em todo o Brasil”, lembra Martinha. ” Sim, se você perguntar para o Lula, ele vai responder que eu fui o primeiro operário eleito no Congresso”, confirma Marcílio, que foi deputado federal de 1978 a 1982 e presidente do Sindicato de 1967 a 1979.
Em outro momento: “Nós vamos fazer uma nova placa na Colônia de Férias, em Praia Grande, com o nome: Benedito Marcílio Alves da Silva”, anunci9a Martinha que na sequência comenta a importância do ex-presidente. “Você conseguiu o terreno, mobilizou toda categoria e construiu os primeiros andares”. Feliz com a notícia, Marcílio responde. “Assim você mata o velho do coração, é muita emoção,. obrigado.”
A certa altura da conversa, o anfitrião mostrou aos visitantes a homenagem que recebeu na comemoração dos 25 anos do fim da intervenção no Sindicato e pediu, em conclusão, para Manoel do Cavaco ler
“Seu ato de bravura jamais será esquecido pelos trabalhadores desta categoria.”