Por Marli Gonçalves*
BBBBilhão, já pensaram? Logo logo nessa toada vai ter reality show prometendo reajustar o prêmio para justificar a tortura de alguém aceitar ficar preso em um lugar controlado e repleto de câmeras 24 horas, convivendo com gente que não se gosta, na verdade, se odeia.
Ou poderemos ir a programas responder a questões quânticas no “Show do Bilhão”, “Quem quer ser bilionário?” – em breve. Nunca, e olha que tenho é tempo de vida, ouvi tanto falar em bilhão para cá e bilhão para lá. Devo ter perdido alguma parte da história. Milhão já é muito dinheiro. Bilhão são cem milhões. E nesse mundo de desigualdades tem chovido zeros, bilhões, para onde se olha. Vemos zeros se enfileirando como soldados. Cada bilhão tem 9 zeros: R$1.000.000.000,00. Não demora chegarão mais três zeros, e ouviremos o tilintar dos 12 zeros dos trilhões. Chamam isso de vasta escala da economia e da sociedade modernas.
Operação da Polícia Federal? Aprende bilhões nas mãos de uma só pessoa; isso, claro, além de tudo o que ela já comprou com milhões, dezenas de carros, joias, relógios, pedras preciosas, ouro, gastou por aí. Só no ano passado a PF aprendeu mais de R$4 bilhões de organizações criminosas, e olha que ainda não pegaram os peixes grandes, os tubarões. Nos últimos dias descobrimos o Banco Master e um golpe de 12 bilhões, mais um processo de lavagem de dinheiro para o PCC da ordem de R$6 bilhões, com iate, 49 imóveis, 257 veículos de luxo. Vai somando. Os Correios e sua péssima gestão precisam de R$ 20 bilhões até o fim do ano que vem para bancar a reestruturação da empresa, endividada até o pescoço.
Em agosto, a Operação Carbono Oculto, que parou a Avenida Faria Lima, pegou gente e devedores contumazes, com débitos superiores a R$ 26 bilhões. A Operação Poço de Lobato flagrou movimentações da ordem de R$ 70 bilhões em apenas um ano.
Ninguém mais aparece só como milionário. A bilionária brasileira Luana Lopes, de 29 anos, a mais jovem entre as mulheres mais ricas do mundo, tem uma fortuna anunciada de R$ 58,63 bilhões, o valor atual da empresa que criou há menos de dez anos, depois de abandonar a vida dura de bailarina.
O pau tá comendo no Congresso Nacional, que aprovou nesta quinta-feira o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) para 2026: prevê superávit de R$ 34,3 bilhões em 2026, o equivalente a 0,25% do produto interno bruto (PIB). Reserva – escandalosamente, atenção!- R$1 bilhão para o Fundo Partidário e mais R$ 4,9 bilhões para o Fundo Eleitoral. As emendas parlamentares continuam secretas e eles pretendem afundar o governo, cobrando todas já logo no primeiro semestre do ano que vem. Eleição gasta bilhão.
Aperta o cinto você aí, que por conta desses bilhões todos nem o reajuste do minguado salário mínimo, aquele que sustenta grande parte da população, está garantido. As pessoas já se esgoelam para sobreviver, cada vez mais. Não consigo deixar de lembrar do filme de 1969, que muito me marcou: “A Noite dos Desesperados” (They Shoot Horses, Don’t They? – que seria “Eles matam cavalos, não é mesmo?”, no original), dirigido por Sydney Pollack, com Jane Fonda e Michael Sarrazin. Premiadíssimo. À época da Grande Depressão americana, um concurso de dança oferecia 1.500 dólares como prêmio para o casal que conseguisse ficar mais tempo dançando. Sofrendo. Sangrando. Morrendo. Uma atrocidade levada em busca de algum dinheiro.
Hoje, na realidade – não é um concurso, nem cinema – um pouco dessa busca se repete entre os jovens das comunidades que dançam, mas na gíria. Vemos os seus corpos estendidos como recentemente no Rio de Janeiro, enquanto os chefões bailam por aí nos salões da sociedade, na política; nas nossas cabeças.
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– MARLI GONÇALVES – Jornalista, cronista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano, Coleção Cotidiano, Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo, Capital. marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
