História se passa em um campo de concentração nazista; tem apresentações gratuitas, portanto, ainda em Campinas, São Caetano, São Paulo e Ribeirão Preto
O espetáculo As Aves da Noite, drama teatral escrito por Hilda Hilst, há 57 anos, vencedor do Prêmio APCA 2022 de Melhor Espetáculo Virtual, tem apresentações gratuitas, em primeiro lugar, em cidades paulistas, incluindo a Capital.
Em São Caetano do Sul, por exemplo, as sessões são em 17.10, sexta, no Teatro Municipal Santos Dumont, às 18h e às 20h (nesta com intérprete de Libras).
A encenação se passa, em suma, em um campo de concentração nazista de Auschwitz e tem direção de Hugo Coelho.
O elenco é, além diso, formado por Marco Antônio Pâmio, Marat Descartes, Regina Maria Remencius, Rafael Losso, Walter Breda, Fernando Vítor, Marcos Suchara, Wesley Guindani e Heloisa Rocha.
A circulação iniciou por São Bernardo do Campo e segue até 02 de novembro com apresentações em várias cidades:
Campinas – Teatro Municipal José de Castro Mendes (16.10, às 20h);
São Paulo – Teatro Alfredo Mesquita (24 e 25, às 20h, 26.10, às 19h);
Ribeirão Preto – Teatro Municipal de Ribeirão Preto (01, às 20h, 02.11, às 18h).
Este projeto tem, por exemplo, o apoio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo e do Ministério da Cultura.
Tudo, em suma, por meio do Edital ProAC/PNAB nº 27/2024 de Difusão e Circulação de Projetos Artísticos Culturais.
História real
O enredo de As Aves da Noite parte, em primeiro lugar, da história real do padre franciscano Maximilian Kolbe.
Ele apresentou-se voluntariamente para ocupar o lugar de um judeu sorteado para morrer no chamado “porão da fome” em represália à fuga de um prisioneiro.
Segundo o diretor, Hugo Coelho, “esta é uma versão contemporânea do texto de Hilda. Não é uma reconstituição de Auschwitz, partimos de Auschwitz. O espetáculo é um grito contra a barbárie, contra o fascismo que usa a violência como instrumento de ação política”.
No porão da fome, a autora coloca em conflito, acima de tudo, os prisioneiros condenados a morrer na cela: o Padre, o Carcereiro, o Poeta, o Estudante e o Joalheiro, que são visitados pelo Oficial da SS, pela Mulher que limpa os fornos e por Hans, o ajudante da SS.
Na montagem, eles aparecem isolados, confinados, portanto, em gaiolas como um signo, uma alusão à prisão onde a história se passa.
“A primeira coisa que os governos totalitários e ditatoriais fazem ao prender alguém é destituí-lo de sua dignidade e submetê-lo ao sofrimento extremado, e isso os nazistas fizeram com requintes inimagináveis de crueldade”, comenta, em resumo, o diretor.
Segundo ele, a proposta de concepção de Hilda Hilst é muito clara, colocando as personagens em estado de reflexão sobre suas próprias condições no confinamento.
Questionamentos
A leitura que a autora faz dos aspectos éticos e humanos passa, além disso, por questionamentos sobre Deus, sobre o mal e sobre a crueldade.
Nos diálogos estão, da mesma forma, o embate entre a vida e o que lhes resta, os devaneios entre o desespero e o delírio.
O Poeta declama como se morto estivesse, o Estudante sonha com outro tempo, o Joalheiro ainda lembra-se da magnitude das pedras, enquanto a Mulher é humilhada em sua condição inferior.
O Carcereiro, mesmo sendo um condenado, ironiza a condição dos demais e os trata com escárnio; o SS os chama de porcos e os agride e menospreza, enquanto o estado de debilidade emerge da vida e da já não existência desses humanos subjugados.
Poética da tragédia
A montagem de As Aves da Noite busca elucidar a humanidade e densidade contida no texto, mergulhando nas possibilidades inesgotáveis do drama para emergir na poética da tragédia.
“O discurso racional não dá conta da realidade. A arte tem o papel de traduzir esse discurso como uma segunda realidade que passa pela razão, mas também pelo sensorial e pela emoção”, reflete Hugo Coelho. “E temos a sorte de reunir um elenco de extrema grandeza. O talento desses atores é um pilar fortíssimo no resultado final do trabalho”.
Sobre o texto, Hilda Hilst falou: “Com As aves da noite, pretendi ouvir o que foi dito na cela da fome, em Auschwitz. Foi muito difícil. Se os meus personagens parecerem demasiadamente poéticos é porque acredito que só em situações extremas é que a poesia pode eclodir viva, em verdade. Só em situações extremas é que interrogamos esse grande obscuro que é Deus, com voracidade, desespero e poesia”.
O cenário, que traduz o cárcere com gaiolas humanas, foi concebido pelo diretor.
O figurino (de Rosângela Ribeiro) faz alusão aos uniformes de presidiários, reforçando a imagem do encarceramento.
A iluminação (de Fran Barros) dá foco a cada personagem, reforça o clima denso e claustrofóbico do ambiente.
Trilha sonora
A trilha sonora, assinada por Ricardo Severo, traz uma canção original do texto que remete à tradição judaica, cantada pelas personagens, e segue a mesma orientação da iluminação. Hugo Coelho afirma que o propósito é trazer à cena o discurso poderoso e contundente de Hilda Hilst.
“As Aves da Noite nos faz encarar toda a barbárie do poder, do domínio, do autoritarismo, das torturas nos porões das ditaduras. Auschwitz é uma ferida aberta na humanidade para a qual é difícil encontrar palavras que a qualifique. As Aves da Noite mostra o reverso, o outro rosto da humanidade, perverso, doente e profundamente violento. Não podemos permitir que a violência e a barbárie continuem sendo normatizadas ao longo da história”, finaliza o encenador.
As Aves da Noite, idealizado pelo produtor Fábio Hilst, teve sua primeira temporada apresentada virtualmente, devido à pandemia da covid-19.
Foi gravado em vídeo, 80 anos após a morte de Maximilian Kolbe, exatamente no momento em que o mundo vivia uma experiência de confinamento.
Kolbe morreu em Auschwitz, em 1941, e foi canonizado em 1982, pelo Papa João Paulo II.
São Maximiliano é considerado padroeiro dos jornalistas e radialistas e protetor da liberdade de expressão.
FICHA TÉCNICA
Texto: Hilda Hilst (1968).
Direção: Hugo Coelho.
Elenco: Marco Antônio Pâmio (Pe. Maximilian), Marat Descartes (Carcereiro), Regina Maria Remencius (Mulher), Walter Breda (Joalheiro), Rafael Losso (Estudante), Fernando Vítor (Poeta), Marcos Suchara (SS), Wesley Guindani (Hans) e Heloisa Rocha.
Direção de produção: Fábio Hilst.
Assistência de direção e produção: Fernanda Lorenzoni.
Cenografia: Hugo Coelho.
Figurino e objetos de cena: Rosângela Ribeiro.
Desenho de luz: Fran Barros.
Música original e desenho de som: Ricardo Severo.
Cenotecnia: Wagner José de Almeida.
Serralheria: José da Hora.
Pintura de arte: Alessandra Siqueira.
Assistência de cenotecnia: Matheus Tomé.
Confecção de figurino: Vilma Hirata e Natalia Hirata.
Fotos: Priscila Prade e Heloísa Bortz.
Design gráfico: Letícia Andrade.
Gerenciamento de mídias sociais: Felipe Pirillo.
Assessoria de imprensa: Eliane Verbena.
Produção: Três no Tapa Produções Artísticas.
Realização: Fomento CultSP, Governo do Estado de São Paulo através da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura, Ministério da Cultura, Governo Federal – União e Reconstrução.
Serviço | Programação
Espetáculo: As Aves da Noite
Duração: 75 min. Gênero: Drama. Classificação: 16 anos.
Ingressos: Gratuitos – Bilheterias dos teatros: 1h antes das sessões.
Ingressos antecipados: Sympla – www.sympla.com.br (reserva no início de cada semana); exceto em Ribeirão Preto, pela https://megabilheteria.com.
Teatro Municipal José de Castro Mendes – Campinas
Dia 16 de outubro – Quinta, às 20h
Rua Conselheiro Gomide, 62 – Vila Industrial. Campinas/SP.
Tel.: (19) 3272-9359. Capacidade: 760 lugares.
Sessão com Intérprete de Libras e bate-papo com o público.
Teatro Municipal Santos Dumont – São Caetano do Sul
Dia 17 de outubro – Sexta, às 18h e às 20h
Avenida Goiás, 1111 – Centro. São Caetano do Sul/SP.
Tel.: (11) 4221-8347. Capacidade: 370 lugares.
Intérprete de Libras: sessão das 20h.
Teatro Alfredo Mesquita – São Paulo
Dias 24, 25 e 26 de outubro – Sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h
Avenida Santos Dumont, 1770 – Santana. São Paulo/SP.
Tel.: (11) 2221-3657. Capacidade: 198 lugares.
Intérprete de Libras, audiodescrição e bate-papo com o público: 26.10 (domingo).
Teatro Municipal de Ribeirão Preto – Ribeirão Preto
Dias 01 e 02 de novembro – Sábado, às 20h, e domingo, às 18h
Praça Alto do São Bento, s/nº – Campos Elísios. Ribeirão Preto/SP.
Tel.: (16) 3625-6841. Capacidade: 515 lugares.
Intérprete de Libras e bate-papo com o público: 02.11 (domingo).
