Dólar e juros disparam, Ibovespa cai com pressões do petróleo e incertezas fiscais

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Fechamento de mercado da semana e análise do dólar | por Luiz Felipe Bazzo, CEO do transferbank

Ibovespa

O Ibovespa, principal índice da B3, refletiu as tensões tanto internas quanto externas, encerrando a segunda-feira (02) aos 125,6 mil pontos, após um pregão marcado por forte volatilidade. Apesar das altas nas ações de grandes empresas como Vale e Petrobras, o índice não conseguiu se sustentar em terreno positivo. O recuo nas ações de grandes bancos foi o principal fator de peso sobre o Ibovespa. As ações da Azul também despencaram 6,90%, registrando a maior queda do dia, pressionadas pela alta do dólar, uma vez que a companhia aérea possui grande parte de suas dívidas atreladas à moeda americana.

O Ibovespa operou na terça-feira (03), após o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre do Brasil agradar o mercado. A principal referência da B3 avançava 0,70%, aos 126.107,15 pontos, depois de oscilar entre a máxima de 126.417,20 pontos e a mínima de 125.233,45 pontos. O PIB brasileiro registrou alta de 0,9% no terceiro trimestre de 2024 ante o segundo trimestre de 2024, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado veio ligeiramente acima da mediana das estimativas dos analistas consultados pelo Projeções Broadcast, que apontavam alta de 0,8%.

A economia brasileira segue robusta, mas esse quadro deve se alterar entre o fim de 2024 e o próximo ano. O ciclo anterior da política monetária, que havia viabilizado taxas de juros menores, pode ajudar a explicar o bom desempenho. Tendo em vista a pressão das expectativas de inflação e o dólar elevado, o Banco Central deve adotar uma política monetária mais contracionista, com alta expressiva da Selic, propiciando um período de desaceleração da atividade.

O Ibovespa operou em torno dos 126,1 mil pontos na quarta-feira (04). O presidente Lula se encontrou com ministros e outras autoridades para discutir temas de grande importância econômica. Além de Haddad, o presidente reuniu-se com Carlos Lupi, da Previdência Social, Rui Costa, da Casa Civil, e com o próprio Braga, para avaliar o andamento da proposta. A expectativa é que a reforma seja concluída ainda neste ano. Na agenda do presidente, além das reuniões com ministros, estava prevista uma participação no Conselho Geral da Confederação Sindical Internacional (CSI). Esse encontro também gerou especulações sobre novas diretrizes para a economia brasileira.

O Ibovespa operou em alta de mais de 1% na sessão de quinta-feira (05), em parte devido ao otimismo com o discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano) e em parte devido à aprovação do regime de urgência para duas propostas do pacote fiscal pela Câmara. As questões tratadas envolvem a limitação da utilização de créditos tributários em caso de déficit nas contas públicas e o alinhamento do modelo de reajuste do salário mínimo à regra de despesas do arcabouço fiscal. Com os ajustes necessários, há uma menor pressão sobre juros e inflação.

O Ibovespa operou em queda na sessão desta sexta-feira (06), com o mercado repercutindo os dados do payroll, relatório de empregos no setor privado não agrícola dos Estados Unidos. Segundo o Departamento de Trabalho, os EUA criaram 227 mil vagas em novembro, acima da mediana das expectativas que apontavam para a criação de 211 mil vagas. Em outubro, esse número foi de 36 mil (revisado para cima de 12 mil). Entretanto, foi um registro atípico, reflexo das consequências do furacão Milton na Flórida e da greve dos funcionários da Boeing. A criação acima da expectativa afasta ainda mais os temores levantados em agosto por Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), durante seu discurso em Jackson Hole, sobre um mercado de trabalho mais fraco. O Ibovespa também se depreciou devido à commodity, acompanhando outras divisas ligadas ao petróleo.

Câmbio

O dólar atingiu na segunda-feira (02) um novo recorde, superando a cotação de R$ 6 registrada na sexta-feira (29), que até então marcava o maior valor histórico. A moeda americana encerrou o pregão cotada a R$ 6,07, em um cenário de contínua valorização, impulsionada pelas crescentes incertezas fiscais no Brasil. O mercado reagiu negativamente ao pacote de ajuste fiscal apresentado pelo governo na semana passada, o que elevou o clima de desconfiança. Além disso, a ameaça de Donald Trump de impor uma tarifa de 100% sobre o Brics – bloco do qual o Brasil faz parte – caso o grupo adote alternativas ao dólar nas transações comerciais adicionou mais pressão sobre o câmbio.

Depois de bater seu quarto recorde consecutivo na segunda-feira (02), o dólar abriu em queda na terça-feira (03), com ausência de pressão lá fora, chegando a ser cotado a R$ 6,032, mas limitou perdas e ficou estável até que, no final da manhã, voltou a subir. Contudo, após a divulgação do relatório de empregos americano JOLTS, que apontou aumento de demissões e diminuição de contratações, limitou ganhos e passou a cair. Por fim, fechou em queda, seguindo o movimento no exterior.

Ao final dos negócios, a moeda americana caía 0,19% e era cotada a R$ 6,057. Lá fora, o dólar recuava 0,13% contra moedas pares, enquanto desvalorizava 0,17% contra o peso mexicano e estava praticamente estável contra o rand sul-africano, moedas consideradas semelhantes ao real. No mesmo dia, foi divulgado que o número de vagas de trabalho abertas nos Estados Unidos subiu para 7,7 milhões em outubro, diante do número revisado de 7,4 milhões em setembro, segundo dados do relatório. Os analistas esperavam que o número de vagas abertas fosse mantido em 7,4 milhões. Já o volume de contratações caiu levemente para 5,3 milhões no mês, de 5,6 milhões no mês anterior. As demissões subiram para 3,3 milhões, de 3,1 milhões em setembro. Os dados apontam um mercado de trabalho em processo de desaquecimento. Além disso, dois membros do banco central americano (Federal Reserve, o Fed), Adriana Kugler e Mary Daly, disseram hoje que a inflação no país estaria convergindo para 2%.

O mercado de câmbio teve na quarta-feira (04) a segunda sessão seguida de relativo alívio no Brasil, com o dólar fechando em leve baixa, ainda que acima dos 6,00 reais, refletindo o recuo da moeda norte-americana ante outras divisas durante boa parte do dia, enquanto o pacote fiscal do governo Lula seguia no foco dos investidores. O dólar à vista fechou o dia com queda de 0,26%, cotado a 6,0469 reais, após ter atingido na segunda-feira o maior valor nominal de encerramento da história, de 6,0652 reais. No ano, a divisa dos EUA acumula elevação de 24,64%.

O dólar teve baixa ante o real na quinta-feira (05), em linha com as quedas nos mercados globais, à medida que investidores ainda digeriam dados sobre os Estados Unidos divulgados na véspera e acompanhavam a tentativa do governo brasileiro de aprovar seu pacote fiscal ainda neste ano. O real foi beneficiado por um recuo amplo da moeda norte-americana no exterior, conforme investidores ainda avaliavam dados da véspera que reforçaram o cenário de desaceleração gradual da economia dos EUA, o que pode favorecer maior afrouxamento monetário pelo Federal Reserve.

Números da ADP mostraram que foram gerados 146.000 empregos no setor privado dos EUA em novembro, após avanço revisado para baixo de 184.000 em outubro. Era previsto que o emprego privado aumentasse em 150.000 vagas após um salto de 233.000 em outubro. Os pedidos iniciais de seguro-desemprego nos EUA esta semana ficaram em 224 mil, acima da expectativa de 215 mil. O gatilho para essa recuperação foi a aprovação, pela Câmara dos Deputados, do regime de urgência para o aguardado pacote fiscal do governo, que visa cortar gastos públicos. Com a aprovação, o projeto será votado diretamente no plenário, sem a necessidade de passar pelas comissões temáticas, acelerando sua tramitação. O mercado reagiu de forma otimista, visto que o pacote de medidas fiscais promete uma economia de até R$ 70 bilhões até 2026. Embora o montante seja considerado insuficiente pelo mercado, a sinalização do governo demonstra que a questão fiscal foi finalmente colocada como prioridade. A expectativa de maior controle das contas públicas anima os investidores.

O dólar teve alta frente ao real nas negociações desta sexta-feira (06), recuperando algumas das perdas das três últimas sessões, com investidores à espera de novos dados de emprego dos Estados Unidos em busca de sinais sobre a trajetória da taxa de juros do Federal Reserve.

O resultado do payroll compõe a base de dados necessária para o Fed definir sua decisão de política monetária neste mês. Dados desta semana mostraram uma desaceleração gradual no mercado de trabalho, o que consolidou as apostas de um corte de 25 pontos-base nos juros. Agentes financeiros ainda precisam seguir observando os anúncios do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, cujas promessas de campanha, incluindo tarifas e cortes de impostos, são consideradas inflacionárias por analistas, o que pode impactar na trajetória da taxa de juros do país. Por trás dos recordes está a contínua preocupação dos investidores com a trajetória das contas públicas, principalmente depois do duplo anúncio do governo de um pacote de medidas de contenção de gastos e de um projeto de reforma do Imposto de Renda. A divulgação dos dados de mercado de trabalho dos Estados Unidos, o payroll, veio acima das expectativas.

*Luiz Felipe Bazzo é CEO do transferbank, uma das 15 maiores soluções de câmbio do Brasil. O executivo também já trabalhou em multinacionais como Volvo Group e BHS. Além disso, criou startups de diferentes iniciativas e mercados tendo atuado no Founder Institute, incubadora de empresas americanas com sede no Vale do Silício. O executivo morou e estudou na Noruega e México e formou-se em administração de empresas pela FAE Centro Universitário, de Curitiba (PR), e pós-graduado em finanças empresariais pela Universidade Positivo.

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