Conheça a Casa Beth Lobo

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Foto: Pedro Roque/PMD

Neste aniversário da Lei Maria da Penha, veja como funciona a Casa Beth Lobo – Centro de Referência de Atendimento às Mulheres em situação de violência, que funciona há 32 anos em Diadema

O órgão, ligado à Secretaria de Assistência Social e Cidadania (SASC), presta atendimento psicossocial, orientação jurídica, oferece realizações de rodas de conversa entre as mulheres, além de realizar atividades socioeducativas de caráter preventivo sobre as temáticas de equidade de gênero e raça, violência contra a mulher, cidadania e direitos humanos.

Conversamos com a atual coordenadora da Casa, a assistente social Amanda Pankararu:

Como surgiu a Casa no município?
A construção de uma política pública com objetivo de responder às demandas das mulheres nasceu no bojo de um projeto sociopolítico que tinha o compromisso de construir diretrizes de ações em diversas áreas e isso se deu em uma das primeiras gestões do Partido dos Trabalhadores em conjunto com os movimentos de mulheres e movimentos feministas.

Na ocasião da elaboração da Lei Orgânica do Município, uma emenda popular sobre os Direitos da Mulher foi referendada e aprovada, estabelecendo a criação da Coordenadoria Municipal da Mulher. Entre as suas atribuições, destacava-se a política de combate à violência contra mulher, sendo a coordenadoria vinculada ao gabinete do prefeito, com autonomia administrativa e financeira na sua atuação, com a função de gerenciar a Casa de Apoio a Mulher Vitima de Violência.

Assim, a gestão e o movimento de mulheres passaram a procurar um espaço adequado para estabelecer o serviço, no centro da cidade, e realizaram estudos para estabelecer o funcionamento, critério de atendimento e o nome da casa. Diante da morte da socióloga e ativista Elisabeth de Souza Lobo Garcia (15/03/1991) e seu histórico de luta, foi sugerido que o nome do serviço a homenageasse. Portanto, no dia 11 de maio de 1991, como resultado da mobilização coletiva e reivindicações dos movimentos sociais, inaugurou-se a Casa Beth Lobo, hoje ligada à Secretaria de Assistência Social e Cidadania (SASC)

Quantos atendimentos o espaço fez em 32 anos?
O serviço nesses 32 anos já passou por diversos impactos, tanto de desmonte quanto de fortalecimento da política para as mulheres. Desse modo, esse número também teve significativas variações. Mesmo assim, nesses 32 anos a estimativa é de que foram realizados mais de 26 mil atendimentos. Atualmente, acompanhamos uma média de 115 mulheres por mês.

O serviço oferece acolhida em caso de a vitima deixar o local onde sofre a violência?
Em casos de risco de morte iminente, no qual a mulher não tenha outra alternativa de local seguro, é ofertada a inserção no Programa Casa Abrigo, programa que é gerido e mantido pelas cinco cidades do Consórcio ABC. São vagas destinadas às mulheres e seus filhos crianças ou adolescentes, em local sigiloso.

Fale um pouco sobre a Casa Beth Lobo ter sido um dos 20 projetos vencedores do Prêmio Objetivos do Desenvolvimento do Milênio.
Compreendemos que desenvolver o fortalecimento e autonomia das mulheres é uma das ações primordiais para que alcancemos uma sociedade livre das opressões e da desigualdade de gênero. É perceptível que a atuação da Casa Beth Lobo no município tem impactos efetivos no enfrentamento da violência de gênero e, inclusive, destacamos que nunca houve feminicídio entre as mulheres atendidas pelo serviço em todos esses anos da Casa Beth Lobo.

Quanto tempo trabalha com mulheres vítimas de violência?
Atuo na política de assistência social há 10 anos e constantemente a demanda de violência contra mulher está imbricada como uma das expressões da questão social. Desse modo, com minha identificação com a luta, minhas intervenções profissionais sempre tiveram um olhar sensível para a violência de gênero. Já estive atuando com essa demanda em outros municípios, mas em Diadema atuo há três anos especificamente no Centro de Referência à Mulher em Situação de Violência Doméstica – Casa Beth Lobo.

Nesse período, quais os principais medos ou questões apresentados pelas vitimas?
Como a violência contra mulher é resultado da desigualdade de gênero gerada por uma construção social que naturaliza a servidão feminina e a dominação aos homens, as mulheres apresentam principalmente: constrangimento e vergonha por se identificarem enquanto vitimas; medo de morrer; preocupação dos prejuízos gerados pela violência aos filhos e/ou familiares; receio sobre os impactos socioeconômicos; impunidade do agressor; entre outros.

Algum caso marcou sua vida profissional?
Como o enfrentamento da violência contra mulher é atravessada pelos fatores estruturais, os casos que apresentam superação da violência, mesmo que momentaneamente, são sempre marcantes. Principalmente quando identificamos que a mulher conseguiu coletivizar o debate e construir a compreensão da importância de fortalecer outras mulheres.

Qual conselho deixa para as mulheres vítimas de violência?
Não há justificativa para violência contra mulher, portanto a culpa por quaisquer violências de gênero sofridas nunca é nossa. Essa violência é complexa e mantida estruturalmente, por isso busquem atendimento especializado, pois o apoio profissional poderá ser um caminho para a superação da violência.

Casa Beth Lobo: Rua das Turmalinas, 35 – Centro, Diadema
Horário: de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h – Tel: (11) 4043-0737

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