Mais vasto era o seu coração

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Guttemberg Guarabyra

Tenho um amigo que nasceu num 7 de setembro. Outro, no Dia de Finados.

Ter o dia do aniversário arrolado como data importante, é, digamos, diferente.

O meu tem uma trajetória interessante. Era um dia de aniversário como outro qualquer, até que foi promovido a feriado.

Quando seu dia de nascimento é, desde que nasceu, data especial não só para você, que valha festejos públicos ou até de lamentáveis fatos históricos, você se acostuma.

Porém se no meio da vida a data muda de caráter, de importância, de astral, você sente o efeito.

Tenho um amigo que nasceu num 7 de setembro. Outro, no Dia de Finados.

O que nasceu no Dia de Finados é, para marcar ainda mais o tormento de ter nascido num dia irremediavelmente funesto, órfão de pai.

Contou-me que, apesar de jamais ter comentado com a mãe, carrega consigo uma espécie de trauma por ter sido obrigado durante toda a infância a acordar cedo no dia do aniversário, engraxar os sapatos, escolher a melhor roupa e, pensam que para comemorar a data? Enganam-se. O lustro se destinava unicamente a, em companhia da viúva, abrir o dia diante da sepultara do pai.

Mais tarde, velas e bolo. Mas metade do astral já havia se esvanecido pela manhã.

Nessa data querida… Que ironia sinistra.

‘Nunca morrer num dia assim de um sol assim…’

Já Bilac, autor dos versos do Hino à Bandeira, preocupava-se mais com o dia da partida.

Nem sei a razão, já que, morto, as preocupações cessam, e você não faz nem sequer ideia se compareceram ao seu enterro.

Vinícius tinha preocupação afins, mas com fundo econômico.

‘Quem pagará o enterro e as flores se eu me morrer de amores…’

A história das datas, as datas da história e as consequências e os imbróglios do calendário em nossas vidas são repletas de sentimentos guardados, lembranças.

E de registros em cartórios.

Minha data de nascimento, 20 de novembro, era um dia normal até virar Dia da Consciência Negra. Já foi feriado nacional e hoje só dá folga pra piquenique em alguns municípios.

Um dia antes, no 19, é Dia da Bandeira. Uma véspera ilustre, promovida pelos versos de Bilac.

No dia 24, morreu Kennedy. Assassinado em Dallas.

Mas o que mais gosto de associar ao meu dia é que na exata data em que nasci, 20 de novembro de 1947, uniam-se em casamento o príncipe Philip e a Rainha Elizabeth.

Passa-me em todo aniversário o filme que encontrei no Youtube. Ela e Philip no casório. E sempre imagino que, naquela mesmo momento, lá no distante sertão, eu berrava a plenos pulmões o primeiro grito de vida.

Que descanse em paz, querida rainha que não era minha, mas que reinou sobre um mundo, mundo, vasto mundo, como dizia Drummond.

Mais vasto era o seu coração.

Música do dia

 

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