Madeira na construção é tendência, mas falta floresta plantada

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Silvio Lima

Para aproveitar oportunidade lucrativa e sustentável, Brasil terá que resolver equação complicada

Silvio Lima*

Com o alerta da urgência nas mudanças climáticas, a construção civil está sendo pressionada a repensar suas práticas no mundo com propostas cada vez mais sustentáveis. O setor é um dos que mais produzem resíduos sólidos, líquidos e gasosos, usa areia retirada de rios para fazer o concreto e tem impacto enorme em atividades de extração no meio ambiente. Nesse cenário, a alternativa mais sustentável é a madeira, uma matéria prima renovável, quando é extraída de forma responsável.

Em um estudo recente sobre o uso de madeira ou aço na construção civil, a pesquisadora Josephine Carstensen, engenheira do MIT (Massachusetts Institute of Technology), aponta a madeira como tendência em grandes construções, com potencial para reduzir as emissões globais de carbono do mundo. “Há um grande interesse na indústria da construção civil em estruturas de madeira maciça”, analisa a pesquisadora sobre o setor que ela mesma define como “um grande emissor de gases de efeito estufa que passou despercebido nas últimas décadas”.

Essa tendência deve aumentar depois da pandemia, quando os temas de saúde e de sustentabilidade passaram a ter mais atenção.  Um relatório publicado pela Dodge Data and Analytics – World Green Building Trends 2021 – confirma que grande parte das empresas têm planos de aumentar a atividade de construção sustentável até 2024. A expectativa é que até 2024, 42% das empresas planejem mais de 60% de seus projetos usando as melhores práticas de construção verde.

Os motivos são sociais e financeiros, custos operacionais mais baixos, regulamentações ambientais e preocupação com a mudança climática. Segundo o relatório, um edifício verde pode reduzir os custos operacionais nos primeiros 12 meses em 10,5% e, ao longo de um período de cinco anos, em 16,9%. Para reformas e retrofits, os retornos são ainda maiores.

No Brasil, a construção de casas e prédios de madeira está se tornando realidade entre startups atentas às exigências do mercado e dos clientes por princípios ESG e de sustentabilidade. Com um déficit habitacional de 8 milhões de unidades, e um PIB de construção crescente, a demanda abrirá espaço para construções mais rápidas, mais eficientes e mais verdes. Uma oportunidade para obras de madeira e para toda a cadeia de floresta plantada.

Mas para aproveitar essa oportunidade, o Brasil terá que resolver uma equação complicada. Para se ter uma ideia, em 2021, o PIB da construção cresceu 9,7%, após uma queda de 6,3% em 2020. Foi o melhor desempenho desde 2010, quando o PIB do setor cresceu 13,1%. Ao mesmo tempo há um grande déficit na produção de madeira certificada.

Segundo o Serviço Florestal Brasileiro (SFB), no Brasil são extraídos 11,45 milhões de metros cúbicos de madeira tropical oriunda de florestas naturais, o que é predatório e ilegal. Essa oferta deve cair 64%, para 5 milhões de metros cúbicos até 2030, com o aumento da conscientização ambiental. Nesse mesmo período, segundo a SFB, a demanda de madeira deve quadruplicar, chegando a 21 milhões de metros cúbicos ao ano, gerando um déficit de 16 milhões de metros cúbicos.

Essa diferença deve provocar um apagão na produção de madeira para a construção civil, enquanto a construção de casas e prédios de madeira está em alta no mundo, abrindo grandes oportunidades para a produção de floresta plantada no Brasil.

Haverá uma demanda mundial para construções com certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), um sistema internacional de certificação ambiental para edificações utilizado em mais de 160 países que tem entre suas exigências o uso de materiais sustentáveis, como madeira nobre com procedência comprovada de extração.

Construções em madeira de florestas plantadas têm outras vantagens, além de sequestrar carbono e da eficiência na produção. Menos uso de água; redução no gasto de energia na produção e na obra; baixo desperdício de material e de mão de obra; e mais rapidez nas construções também estão entre os ganhos da madeira nesse setor.

A oportunidade da construção civil verde para a economia brasileira está desenhada. Para que esse sonho efetivamente se torne realidade, é essencial incentivar o manejo sustentável de florestas no país. Isso, somado a uma regulamentação séria e ao financiamento oficial em larga escala, podem elevar o Brasil a um novo patamar de negócios.

Silvio Lima, administrador de empresas pós-graduado em Gestão Empresarial pelo INPG, é especialista em madeiras e gerente da unidade industrial da multinacional brasileira Montana Química

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