E-book “Linguagem Inclusiva – Para Além do Todes”, da linguista e professora Vivian Rio Stella, traz orientações e dicas práticas
O tema nunca foi tão atual. O uso da linguagem neutra e da linguagem inclusiva vem ganhando cada vez mais força mundo afora. De acordo com pesquisa global recente da Adobe com clientes, 61% dos entrevistados consideram importante inclusão e diversidade na publicidade. Outro estudo, do Glassdoor, aponta que 76% das pessoas que buscam emprego veem a diversidade como fator relevante ao avaliar empresas e considerar oportunidades.
Por conta da grande demanda sobre o tema, a linguista e professora Vivian Rio Stella criou o e-book “Linguagem Inclusiva – Para Além do Todes”, com orientações e dicas práticas. Segundo ela, o livro digital tem a intenção de mostrar que linguagem inclusiva não é sobre usar o “e” no final de todas as palavras, é sobre respeito, letramento, sobre como as pessoas podem se apropriar de outras formas de expressão.
Vivian comenta que o tema gera muitas dúvidas. “As pessoas se sentem desconfortáveis muitas vezes perante frases e expressões que sempre usaram e nunca acharam que eram de conotação preconceituosa. E são”, afirma. De acordo com a linguista, a intenção do e-book é trazer letramento para as pessoas, para que elas possam estar melhor informadas.
Ciência da linguagem
A professora comenta que existem muitos manuais de linguagem inclusiva circulando nas redes sociais e grupos de whatsapp. “Procuramos fazer o trabalho com a visão pautada pela língua, linguagem, linguística, que é a ciência da linguagem. Buscamos vários exemplos e, além dos exemplos, quisemos trazer discussões sobre a importância desse assunto para a educação. Trazer mais conteúdos para a pessoa poder se aprofundar”, diz.
O livro digital traz referências da Academia Brasileira de Letras e de outras linguistas que estudam o assunto. Nas páginas iniciais, há um trecho de parecer técnico elaborado por linguistas do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp sobre a linguagem inclusiva. “São atos linguísticos que não excluem as pessoas em razão do gênero, da origem étnica, da orientação sexual, de condições físicas e mentais etc. Ela não abrange, pois, apenas a igualdade de gênero ou o reconhecimento do gênero não binário. Antes, ela se presta, por meio de variados recursos linguísticos, ao reconhecimento e à consideração da diversidade de várias ordens.”
A questão não é aceitar ou não, é uma questão de respeito, resume Vivian. “As pessoas acabam dizendo que são favoráveis ou contrárias, mas, na realidade, é sobre como se naturalizou o preconceito, como se naturalizou dizer que é mimimi, que é uma questão geracional e como isso é extremamente reducionista”, defende.
Escutar e perceber
Quando as pessoas minimizam a questão, elas reduzem o seu repertório. Vivian aponta que é preciso parar, conhecer, estudar e verificar como tantas expressões machistas, racistas e de etarismo foram naturalizadas. “Quando as pessoas que foram silenciadas historicamente levantam suas vozes para dizer que essas expressões sempre as feriram de muitas formas, é hora de a gente parar e escutar e perceber que a gente tem que ampliar nosso repertório”, afirma.
A professora comentou que vem sendo bastante procurada para falar sobre o tema em empresas e instituições. “Linguagem inclusiva não é todes, é muito mais do que isso. Tem estados no Brasil que estão legislando contrariamente, indo numa linha de que é uma discussão sobre direita e esquerda. E não é. É sobre respeito, sobre inclusão realmente e sobre não preconceito”, alega.
O livro digital “Linguagem Inclusiva – Para Além do Todes” tem concepção e análise de Vívian Rio Stella, edição e desenvolvimento de Thaís Gurgel. Pode ser acessado no link https://drive.google.com/file/d/16gwsx2tBTBxNGi1HvS33oaMhH9tQTs-n/view.
Dicas do e-book
“Linguagem Inclusiva – Para Além do Todes”
Uso de X @ E *
Usar esses caracteres não facilita a linguagem inclusiva, pois não são pronunciáveis e tampouco acessíveis para leitores de tela, o que dificulta a compreensão da mensagem por pessoas com deficiência visual. Afinal, se o objetivo é uma comunicação inclusiva, é preciso pensar em todas as pessoas.
Exemplo: “Bem-vindas e bem-vindos” ou “Boas-vindas pessoal!” no lugar de “Bem-vindes” ou “bem-vindxs”
Prefira termos sem marcação binária de gênero: quem, alguém, pessoa, indivíduo, gente, pessoal, grupo, povo, população, humanidade.
Exemplo: “A humanidade se transforma” ao invés de “O homem se transforma.”
Em vez de:
Obrigado a todos.
Parem de denegrir.
Não judie dos animais.
Aquela aleijada.
É uma pessoa velha.
Acima do peso ideal.
Prefira:
Agradecemos a presença.
Parem de difamar.
Não maltrate os animais.
Aquela pessoa com deficiência.
É uma pessoa madura.
Não há um peso ideal para todas as pessoas, evite a expressão.
Para evitar:
Marcação de gênero
Racismo
Preconceito religioso
Capacitismo
Etarismo
Gordofobia
Sobre Vivian Rio Stella
Linguista, graduada pela Unicamp. Doutora e pós-doutora em Sociolinguística Interacional pelo programa de Linguística da Unicamp.
Pós-doutora pela PUC-SP no Laboratórios de Estudos em Linguística Aplicada.
Professora da Unianchieta no curso de Publicidade e Propaganda, do MBA de Gestão de Pessoas da Integração Escola de Negócios e de cursos de extensão da Aberje.
Atualmente, desenvolve pesquisa relacionada às práticas de trabalho de jovens empreendedores, sob a perspectiva da ergologia em diálogo com a abordagem enunciativa e da sociolinguística interacional.
Idealizadora, curadora e professora da VRS Academy, pesquisa e desenvolve trabalhos voltados à lifelong learning.
Instagram: @viviriostella
Instagram da VRS Academy: @vrs_academy