Diadema promove iniciativas para mudar realidade de pessoas trans

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Yumi Evelyn. Fotos: Dino Santos/PMD

Estímulo ao mercado de trabalho, acesso aos serviços de saúde e processo de transsexualização para quem deseja, respeito ao nome social são algumas ações voltadas para a população trans que ainda sofre com o preconceito e discriminação

“Ter um Dia Nacional de Visibilidade de Travestis e Transsexuais é importante porque somos muitas. Quero ver mais pessoas no mercado de trabalho, trabalhando e consumindo. Para que mostre para as empresas que existimos e continuamos com essa luta, a de ter representatividade para as pessoas que estão se descobrindo”. Esse é, em primeiro lugar, o desejo da agente de processos de negócios Yumi Evelyn.

A data é comemorada em 29 de janeiro e foi instituída em 2004, após um ato organizado, em Brasília, para lançar a campanha Travesti e Respeito.

Segundo dados de um estudo desenvolvido pela Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp), aproximadamente 4 milhões de pessoas no País são transgêneros ou não binárias, o que representa 1,9% da população brasileira.

A profissional da área financeira revela que o ambiente atual de trabalho é acolhedor, mas já sentiu o preconceito durante uma entrevista de emprego. “Era uma empresa grande e, quando o entrevistador me viu, virou para mim e falou que não contratava gente como eu. Eu simplesmente abaixei a cabeça e saí. Foi tão explicito que eu fiquei em choque”, relembra Yumi.

Yumi Evelyn

“Durante a pandemia, o fechamento de pequenos negócios, principalmente salões de beleza, onde essa população encontrava certa oportunidade de empregabilidade, levou mais pessoas para o desemprego. A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) estima que 90% da população trans no Brasil têm a prostituição como fonte de renda. São vários fatores que levam a essa situação, como falta de qualificação profissional causada pela exclusão social, familiar e escolar. Por isso é fundamental realizarmos campanhas de incentivo dessa população para a volta ao mundo escolar e criarmos oportunidades de qualificação profissional”, alerta, da mesma forma, o responsável pela Coordenadoria de Cidadania e Diversidades da Prefeitura de Diadema, Robson de Carvalho.

Para mudar essa situação, a Coordenadoria, em parceria com a Ecovias, promoveu o Programa Capacitar. No mês de novembro de 2021, 14 mulheres travestis, mulheres e homens trans participaram de aulas sobre Empreendedorismo, Marketing, Ideia de Negócios, Finanças e Formalização de Negócios. Ao final do curso, receberam certificado emitido pelo Senai e auxílio para buscar oportunidades de emprego. Outra iniciativa é inscrição no Emprega Diadema, programa da Prefeitura  em parceria com entidades que promovem a inserção da população no mercado de trabalho. Mais informações em http://emprega.diadema.sp.gov.br/

Saúde

Além do mercado de trabalho, o acesso aos serviços de saúde é um desafio. De acordo com o coordenador do Centro de Referência em IST Aids e Hepatites Virais de Diadema, Alexandre Yamaçake, é preciso chamar a atenção para as necessidades das pessoas trans, que sofrem com o preconceito e a discriminação. “É uma população sistematicamente violentada institucionalmente e sofre barreiras de acesso aos serviços de saúde por preconceitos e despreparo das equipes na atenção primária. É preciso refletir sobre isso, pensar em ações que possam melhorar a qualidade do atendimento, orientar sobre direitos, capacitar profissionais não só da saúde como de outras áreas”, avalia.

Nesse sentido, o Programa Municipal IST/Aids e Hepatites Virais de Diadema, conjuntamente com o Ambulatório DIATRANS do Quarteirão da Saúde e a Coordenadoria de Cidadania e Diversidades, estão atuando em capacitações e treinamentos para profissionais da rede municipal. Desde sua inauguração, em 15 de setembro do ano passado, o ambulatório já atendeu 120 pessoas trans para orientação médica, psicológica e outros serviços. Mais informações em http://www.diadema.sp.gov.br/27209-atendimento-acolhedor-e-marca-do-ambulatorio-diatrans?highlight=WyJkaWF0cmFucyJd.

Yumi é atendida pelo DiaTrans e conta como foi recebida. “Eu comecei a fazer o processo de hormonização sozinha, mas agora vou fazer com médico, tem todo um checkup e a gente consegue verificar os hormônios de forma correta. A medicação é gratuita. Eles são maravilhosos, respeitam o gênero. Eu me senti em casa”, elogia. Ela ainda relata como percebe as mudanças. “É muito gratificante as pessoas olharem pra mim e me reconhecerem como eu sou. É se tornar mulher, me sentir em paz comigo mesmo”.

O bacharel em direito e programador especialista em gerenciamento de clientes Marcelo Melo também iniciou o acompanhamento no DiaTrans em 2022. “Faço o processo de hormonização há sete anos, estava havia dois anos sem acompanhamento. Consegui passar em consulta neste mês e foi um ‘respiro de alívio’”, garantiu. “Quando cheguei ao DiaTrans fui acolhido com tanto carinho por uma profissional preocupada com a minha saúde física e mental e disposta a me ajudar e acolher de fato, foi uma grande surpresa”, elogiou, em resumo, Melo.

Marcelo Melo

Respeito

Neste mês, a Prefeitura de Diadema ainda deu início à campanha de comunicação “TRANS mita Respeito. TRANS forme Conceitos. TRANS borde Amor – Todos os direitos para todas as pessoas”. A ação tem o objetivo de ressaltar a importância do respeito ao nome social. Para isso, cartazes foram fixados em equipamentos públicos e informações também são divulgadas nas redes sociais da Prefeitura.

Yumi faz a comparação do nome social com o nome artístico. “Quem conhece a cantora Anitta não a chama pelo nome (de batismo). Por que não respeitar o nome social da outra pessoa? É sempre melhor respeitar o espaço do outro do que agir com violência”, questiona.

Caminho a percorrer

O Brasil continua, pelo 13º ano, sendo o país que mais mata população trans, segundo a ONG Transgender Europe (TGEU, na sigla em inglês), que reportou 375 assassinatos em todo o mundo no ano passado. Só no Brasil, foram 140 pessoas assassinadas no mesmo período, de acordo com dossiê sobre violência dessa população entregue hoje (28/01), à Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS), em Brasília.

Apesar de todas as conquistas, a transfobia, a falta de oportunidades, a rejeição e a impunidade em casos de violência contra pessoas trans ainda são muito comuns. Para Marcelo, “o Dia Nacional da Visibilidade Trans coloca em foco a importância da luta pela garantia de direitos básicos, como o de que qualquer outro cidadão e que tenhamos sua identidade reconhecida e respeitada. Mas acredito que ainda nesse dia, também é importante lembrar que pessoas trans sofrem violência no Brasil diariamente, e por isso essa é uma luta constante, que precisa ser discutida e respaldada durante todo o ano. Assim como Diadema tem feito”, ressalta. O bacharel em Direito reforça ainda que alguns comportamento precisam ser evitados. “Evite fazer perguntas sobre o corpo da pessoa, se já fez cirurgia ou hormonioterapia principalmente. Um homem ou uma mulher transgênero não necessariamente deseja mudar sua aparência ou genitais para se identificar com seu gênero, e questioná-los é desrespeitoso. E principalmente de lembrar que transfobia é crime”.

Robson de Carvalho concorda. “Preconceito é um sentimento velado, em que o individuo cria um mecanismo de defesa e de negação envolvendo, na maior parte das vezes, sua raça, seu cabelo, seu corpo, sua condição social, sua orientação sexual e/ou identidade de gênero. Considero importante estarmos atentos para não reforçar a cultura do preconceito, assim iremos construir um Brasil e uma Diadema igualitária e respeitosa, onde todos possam andar de mãos dadas sem olhar as diferenças, apenas olhar que somos seres de vida , porque nossas vidas importam”, afirma.

“Quando tem respeito não há briga, não há morte e nem violência. É o primeiro passo para o acolhimento. Eu quero dizer para todas as pessoas trans que continuem sendo fortes, continuem lutando porque a nossa luta esta apenas começando”, diz, em conclusão, Yumi.

Serviço:

Ambulatório DiaTrans

Endereço: Centro de Especialidades Quarteirão da Saúde (2º andar – sala 243). Avenida Antonio Piranga, 700 – Centro.

Grupo de Entrada: quarta-feira, das 13h às 19h.

Telefone: 4043-8093

Contato: diatrans@diadema.sp.gov.br

Coordenadoria de Cidadania e Diversidades de Diadema

Paço Municipal. Rua Almirante Barroso, 111 – Vila Santa Dirce.

Email: coordenadorias@diadema.sp.gov.br

Tel.: 40577925 / 7965

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