O budismo era a última filosofia religiosa imaculada, mas após o anúncio da Ambev deixou de ser, afirma especialista da ESPM
A Ambev, empresa que detém algumas das mais conhecidas marcas de cerveja, anunciou que a monja Cohen será embaixadora da marca para a moderação.
Embora monges católicos sejam historicamente ligados à produção de cervejas, associar o zen budismo a uma marca com tantas bebidas alcoólicas gera estranhamento.
“O último terreno sagrado caiu, foi corrompido”, diz o sociólogo, antropólogo e professor de tendências do consumo da ESPM, Fábio Mariano Borges.
E, além disso, acrescenta: “O budismo ainda é envolto nessa aura sagrada, que lhe dava um tom imaculado e, quando a monja se rende ao mercado, isso se perde”.
Para Mariano, a Ambev foi atrevida e, acima de tudo, disruptiva demais.
“O anúncio feito pela marca nos mostra que há uma fronteira, um limite na disrupção e, ao que tudo indica, nesse caso, ele foi ultrapassado”, afirma Fábio.
As cervejas eram produzidas no Egito antigo por mulheres e a imagem era associada a uma divindade feminina.
Todos os anos era realizado um festival para a deusa Tefnuf, regado a cerveja.
“A marca poderia ter associado a monja a esse terreno do sagrado, sempre ligado à cerveja, mas até agora não vimos nada nesse sentido”, afirma o professor.
Para Mariano, há debates entre pesquisadores de como as marcas ocupam espaços em todos os aspectos da vida e como elas podem se tornar mais potentes que quaisquer líderes.
“A questão que paira no ar é se até a esfera do zen agora está contaminada por uma marca. E se fosse a Natura, causaria o mesmo espanto?”, questiona,