“A Doutrina Social da Igreja Católica mostra a necessidade de se reconhecer que o trabalho humano é condição indispensável para a promoção da justiça social e da paz civil. Sem trabalho não há dignidade para as famílias.”
Numa reflexão alinhada aos desafios da sociedade contemporânea, o bispo da Diocese de Santo André, Dom Pedro Carlos Cipollini, celebrou o Dia de São José Operário com a tradicional Missa dos Trabalhadores e Trabalhadoras, na manhã deste sábado (1º.05), na Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem – Basílica Menor, a Igreja Matriz de São Bernardo.
Dom Pedro considera, em primeiro lugar, que o trabalho é um direito e um bem fundamental para cada pessoa.
“O trabalho é útil e necessário para formar e manter uma família, para efetivar o direito à propriedade e oferecer contribuição na promoção do bem comum. O desemprego é um problema que desafia principalmente o Estado a promover adequadas políticas públicas capazes de gerar trabalho, em vista do bem comum”, enfatiza, portanto.
Desde 1980
Celebrada desde 1980 no 1º de Maio, o Dia do Trabalho, a Missa dos Trabalhadores em 2021 aconteceu de forma presencial (até 25% da capacidade da igreja).
Seguiu todas as medidas sanitárias (distanciamento de dois metros, uso de máscaras e álcool em gel), com transmissão online pelas mídias diocesanas, além disso.
A celebração recorda, acima de tudo, as lutas e vitórias da classe trabalhadora desde o período das grandes greves do final da década de 1970 e início da década de 1980, passando pela redemocratização do país e a conquista de direitos para uma vida digna em todo o mundo.
Símbolos – ferramentas de trabalho que representam em suma profissões e alimentos essenciais na agricultura e para o sustento das famílias – são apresentados ao altar.
Colocados em frente a imagem de São José Operário.
É organizada pela Pastoral Operária, com apoio das pastorais sociais e conta com a participação de padres, diáconos, religiosos e fiéis da Diocese de Santo André.
As chagas no mundo do trabalho: riqueza de poucos, fome para muitos
No contexto de pandemia da Covid-19, o Dia do Trabalhador evidencia as muitas feridas do mundo do trabalho: os sem-trabalho sinalizam rostos sofridos e desesperançados.
São, acima de tudo, mais de 14 milhões de desempregados no País (entre dezembro de 2020 a fevereiro de 2021).
Desses, 6 milhões desistiram de procurar emprego, segundo levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
“A chaga do mundo do trabalho torna-se ainda mais grave quando alguns se enriquecem inescrupulosamente, enquanto muitos convivem com a fome”, cita Dom Pedro.
Para o bispo, é um cenário que se perpetua por causa dos modelos desvirtuados de exercício da política, pela indiferença social, por uma cultura excludente.
“É urgente uma nova lógica na organização da sociedade e na economia, para que sejam evitados tantos sofrimentos, tantas mortes”, ressalta, da mesma forma.
Uma sociedade pautada pela amizade social para superar desafios
Recordando a Encíclica Fratelli Tutti, lançada em outubro de 2020 pelo Papa Francisco, a solução para uma sociedade mais justa e solidária seria pautada pela lógica da amizade social.
“Nossa sociedade padece com a falta de compaixão. Uma carência que prejudica a inteligência humana, ofuscando a sua luminosidade. É preciso desenvolver a ética do cuidado com os pobres, excluídos e desempregados. Tirar o coração duro e colocar um coração que saiba compadecer-se, ter misericórdia”, aponta, em resumo, Dom Pedro.
O futuro depende de um gesto concreto chamado solidariedade
“O futuro de nossa sociedade combalida pela pandemia que nos assola, é a solidariedade. Os cristãos, em diálogo aberto e cooperativo com a sociedade pluralista, são convocados a ajudar para que a solidariedade se torne um princípio ético da vida social”, indica o bispo, ao citar os caminhos para solucionar os gargalos da desigualdade social acentuados pelas crises econômica e sanitária.
Essa responsabilidade está enraizada nas muitas lições do Mestre e Senhor Jesus, que diz: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10, 10) e “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13, 34).
Protetor e inspiração para todos os trabalhadores
A disponibilidade e fidelidade a Deus fez de São José, acima de tudo, uma referência como homem do serviço, justo e trabalhador, para inúmeros pais de famílias.
“São José era um carpinteiro que trabalhou honestamente para sustentar a família. Foi com São José que Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa sustentar-se com o fruto do próprio trabalho. Esta festa de São José lembra-nos que o próprio Deus feito homem não desdenhou o trabalho”, destaca Dom Pedro.