Por Marli Gonçalves*
Fala aí se também não está tendo a sensação de que está tudo embaralhado. Uma coisa é verdade, boa notícia, em um dia; negada, péssima, em outro. A geopolítica mundial parece um vulcão sempre prestes a expelir lavas. Nada se resolve exatamente, postergado com explicações difíceis de serem compreendidas, muito menos aceitas.
Ficamos no caminho tentando ver horizontes. E o que já encontramos nesses caminhos são muitos coelhos de todos os tipos que não saem de cartolas e os ovos embalados e brilhantes que começam a virar tetos nos supermercados. Agora com esse calor fogoso preocupados se eles não vão é derreter e fazer chover chocolate e seus recheios sobre os clientes.
É Quaresma. Esses 40 dias corridos e que correm até a Páscoa. Que invocam e juntam jejum, penitência e caridade, recheados de tradições e significados religiosos aos seguidores, e incluem muitas regras para expiar as culpas sempre impostas, seja o que for que seguimos. O Papa Francisco em um leito de hospital, totalmente cercado, instável/ estável, e com a luta aberta por sua sucessão já deflagrada, um dos piores retratos do momento, dessa angústia, estranha angústia.
Bom seria que não houvesse tantas preocupações. Aqui, a inflação esvazia geladeiras e mesas em um delicado momento de perda galopante de popularidade do governo, que se apressa a lançar decretos e programas como frágeis aviõezinhos de papel que apenas sobrevoam os verdadeiros problemas – um deles, a confiança perdida.
Confiança perdida, inclusive, também na Justiça e sua lentidão. Obrigados que somos em ainda suportar ver e ouvir sem punição vozes e atitudes afrontosas daqueles todos que tentaram nos afundar novamente no breu de um golpe de Estado. Que incentivam, infernizam e apoiam grupos nas redes sociais mostrando suas infinitas capacidades de emitir ignorâncias, o ódio, e criar mentiras sobre tudo – pior é que conhecemos alguns deles, e que continuam a nos separar, pessoas, convívios.
Agora ainda por cima se sentem confortáveis e felizes com os ensandecidos que foram eleitos nos Estados Unidos e dirigem uma das maiores potências do mundo deixando dia após dia o mundo todo mais ainda de cabelo em pé, como se já não bastassem os conflitos, guerras, ditaduras, massacres e crises em escala. A globalização se esfacela, mas há um setor bem feliz, esfregando as mãos, o armamentista, os poderosos Senhores das Armas que nos fazem de marionetes. As soluções são sempre levadas para eles, gananciosos.
Não há trégua. Brincam com foguetes, com o clima que arde, gela, com o ar que respiramos. A tecnologia avança, se apresentando como inteligente, mas também dominadora e especialmente pretensiosa. Perdemos terreno em conquistas que já nos custaram muito caro.
As cartas estão sobre as mesas, mas muito embaralhadas. Nelas procuramos, ávidos, um mísero coringa que ao menos faça valer tantos sacrifícios. Quem encontrá-lo sairá na frente nesse jogo.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano, Coleção Cotidiano, Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo, Capital.
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