7 de maio é o Dia Mundial de Conscientização sobre a Espondilite Anquilosante. Reumatologistas explicam sobre a importância do diagnóstico precoce e as consequências do uso indiscriminado de anti-inflamatórios
Você conhece a espondilite anquilosante? Embora muito comum (acomete mais de 2 milhões de brasileiros), a doença é pouco conhecida e muitas vezes confundida com uma simples dor nas costas. Mas, trata-se de uma doença inflamatória crônica, por enquanto incurável, que afeta especialmente as articulações da coluna, dos ombros, dos quadris e joelhos. Se não tratada corretamente, pode levar a deformidades na coluna, além de inflamação em outros órgãos como olhos, intestino e pele.
A espondilite anquilosante tem como característica principal uma dor diária na coluna, na região sacroilíaca (das nádegas), que geralmente é confundida com uma dor ciática. “A maioria dos pacientes chega se queixando de dores na lombar. É uma dor que melhora com atividade física e piora com o repouso. Às vezes o paciente desperta durante à noite por causa da dor e, de manhã, ao acordar, existe a sensação de rigidez, como se estivesse travado”, explica a reumatologista Dra. Sonia Loduca, membro da Sociedade Paulista de Reumatologia (SPR), professora da disciplina de reumatologia da Faculdade de Medicina do ABC e chefe do ambulatório de espondiloartrites do HSPE-SP. A doença é mais comum em homens abaixo dos 40 anos, mas também acomete mulheres e até mesmo crianças.
A OMS estima que cerca de 80% da população mundial terá dor na coluna lombar em alguma etapa da vida, na maioria dos casos, por má postura ou esforço físico repetitivo. “Já a espondilite anquilosante, é uma dor crônica, diária, no mesmo local, que persiste por mais de três meses e que precisa ser diagnosticada e tratada corretamente, para que não se agrave”, destaca a reumatologista.
Dra. Sonia Loduca alerta também para as consequências do uso indiscriminado de anti-inflamatórios: “Estes medicamentos sem prescrição podem fazer com que a procura pelo médico demore, prejudicando o diagnóstico e tratamento corretos, uma vez que o remédio pode mascarar os sintomas.”
Foi o que aconteceu com a contadora Luciana Ribeiro, de 49 anos. Ela descobriu a espondilite anquilosante há 6 anos, após muitas idas ao hospital, muitos medicamentos e diagnósticos errados. “Fiz uma ressonância que mostrou 11 protusões e três hérnias na coluna. Minha vida virou um inferno. Eu tomei muito anti-inflamatório, até que não fez mais efeito, o médico mudou para corticoide, depois para adesivo de morfina, fazia bloqueio com corticoide no hospital. Fui internada por 3 vezes e cheguei a fazer uma operação na coluna para retirar um nódulo, que poderia estar causando a dor. Teve um dia que não aguentei mais, ajoelhei no consultório do médico e comecei a chorar copiosamente, com muita dor.”
Luciana comenta que a sensação que tinha era que estava sendo esfaqueada nas costelas, de tanta dor: “Parecia que minha coluna tinha uma barra de ferro no meio, que não dobrava. Meu quadril queimava, ardia e doía inteiro, a perna, a fascite plantar, tudo doía. Eu dormia sabendo que no outro dia iam aparecer mais dores, além das anteriores. Em um ano perdi 70% dos movimentos.”
Após muitas tentativas, dores constantes, consultas, exames, ortopedista, fisioterapia, massagem, osteopatia… Luciana chegou ao reumatologista. “Quando contei sobre a rigidez matinal e as dores intensas que vinham de dentro do osso, o reumatologista suspeitou de espondilite anquilosante.”
“Eu voltei à vida 15 dias após o diagnóstico correto, com o acompanhamento de uma reumatologista sensível e humana (Dra. Karina Bonfiglioli, também membro da SPR), especialista na espondilite anquilosante. Iniciei a medicação biológica, com as adaptações necessárias, além do medicamento para auxiliar na dor, fisioterapia e atividade física diária. Também faço terapia, para cuidar do emocional.”
Instituto Eluar
A vivência com uma doença reumática crônica fez com que Luciana e a amiga Dayane Ferreira (que tem artrite reumatóide) fundassem o Instituto Eluar, com projetos para a causa. “Eu pude rever meus valores e criar uma nova trajetória, uma nova valorização da vida. Digo que a espondilite me deu, e não tirou. Eu tenho algumas limitações físicas, sim, mas expandi muito o meu consciente e o meu emocional. O diagnóstico não é uma sentença! É possível descobrir outras formas de viver, com melhor qualidade de vida”, desabafou Luciana.