Por Guttemberg Guarabyra
Depois de dirigir um festival internacional no México, para o Telesistema Mexicano, com participação de 28 países, aproveitei duas semanas de folga e fui conhecer Los Angeles. Lá fui recepcionado por H. B. Barnum, histórico arranjador, líder da comunidade músicos negros de Los Angeles, e também por Sérgio Mendes, que naquela época rivalizava nas paradas de sucesso inclusive com os Beatles. Participei com ele, Fernando Leporace no baixo, e Valter Vanderley, outro estupendo tecladista, de uma gravação no estúdio do Sérgio, que se situava no centro do imenso (mesmo) quintal de sua mansão. Sérgio estava no início do casamento com Gracinha Leporace, minha grande amiga, que havia participado três anos antes do coral da música com que venci o Festival Internacional da Canção, na Globo, festival que eu acabaria por dirigir e daí o convite para realizar um idêntico na televisão mexicana. Mas estou fugindo do assunto que é Sérgio Mendes.
Tinha pouco tempo para ficar por lá, e queria ouvir música, frequentar os lugares onde se apresentavam os músicos, mas não grandes espetáculos, e sim aqueles em que a gente pudesse ter contato mais íntimo com os artistas. Naquela época, era fã das músicas de Jimmi Web, um rapazola que compunha belas melodias no embalo da nascente música pop, e por acaso ele estava em temporada num pequeno teatro. Não precisa dizer o susto que a presença de Sérgio causou quando chegamos no teatro, espécie de café-teatro, comprido, com mesas no centro, e num plano mais elevado, aos lados em paralela arquibancadas em que, iniciado o show, a entrada gratuita era liberada para que entrasse o público que aguardava lá fora, formado principalmente por estudantes. Foi um reboliço total ver o astro mundial, acompanhado da esposa e um amigo, ocuparem uma mesa para assistir Jimmi Web que, mesmo visivelmente nervoso ao perceber Sergio na plateia, apresentou um show e tanto. Depois fomos recebidos por ele, e esqueci de pedir um autógrafo.
Duas noites depois fomos assistir Moacir Santos, outro brasileiro que, apesar de não ter o mesmo sucesso, tinha enorme prestígio entre os músicos americanos. Para minha surpresa, naquela noite, na boate em que se apresentava, quem cantava como crooner, sentada na cauda do grande piano, era Cybele, ex Quarteto em Cy, que se desfizera, provocando a ida de Cybele para os Estados Unidos. Não preciso falar que a chegada de Sérgio causou novamente um intenso burburinho. Mas logo que o show iniciou, Cybele ao me ver na mesa com Sérgio não se conteve, largou o microfone com estardalhaço em cima do piano e, desviando-se das mesas que nos separavam, numa corrida maluca apertou-me chorando num imenso abraço de saudades. No início, a plateia, sem entender direito o que ocorria, manteve-se em silêncio, para depois, não sei se devido à explicação que Moacir deu ao encontro, no microfone, explodir em aplausos. Daquela vez quem provocou surpresa fui eu, rs.
Soube há poucos instantes que Sérgio nos deixou. Imagino a dor e tristeza de Gracinha. O time de grandes músicos, principalmente brasileiros, vai ganhar um reforço e tanto enquanto por aqui vamos nos sentir imensamente desfalcados. Como lembrança eterna e com eterno agradecimento ele gravou uma de minhas composições, que, numa noite brincalhona, compus em parceria com João Donato, que deve a essa hora estar correndo pro abraço ao amigo no palco das nuvens. Bons shows por aí, grande, imenso Sérgio Mendes.
Ê Menina
