Exibida pela primeira vez no Brasil, a série BLACK reúne filmes de Tambelli produzidos na década de 1960. A mostra no MAM apresenta, ainda, um filme-ensaio gravado em 2005. Antes da exibição, acontece um bate-papo com Jane de Almeida e Cauê Alves no auditório do museu
O Museu de Arte Moderna de São Paulo promove em novembro e dezembro uma mostra de filmes de artistas, com sessões gratuitas no Auditório Lina Bo Bardi. O programa inicia em 18 de novembro (sábado), com a Mostra BLACK, que reúne filmes de Aldo Tambellini (1930 – 2020), artista ítalo-americano, cujo trabalho foi pioneiro na experimentação das novas tecnologias da década de 1960, combinando slides, fotografias, filmes e também pintura, áudio, arte cinética e performance. A mostra de Tambellini no MAM tem curadoria de Jane de Almeida, professora da PUC São Paulo e curadora independente, e traz em sua programação a série BLACK, inédita no Brasil, o filme-ensaio Listen e o registro da performance The event of the Screw.
Filmes BLACK
Realizada na década de 1960 em Nova York, a série de filmes BLACK era acompanhada por performances e poemas do movimento Black Power. A obra, na época, era exibida no Black Gate Theatre, fundado por Tambellini e o artista Otto Piene. “Era um espaço único na cidade, onde se exibia uma programação de filmes experimentais e independentes, além de performances e instalações multimídia ao vivo de artistas como Nam June Paik e Yayoi Kusama. Nesse local, Tambellini apresentava seus dispositivos artísticos, como o Black Spiral, uma modificação de TV que distorcia as transmissões ao vivo”, explica Jane de Almeida.
A produção que abre a série, BLACK IS, tem como trilha sonora o som de batimentos cardíacos e foi realizada inteiramente sem câmera. O filme projeta formas abstratas e iluminações sobre um fundo noturno. O preto como elemento metafísico e como fim era um tema recorrente na obra de Tambellini. “Na obra de Tambellini, o preto é um compósito sensual que reúne diferentes elementos como cor, matéria física, raça, escopia, filosofia e ideologia”, comenta Jane de Almeida.
Aldo Tambellini nasceu nos Estados Unidos e sua família se mudou para Itália no início de sua infância. Ali viveu até a Segunda Guerra Mundial, período em que viu seus amigos e vizinhos serem bombardeados. Na vida adulta, ao retornar ao solo americano, essas memórias aparecem em sua obra marcada pelo encontro inesperado e obsessivo com o preto.
Filho de pai brasileiro, Aldo esteve no Brasil em 1981, para apresentar seu trabalho Comunicatosfera na 17ª Bienal de São Paulo. Em uma jornada artística e identificatória de nove meses na cidade, registrada em cartões postais, ele se pergunta: How Brazilian can we get? (quão brasileiro você pode se tornar?).
Além das produções gravadas na década de 1960, a seleção apresentada na mostra de filmes do MAM inclui Listen (2005), um filme-ensaio realizado por Tambellini em parceria com Anthony Tencza. A produção foi premiada no New England Film Festival e no Syracuse International Film Festival, ambas na categoria Melhor Filme Experimental.
“O trabalho de Aldo Tambellini, pioneiro na arte eletrônica, se destaca pelo experimentalismo e como referência sobre os desdobramentos recentes no campo da arte contemporânea. O MAM é um museu experimental e, como Aldo Tambellini, busca questionar seus próprios limites, sempre valorizando a liberdade artística”, conta o curador-chefe do MAM, Cauê Alves.
Sobre Aldo Tambellini
Aldo Tambellini (1930-2020) é um artista americano-italiano, reconhecido internacionalmente por um trabalho pioneiro que explorou as novas tecnologias da década de 1960, combinando slides, fotografias, filmes e também pintura, áudio, arte cinética e performance. Nos últimos anos, Aldo Tambellini teve seus trabalhos expostos em importantes centros como a Tate Modern (2012 e 2020), MoMA (2013), ZKM (2020), Centre Georges Pompidou (2012) e a Bienal de Veneza (2015). Este reconhecimento recente reflete suas obras pioneiras no cenário artístico de Nova York durante 1950 e 1960, com peças dedicadas ao ativismo político e preocupações filosóficas sobre a comunidade artística.
Sobre Jane de Almeida
Jane de Almeida é professora PUC-SP e foi Visiting Fellow no departamento de História da Arte na Harvard University e professora convidada do Visual Arts Department da Universidade da Califórnia, San Diego (UCSD). Foi artista em residência do Arthur C. Clarke Center for Human Imagination.
É curadora independente de exposições como Ordenação e Vertigem: Bispo do Rosário (Centro Cultural Banco do Brasil), Harun Farocki: Programando o Visível no Paço das Artes e Ulla, Ulla, Ulla. Marcianos, intergalácticos e humanos (Casanova), Off-the-radar (Visual Arts Gallery-UCSD), entre outras.
Sobre o MAM São Paulo
Fundado em 1948, o Museu de Arte Moderna de São Paulo é uma sociedade civil de interesse público, sem fins lucrativos. Sua coleção conta com mais de 5 mil obras produzidas pelos mais representativos nomes da arte moderna e contemporânea, principalmente brasileira. Tanto o acervo quanto as exposições privilegiam o experimentalismo, abrindo-se para a pluralidade da produção artística mundial e a diversidade de interesses das sociedades contemporâneas.
O Museu mantém uma ampla grade de atividades que inclui cursos, seminários, palestras, performances, espetáculos musicais, sessões de vídeo e práticas artísticas. O conteúdo das exposições e das atividades é acessível a todos os públicos por meio de visitas mediadas em libras, audiodescrição das obras e videoguias em Libras. O acervo de livros, periódicos, documentos e material audiovisual é formado por 65 mil títulos. O intercâmbio com bibliotecas de museus de vários países mantém o acervo vivo.
Localizado no Parque Ibirapuera, a mais importante área verde de São Paulo, o edifício do MAM foi adaptado por Lina Bo Bardi e conta, além das salas de exposição, com ateliê, biblioteca, auditório, restaurante e uma loja onde os visitantes encontram produtos de design, livros de arte e uma linha de objetos com a marca MAM. Os espaços do Museu se integram visualmente ao Jardim de Esculturas, projetado por Roberto Burle Marx e Haruyoshi Ono para abrigar obras da coleção. Todas as dependências são acessíveis a visitantes com necessidades especiais.
Serviço
Mostra de filmes no MAM: BLACK, Aldo Tambellini
Curadoria: Jane de Almeida
Data: 18 de novembro de 2023
Local: Auditório Lina Bo Bardi no MAM
Programação:
- 14h30 – conversa com Jane de Almeida e Cauê Alves
- 15h30 – sessão Listen e The event of the screw
- 15h50 – série BLACK
Gratuito
Ingressos em mam.org.br/visite
Museu de Arte Moderna de São Paulo
Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Parque Ibirapuera, Portões 2 e 3
Funcionamento: terça a domingo, das 10h às 18h. Gratuito aos domingos
Telefone: (11) 5085-1300