No mesmo período, nível de ociosidade do setor também alcança, da mesma forma, o pior patamar dos últimos 30 anos
Joaquim Alessi
Relatório de Acompanhamento Conjuntural (RAC) da Abiquim-Fipe revela, em primeiro lugar: resultados do primeiro bimestre de 2025, em comparação com o mesmo período de 2024, mostraram desaceleração em todas as variáveis importantes.
A produção, as vendas internas e a demanda nacional por produtos químicos de uso industrial, medida pelo consumo aparente nacional (CAN), que é a soma da produção, importações menos exportações, apresentaram, acima de tudo, quedas de 5,6%, 0,8% e 4,0%, respectivamente.
Em relação à utilização da capacidade instalada, o setor operou a apenas 60%, cinco pontos porcentuais abaixo da média de 65% registrada em 2024.
Este é, por exemplo, o menor nível médio de operação desde que a entidade começou a coletar dados, em 1990.
Pior patamar
Como resultado, o nível de ociosidade atingiu 40%, o pior patamar, em suma, dos últimos 30 anos.
Entre os grupos de produtos químicos analisados, alguns apresentaram, além disso, níveis de ociosidade ainda mais altos que a média geral.
São eles os intermediários para fertilizantes (44%), intermediários para plásticos (48%), intermediários para fibras sintéticas (41%) e intermediários para plastificantes (61%).
Quanto aos preços, o Índice Geral de Preços da Abiquim-Fipe indicou um aumento de 5,1% nos produtos químicos entre janeiro e fevereiro de 2025.
Considerando a inflação, os preços reais desses produtos subiram, da mesma forma, 3,6% no primeiro bimestre de 2025.
Isso com base no IPA-Indústria de Transformação da FGV, que teve um aumento de 1,5% no mesmo período.
Além disso, em comparação com 2024, os preços reais em dólar estão 11,3% mais altos, enquanto em relação ao euro, o aumento foi de 11,2%.
Isso se deve, portanto, à desvalorização do dólar e do euro em relação ao real, que caiu 5,5% para ambas as moedas.
Fevereiro catastrófico
Os resultados negativos do primeiro bimestre de 2025 foram especialmente influenciados pelo desempenho fraco de fevereiro.
Naquele mês a produção caiu 10,1% em relação a janeiro, e as vendas internas diminuíram 4,5%. A variação negativa do CAN foi de 17,1%.
A queda na demanda em fevereiro foi em grande parte causada pela redução de 26,8% no volume de importações dos produtos analisados.
As empresas apontaram diversos fatores para explicar esse desempenho desastroso: problemas operacionais, unidades paralisadas, plantas em hibernação, demanda em baixa, restrições de matéria-prima, variações na disponibilidade de energia elétrica e um número menor de dias de operação (28 dias em fevereiro contra 31 em janeiro).
Como resultado, a utilização da capacidade caiu para 57%, sete pontos porcentuais abaixo do nível de fevereiro de 2024 (64%).
As exportações também sofreram queda significativa de 15,8%, evidenciando a falta de competitividade do setor.
Resultados acumulados e crescimento do déficit
Na comparação dos últimos 12 meses até fevereiro de 2025, todas as variáveis analisadas no Relatório de Acompanhamento Conjuntural (RAC) mostraram resultados positivos: a produção cresceu 3,2%, as vendas internas aumentaram 7,0%, os preços subiram 19,3% e a demanda nacional, medida pelo consumo aparente nacional (CAN), teve um aumento de 3,2%.
É importante destacar que as importações também cresceram 6,4% nesse período, ajudando a atender a demanda interna.
Como resultado, a proporção de compras do mercado externo em relação à demanda total atingiu 49% na média dos últimos 12 meses até fevereiro.
Ou seja, um aumento em relação aos 48% do período anterior.
Os grupos que mais se destacaram nas importações foram: resinas termoplásticas (+28,3%), outros produtos inorgânicos (+26,7%), produtos químicos orgânicos (+25,1%), intermediários para fibras sintéticas (+23,9%), solventes industriais (+19,1%) e produtos petroquímicos básicos (+7,0%).
Em relação aos dados da balança comercial de produtos químicos, cuja fonte de informação é a Secretaria de Comércio Exterior, lembrando que, nesse caso, as informações se referem ao total de produtos importados e exportados pelo País, não se tratando de amostra, entre março de 2024 e fevereiro de 2025, o Brasil importou US$ 65,37 bilhões em produtos químicos, e exportou um valor de US$ 15,79 bilhões.
Isso resultou em um déficit de US$ 49,59 bilhões nesse período, um aumento em relação ao déficit de US$ 48,68 bilhões registrado em 2024.
Cenário geopolítico e necessidade de medidas urgentes
André Passos Cordeiro, presidente-executivo da Abiquim, ressalta que o setor químico brasileiro enfrenta um momento delicado.
Momento esse agravado pela guerra comercial entre os EUA e a China.
Ele defende que o governo tome medidas urgentes para fortalecer a indústria química nacional.
Assim como seus concorrentes internacionais têm feito com programas de incentivo.
Nesse contexto, Passos destaca a importância da retomada do Reiq.
O regime especial já gerou R$ 760 milhões em resultados, além de mais R$ 300 milhões em análise, totalizando R$ 1 bi em investimentos para 2025.
Ele também menciona o Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química (Presiq).
O mesmo já foi protocolado na Câmara e visa a impulsionar o setor por meio de incentivos fiscais para a adoção de processos de baixo carbono.
“Com isso, esperamos que a indústria volte a operar em plena capacidade, atingindo 95% da produção. Isso teria um impacto significativo no valor da produção de produtos químicos, gerando um efeito direto e indireto no PIB de R$ 112,1 bilhões até 2029”, afirma Passos.
Essa elevação na produção poderia criar cerca de 81 mil novos postos de trabalho diretos, com potencial de até 1,7 milhão de novos empregos diretos e indiretos.
Atualmente, o setor já emprega mais de 2 milhões de brasileiros.
“A nova lei ajudará a reduzir o déficit da indústria química, tornando-se uma fonte importante de arrecadação e agregação de valor ao País, através do uso sustentável dos recursos naturais. Esse plano pode salvar o setor”, afirma, em conclusão.