Filho de ex-bailarina do Faustão, superdotado, é expulso da escola por não ser compreendido. Especialista explica

In Canto do Joca On
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Romeu e Romeu Gutvilen. Foto: Divulgação

Assim como Thomas Edison, o pequeno Romeu Gutvilen é mais um gênio incompreendido no universo das escolas ‘comuns’ que não estão preparadas para estes alunos.

Século XIX, Ohio, Estados Unidos: O jovem Thomas Edison foi expulso da escola primária porque seu professor definiu que ele tinha “cérebro oco” e era incapaz de aprender. Com o apoio de sua mãe, aquele resolveu esquecer a opinião do professor e viver sua própria vida. E o mundo agradece até hoje por isso, pois, como não é segredo para ninguém ele se tornou um dos maiores gênios que a humanidade já conheceu.

Século XXI, Rio de Janeiro, Brasil. O pequeno Romeu Gutvilen, com apenas seis anos de idade e superdotação reconhecida por especialistas do ramo de renome internacional, é expulso da escola em que estuda. Sua mãe, Rachel, conta que “eles preferiram ‘se livrar’ dele, pois eu era a chata que queria que eles o entendessem melhor. Ele reclamava das contas chatas de matemática. Além disso, como ele era bolsista, parece que eu não deveria ‘incomodar'”, denuncia.

Questionamentos e debates

Da mesma forma que aconteceu com o gênio Edison, mais uma vez a incompreensão das escolas diante de um aluno superdotado é alvo de questionamentos e debates. De acordo com sua mãe, a ex-bailarina do Faustão, Rachel Gutvilen, no primeiro momento o jovem foi bem aceito na escola. “A proprietária da escola até revelou que já teve alunos superdotados e queria fazer algo diferente para lidar com o Romeu”. Ela achou que ia ser a solução, mas não foi bem o que aconteceu.

“Pulamos um ano letivo com o consentimento dela. Mas, para Romeu, aquelas contas nas aulas de matemática eram tão fáceis que isso o entediava. Procurei a coordenação para falar sobre isso, mas não tinha o retorno deles. Até que, dois meses depois de Romeu estar na escola, pude perceber que ele não foi desafiado, devido à sua inteligência superior. Tudo que a dona da escola prometeu não aconteceu. Vi que ele estava tendo aulas como as outras crianças. Exemplo disso é que ele fazia os exercícios mais rapidamente que seus colegas, e, com isso, ficava o tempo livre brincando em sala. Quando argumentei isso, enfim tive a primeira posição deles, que foi colocá-lo como ajudante da professora, mas não acredito que isso sirva para estimular um aluno como ele”, detalha Rachel.

Escola sem suporte

Logo, diante deste cenário, ela percebeu que a escola não estava conseguindo dar o suporte necessário ao Romeu. Foi aí que a situação complicou: “Fui chamada de chata e eles não quiseram me ouvir. Parecia que tanto eu quanto Romeu estávamos sendo uma espécie de incômodo para eles. Além disso, como era bolsista, isso poderia até tentar me intimidar e me silenciar. Com o tempo, a situação ficou insustentável, e a solução encontrada por eles era convidar meu filho a se retirar da escola, mas na verdade eles não tiveram capacidade de ensiná-lo”, lamenta Rachel.

Ao conhecer a história do gênio norte-americano, Rachel se emocionou com o relato que ele fala de sua mãe: “Eu sou o resultado do que uma grande mulher quis fazer de mim”. É este o desejo que ela nutre para que um dia Romeu possa dizer o mesmo à ela. “A mãe dele não mediu esforços para que o filho tivesse todo o aprendizado necessário, e deu todo o suporte a ele para desenvolver seu potencial. E é isso que quero para o Romeu, pois ele está passando pela mesma situação que Edison”, decreta.

Diante do que aconteceu com o filho, Rachel Gutvilen acredita que uma definição de Sigmund Freud explica os sentimentos que tem vivido nos últimos dias: “Quando não somos capazes de entender alguma coisa, procuramos desvalorizá-las com críticas. Um meio ideal de facilitar nossa tarefa”.

Palavra do especialista

Segundo o PhD, neurocientista, neuropsicólogo e especialista em superdotação, Fabiano de Abreu, tal situação envolvendo Romeu Gutvilen relembra inclusive uma situação pessoal que viveu no período acadêmico. “O caso dele me fez lembrar do passado, quando no secundário, fui convidado a me retirar da escola, ou seja, quase expulsão. A questão é a falta de compreensão, valorização e vontade. Avalie países como Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e como eles tratam os superdotados. Por isso são desenvolvidos, pois mentes brilhantes são bem aproveitadas para o desenvolvimento. E ainda pegam superdotados de outros países, como exemplo dos indianos”, detalha.

Hoje, membro da Mensa, que é uma associação das pessoas com mais alto QI do mundo, Abreu orienta como a educação brasileira pode se adequar à superdotados, como Romeu: “O Brasil precisa de escolas especiais, não são escolas normais que dizem ter uma educação especial e sim escolas especiais. Precisa apostar nos talentos seja do cérebro, do esporte, de ambos, talentos que possam incentivar outras pessoas e melhorar o país.”

Apaixonado por xadrez, Romeu já tem a sua participação confirmada no campeonato brasileiro e pan-americano da categoria no próximo em julho.

Será uma oportunidade para este fenômeno de apenas seis anos de idade, em conclusão, colocar mais uma medalha em seu vasto currículo, mesmo tão precoce.

Fabiano de Abreu, PhD, neurocientista, neuropsicólogo e especialista em superdotação. Foto: Divulgação

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