Peças da mostra contam, em primeiro lugar, momentos da história do centenário espaço cultural, reinaugurado há cerca de um ano
Perto de completar 100 anos no atual endereço, o Cine Theatro de Variedades Carlos Gomes, em Santo André, carrega, acima de tudo, uma trajetória de luta para sobreviver à ação do tempo e para resguardar memórias das expressões artísticas que passaram pelo local, com visão, ainda, para o futuro.
A exposição “Tempo Presente”, composta por peças que retratam, como flashes, essa jornada, foi prorrogada até 14 de junho, no próprio Cine Theatro Carlos Gomes.
O endereço, portanto, é Rua Senador Fláquer, 110, no Centro.
A mostra tem como objetivo localizar, em suma, o simbólico espaço cultural andreense no ambiente artístico.
Além disso, no contexto cinematográfico, teatral e cultural do tempo presente.
Da mesma forma, situá-lo socialmente e territorialmente não só na cidade, mas também na região.
Um ano de reposicionamento
“O propósito da mostra não é abordar a história do Cine Theatro Carlos Gomes, nem ser didática. ‘Tempo Presente’ pretende ser uma atividade que marca um ano do reposicionamento do Cine Theatro como espaço de produção e promoção de arte, de reflexão, difusão de conhecimento e, agora, de experiências em um novo formato para o uso do edifício como ambiente de vivência, de interação com o público, com a sociedade e a comunidade em que está inserida, e desse modo, se relacionando com a cidade”, explica, em resumo, o curador da exposição, Reinaldo Botelho.
A exposição é composta por mais de 120 itens impressos referentes a vários momentos da história do Carlos Gomes.
São, por exemplo, periódicos, programas, documentos, jornais e revistas, fotos, negativos, cartazes e pôsteres.
Há também registros audiovisuais (filmes e vídeos) de acervos e depoimentos coletados do público, artistas e da comunidade.
Todos os que, de algum modo, experimentaram eventos e a intensa vida cultural e social já promovida pelo Cine Theatro em outros tempos.
Além disso, “Tempo Presente” conta com duas peças sonoras (Memorial do Cine Theatro Carlos Gomes e Poema Sinfônico Industrial à Preservação do Patrimônio Cultural) e com o documentário “Cine Carlos Gomes: patrimônio e memória como fenômenos coletivos”.
“A exposição ‘Tempo Presente’ transcorre em camadas que se dilatam e recebem tratamento por meio de sobreposições de formatos. A palavra escrita e falada, sons e imagens se conectam sintática e graficamente, possibilitando leituras e colagens que se entrelaçam como numa tapeçaria”, concluiu Botelho.
Histórico
Mas, antes de ocupar o imóvel na Senador Fláquer, o Cine Theatro de Variedade Carlos Gomes foi inaugurado em 21 de setembro de 1912.
Em um espaço que ficava na Rua Coronel Oliveira Lima, esquina com a Rua Savino Degni.
O espaço nasceu como uma casa de diversões públicas dedicada a bailes, carnavais, concertos, óperas, revistas musicais, teatro e filmes.
Por isso foi considerado o primeiro Cine Theatro do ABC, dando início ao movimento teatral na região.
Em 1923 começou a ser construída uma nova edificação – obra realizada por Gino Luiz Boschetti e Arthur Boschetti – com pinturas murais artísticas nas paredes e boca de cena de autoria de Luiz Cereja.
Acima da boca de cena, o pintor retratou um medalhão com o perfil do compositor Carlos Gomes.
Esse elemento marcante no prédio permanece até os dias de hoje.
O cinema foi reinaugurado em agosto de 1925, na Rua Senador Fláquer, esquina com Cesário Mota e fundos para a Gertrudes de Lima, onde está atualmente.
Em 1987, o Cine Theatro foi fechado e ocupado por uma loja de tecidos, época em que sua fachada foi descaracterizada, e também por um estacionamento.
Depois de muita pressão popular, o espaço, já deteriorado, foi desapropriado em 1991 e permaneceu fechado por muitos anos.
Após novo projeto, passou por reforma de readequação e restauro e foi reaberto ao público, em conclusão, em abril de 2022.