China, por sua vez, acredita que presença do chefe de Estado no Rio e em Brasília servirá para atrair o Brasil para a Nova Rota da Seda
O que está em jogo na visita do presidente da China, Xi Jinping, ao Brasil e na reunião que ele terá com Lula nesta quarta-feira (20.11)?
A resposta, na análise da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), depende do ponto de vista de cada País.
Pelo lado chinês, há a perspectiva de que o Brasil faça parte da Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês).
Trata-se de gigantesco projeto encabeçado pela potência asiática para erguer estruturas mundo afora que a ajudem a potencializar os seus fluxos de comércio.
Neste ano, a Nova Rota da Seda, como o programa é chamado, completa uma década de existência.
Soma investimentos que já chegaram a US$ 1 trilhão (R$ 5,79 trilhões), segundo dados oficiais.
O valor corresponde a cerca de metade do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 2023, por exemplo (US$ 2,1 trilhões).
Analistas que se reúnem periodicamente no Conselho Superior de Economia, Sociologia e Política, da FecomercioSP, estudam.
E têm apontado como o estímulo a esses fluxos é fundamental diante do contexto atual chinês, marcado por uma crise de demanda.
Isso acontece porque o grosso dos consumidores do país tem ativos ligados ao setor imobiliário — que, se já foi a principal força econômica da China, atualmente, está combalido.
Frente aos preços desse mercado em queda, muita gente se sente mais pobre hoje do que há 10 anos, reduzindo o consumo com o intuito de guardar dinheiro.
Carros elétricos e energia verde
Contudo, em paralelo, a China tem feito investimentos vigorosos na sua indústria de tecnologia, sobretudo de carros elétricos e de energia verde.
Tal prática tem gerando um excedente produtivo que não está sendo absorvido pelos mercados dos países desenvolvidos.
Basta lembrar que tanto o atual presidente dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden, quanto o próximo, o republicano Donald Trump, mantêm uma política tarifária parecida sobre esses tipos de produtos chineses (no caso dos automóveis, a gestão Biden implementou uma tarifa de 100% sobre eles).
Nessa conjuntura, o gigante asiático aposta as próprias fichas em parceiros comerciais emergentes, como o Brasil.
Equilíbrio geopolítico
Já pelo lado brasileiro, a visita marca um momento de equilíbrio geopolítico.
O País sabe que a volta de Trump à Casa Branca também deve significar uma intensificação das guerras comercial e tecnológica entre Estados Unidos e China.
Isso pressiona boa parte das nações globais, portanto, a se realinhar com um ou outro.
A questão é que, apesar de o Brasil cultivar relação política histórica com os norte-americanos, os chineses representam grande mercado de exportações.
Para se ter uma ideia, em 2023 um terço de tudo o que o País vendeu ao exterior foi absorvido pela China (30,7%).
Mas não só isso: a maior parte das importações também vem de lá (22,1%), seguidas pelas transações estadunidenses (15,8%).
Nesse sentido, o governo brasileiro precisa, em uma mão, manter e até expandir essa relação com a China e, na outra, evitar provocar os EUA.
Em meio a essa conjuntura, deve ficar claro que o País é uma democracia que valoriza as liberdades individuais.
No primeiro caso, a visita de Jinping serve como uma oportunidade para que o Brasil tente convencer os chineses a aumentar ainda mais a importação do Br asil.
Porém, é uma tarefa difícil em um momento de excedente produtivo por lá.
Sobre a FecomercioSP
Reúne líderes empresariais, especialistas e consultores para fomentar o desenvolvimento do empreendedorismo.
Em conjunto com o governo, mobiliza-se pela desburocratização e pela modernização.
Desenvolve soluções, elabora pesquisas e disponibiliza conteúdo prático sobre as questões que impactam a vida do empreendedor.
Representa 1,8 milhão de empresários, que respondem por quase 10% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
Os mesmos, em conclusão, geram em torno de 10 milhões de empregos.