Evento previsto para abril irá eleger propostas para construção de políticas públicas em âmbitos local, regional, estadual e nacional
Uma sociedade sem manicômios, recursos públicos que interferem nas políticas de saúde mental, crescente número de jovens com demandas pós pandemia, acolhimento de pessoas enlutadas, além da relação entre cuidado e medicação e parcerias foram alguns dos temas abordados na reunião ampliada da Comissão Organizadora da Conferência Municipal de Saúde Mental de Diadema, realizada na tarde desta quinta-feira (24/02), de forma virtual. O encontro, com a aproximadamente 100 pessoas, discutiu aspectos da saúde mental na cidade e a preparação do evento municipal, que será em 19 de abril deste ano.
As discussões seguem o tema “A Política de Saúde Mental como Direito: Pela defesa do cuidado em liberdade, rumo a avanços e garantia dos serviços da atenção psicossocial no SUS” e os quatro eixos temáticos da 5ª Conferência Nacional de Saúde Mental, a ser realizada em 8 de novembro.
As quatro linhas temáticas são: Cuidado em liberdade como garantia de Direto a cidadania; Gestão, financiamento, formação e participação social na garantia de serviços de saúde mental; Política de saúde mental e os princípios do SUS: Universalidade, Integralidade e Equidade; e Impactos na saúde mental da população e os desafios para o cuidado psicossocial durante e pós-pandemia.
A assessora do Gabinete, Isabel Fuentes, representou a secretária da saúde, Dra Rejane Calixto na abertura e agradeceu aos presentes. “É uma prioridade da gestão, tanto a questão da saúde mental, do cuidado e da participação das pessoas. Essa tem que ser uma bandeira e uma luta cotidiana. É no dia a dia que fazemos o enfrentamento para uma política sem manicômios”, ressaltou.
Para a usuária de um dos cinco Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de Diadema, Gercília Maria, é preciso maior visibilidade. “Eu existo. Sou capaz. Somos seres humanos independente do nosso CID (Código Internacional de Doenças que classifica as enfermidades e outras condições de saúde). Precisam aceitar isso de maneira coerente”, afirmou.
Eventos preparatórios
Para realizar a Conferência Municipal, a SMS prepara quatro pré-conferências para ouvir e construir com a população sugestões que serão levadas à plenária em abril. As pré-conferências ocorrerão em 18 e 25 de março e 1 e 7 de abril, nas regiões Sul, Leste, Norte e Centro-Oeste, respectivamente, sempre às 14h. Esses encontros terão forma híbrida, ou seja, virtual e presencial (em polos). Os endereços serão divulgados oportunamente após definição da comissão de organização. As inscrições podem ser feitas pelo link: https://forms.gle/5UTiHAEahPZRFaxS8.
Na Conferência Municipal ainda serão selecionadas oito diretrizes e eleitos 20 delegados que representarão o município nas etapas macrorregional, estadual e nacional.
Discussão
A psicóloga do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Sul, Caroline Azevedo, rememorou um pouco da história da saúde mental. “A loucura, no passado, era vista como algo de cunho místico e religioso. Com a vinda da ciência, as pessoas eram internadas para observação. No século XIX, o grande público que passava por esses hospitais psiquiátricos eram pessoas com alcoolistas, com deficiência, gays, mulheres, negros. Recentemente, a mobilização nacional da luta antimanicomial direcionou o cuidado de saúde mental, no Brasil, para as desospitalizações”, afirmou. “Esse é um espaço para refletir: qual a relação e como impacta a luta antimanicomial além das instituições de saúde. Como a cultura dos manicômios estão introjetadas em nós mesmo? Na forma de pensar, de cuidar, de medicar. A luta é muito mais ampla e convida o tempo todo a refletir”, questionou.
“É um momento de diálogo com a sociedade. A gente ainda vive uma sociedade manicomial, excludente que recrimina o que é diferente e coloca as pessoas em lugar de menos valia. Nós precisamos lutar pelos serviços de saúde, mas também por uma sociedade que aceite que a loucura entre no shopping, sente ao lado no banco do ônibus, que não seja julgada. Uma das funções do CAPS é apoiar, acolher para conviver com a pessoa que é diferente”, enfatizou a psicóloga e apoiadora na coordenação de Saúde Mental, Heloisa Elaine dos Santos, que mediou os trabalhos.
RAPS
“Diadema tem uma rede robusta para a saúde mental. Ter uma gestão que proporciona e facilita esse momento para pensar as políticas públicas é muito importante”, lembrou a coordenadora de Saúde Mental, Analdeci Moreira.
A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de Diadema é composta por cinco Centros de Atenção Psicossocial (CAPS Sul, CAPS Leste, CAPS Norte, CAPS Álcool e Drogas e CAPS InfantoJuvenil), Espaço Colmeia (espaço de inclusão social/geração de trabalho e renda), dois Serviços de Residência Terapêutica (SRT), um Consultório na Rua I, uma enfermaria de retaguarda de Saúde mental com 10 leitos no Hospital Municipal de Diadema (HMD) e psiquiatras 24 horas na porta da urgência e emergência no HMD. Além disso, todas as 20 Unidades Básicas de Saúde (UBS) contam com equipes de saúde mental.