Em dois dias, especialistas discutiram os caminhos e propostas para avançar na questão da inclusão na educação especial, em evento contou com cerca de 500 participantes, entre professores e funcionários da rede municipal
O Seminário Municipal de Educação Inclusiva, que teve como tema central os desafios e possibilidades da educação especial na perspectiva inclusiva, foi realizado no Centro Cultural Okinawa, no Centro, em 15 e 16 de junho, com o objetivo de debater a importância da estruturação de um Sistema Educacional Inclusivo, enquanto concepção central e basilar de políticas públicas na rede municipal de ensino.
O primeiro dia contou com a presença do prefeito José de Filippi Junior, que afirmou em seu discurso que educar é sobretudo um ato de amor e de entrega, nos dois sentidos.
“Lembrando Paulo Freire, um professor estimula os estudantes a aprender entre eles e o professor também aprende. Por isso, nós precisamos de muitos eventos como esse, para construirmos uma educação inclusiva e buscar construir uma sociedade que valorize os direitos humanos”, disse, em resumo.
Conhecer os estudantes
O primeiro convidado do evento foi o Dr. Décio Guimarães, diretor de Políticas de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva da SECADI – MEC.
Ele ressaltou que precisamos conhecer nossos estudantes para além do seu nome e do número no diário, acolhê-los como pessoas, assegurar o direito de estar em nossa classe, construir possibilidades e conhecer, não só o público da educação especial, mas todas as pessoas.
“A presença de todos nós aqui é uma certeza de que todas as pessoas têm o direito de estar onde quiserem, especialmente na escola, em condições de igualdade. Muito se fala do lugar de fala, mas, mais do que o lugar de fala, é o lugar de luta, e aqui falaremos dos desafios de escutar os anseios desse município, as inquietações das ruas, das escolas e das salas de aula”, afirmou.
Envolver a sociedade
O seminário prosseguiu na sexta feira, 16.06.
Na abertura, apresentando a primeira mesa de debates do dia, a secretária de Educação Ana Lucia Sanches destacou que precisamos discutir e refletir sobre a educação inclusiva em nosso País para tomar decisões mais assertivas em relação às políticas de educação.
“É fundamental envolver todos os setores da sociedade para encontrar as melhores estratégias para uma educação humanista e ligada aos princípios estabelecidos por Paulo Freire”, lembrou, por exemplo.
O primeiro tema do dia foi “Formação de professores para a inclusão escolar na perspectiva do desenho universal para a aprendizagem”.
A Dra. Ana Paula Zerbato, docente da Faculdade de Educação da USP, e a docente da UFABC Priscila Benítez iniciaram destacando que a formação para esse tipo de educação não engloba somente os professores, mas todos os envolvidos no processo, como gestores, diretores, coordenadores e todos os funcionários que têm alguma relação com os estudantes.
“Com o tempo, vimos que a melhor estratégia não é criar uma educação específica para PCDs, mas sim um ambiente de inclusão e diversidade que atenda a todos, com uma abordagem mais universal, efetiva e que beneficie todos, PCDs ou não”, explicou a Dra. Ana Paula.
O projeto do desenho universal para a aprendizagem considera as necessidades individuais e ao mesmo tempo procura atender às necessidades de todos, baseando-se em três princípios: engajamento/ motivação, representação (as várias formas de ensinar o mesmo conteúdo) e expressão (retorno dos estudantes).
Ana Paula destacou que isso envolve uma mudança de cultura, que os professores são parte do processo de construção desse novo sistema e que não podemos esquecer de ouvir os estudantes, pois eles são a razão de todo esse trabalho.
Multicamadas
Em seguida, foi a vez da Dra. Enicéia Mendes, coordenadora Geral de Estruturação do Sistema Educacional Inclusivo da SECADI – MEC, falar sobre o sistema de suporte multicamadas de apoio à inclusão escolar.
Ela iniciou explicando que esse sistema é inspirado no atendimento do SUS (atenção primária, secundária, terciária etc.) para designar os vários níveis de complexidade.
Segundo ela, os principais problemas dos nossos estudantes, de forma geral, é a dificuldade de aprendizado
“Acreditamos que, em primeiro lugar, é preciso construir uma boa escola que vai atender à maioria, e depois pensamos nas dificuldades ou limitações mais específicas. O programa multicamadas propõe categorizar os estudantes não de acordo com a deficiência, mas de acordo com a suas necessidades ou eventuais dificuldades de aprendizado, independentemente de ter ou não alguma deficiência, olhando para todos de forma igual”, falou.
Ainda segundo ela, é uma abordagem pró-ativa e que visa melhorar o ensino para todos, porque assim todos são beneficiados, inclusive os que têm alguma deficiência.
A secretária Ana Lucia concorda e reforça que é preciso refletir e atentar para o que há de mais atual e eficiente na educação inclusiva.
“O sistema de suporte multicamadas e o desenho universal apontam para o caminho que devemos seguir daqui por diante, porque consideram os estudantes e o sistema educacional como um todo, sem separar ou discriminar aqueles que têm alguma deficiência”, assinalou, em suma.
Inclusão para além das escolas
A última mesa do seminário reuniu a pedagoga com habilitação em Educação Especial da rede de Diadema Fabiana Leme de Oliveira e a diretora do Centro de Atenção à Inclusão Social (CAIS), Sandra M. G. Scaravelli, para debater a inclusão para além das escolas, com o tema “Gestão Democrática para uma educação inclusiva – redes de apoio e política de inclusão escolar no município”.
Fabiana apresentou a estrutura e o histórico do CAIS, que há 30 anos atua no atendimento de estudantes com algum tipo de deficiência, além de promover a formação e orientação dos professores da rede.
Destacou como a gestão democrática, a cultura inclusiva e o trabalho colaborativo são fundamentais para uma educação de qualidade.
“A escola é um espaço de inclusão por natureza e a gente tem que trabalhar pela perspectiva de não termos a necessidade de um professor especialista, mas que toda a equipe tenha condições de trabalhar com todos os estudantes”, afirmou.
O trabalho de formação também é uma importante atuação do CAIS, ressaltou Fabiana.
“A gente procura qualificar o olhar do professor com as formações, que também são um trabalho de convencimento”, afirmou.
São 1,6 mil estudantes
A rede municipal de Diadema tem, atualmente, 1.600 estudantes que são público alvo da educação especial.
Deste total, pouco mais de 50% estão dentro do espectro autista (TEA).
A coordenadora do Serviço de Educação Inclusiva de Diadema, Ana Claudia Martins, lembrou que um pensamento constante dos profissionais da rede deve ser: quem é a pessoa para além da deficiência.
“Como eu posso atender da melhor forma esse ser humano, que é único”, questionou. “Para além da escola, como essa pessoa consegue se locomover pela cidade, ela acessa os equipamentos de lazer, de cultura? Tudo isso é uma educação inclusiva plena. Um evento como esse é importante porque estimula o debate sobre ações inclusivas de forma colaborativa, entre todos os agentes, para garantir a acessibilidade dos nossos estudantes”, explicou, da mesma forma.
A secretária de Educação, Ana Lucia Sanches, lembrou que o seminário é um importante momento de reflexão e de pensar ações para o futuro, em curto, médio e longo prazos.
“Temos a oportunidade de refletir sem desconsiderar a história que já construímos”, afirmou.
“Queremos uma educação que seja inclusiva não só para o estudante que é o público alvo da educação especial, mas para todos, de uma forma integral”, concluiu.