Coordenadora de Políticas de Promoção Igualdade Racial de Diadema lembra, em primeiro lugar, necessidade de aquilombamento contemporâneo
O Brasil inteiro celebra, neste 20 de novembro, acima de tudo, o Dia da Consciência Negra.
Apesar de não ser feriado em todas as cidades do País – em Diadema, a data é feriado municipal desde 2006 – o 20 de novembro é um dia de lutas e de reverências aos antepassados negros que chegaram no Brasil após ser escravizados, destaca a coordenadora de Políticas de Promoção Igualdade Racial de Diadema, Marcia Damaceno.
O Dia da Consciência Negra passou a ser celebrado em 1971, pela juventude negra de Porto Alegre que se organizava no Grupo Palmares.
Os encontros do grupo eram promovidos para estudos sobre a história e cultura negra e para contrapor a data de 13 de maio, celebrada pela elite brasileira por ter sido o dia da assinatura da Lei Áurea e que ressaltava a Princesa Isabel como heroína, o grupo escolheu o 20 de novembro, data que remonta à morte de Zumbi dos Palmares, para ser o dia da Consciência Negra.
“A abolição no Brasil foi um processo incompleto, que nunca se concretizou. Pessoas que até então eram escravizadas e que depois da Lei Áurea foram entregues à própria sorte, sem emprego, sem direitos, sem condições que garantissem uma vida digna”, explicou Marcia. “Por isso essa data de 13 de maio nunca nos representou”, completou.
Mais visibilidade
Marcia destaca que a partir dessa decisão, a data de 20 de novembro passou a ter mais visibilidade.
Foi sendo adotada pelos diferentes movimentos negros brasileiros como marco na luta contra o racismo.
“Dessa forma, Zumbi e Dandara, pessoas que lideraram importantes quilombos no Brasil e foram forças de resistência à escravidão, se tornam símbolos dessa data, Zumbi, inclusive, entrou no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, em 1997”, afirmou.
O livro fica guardado no Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
A coordenadora chama a atenção para a necessidade de compreensão do que foram os quilombos e do que significa a expressão “aquilombar” na contemporaneidade. “A ‘quilombagem’ foi um movimento de rebeldia dos africanos escravizados contra o sistema que os oprimia”, explica. “O historiador Decio de Freitas cita que o Quilombo dos Palmares exercia atração não apenas dos negros, mas também sobre a população indígena e até dos brancos pobres, estes últimos refugiados dos maus tratos e da fome a eles reservados pelo sistema colonial.”
A República de Palmares ficava na Serra da Barriga, território à época pertencente a Pernambuco, hoje Estado de Alagoas, uma região onde havia grandes plantações de cana de açúcar. O Quilombo de Palmares recebeu diversos grupos étnicos da África Central e Ocidental (Angola, Congo Brazaville, República Democrática de Congo, Camarões e Moçambique) de tradição bantu e que recriou as estratégias de lutas nativas ancestrais. O Quilombo de Palmares começou a enfrentar os ataques do Reino Português desde 1612 e teria resistido até 1695.
Estudiosos como Maria Beatriz Nascimento e Abdias Nascimento afirmam que o termo “quilombo”, ao longo do processo histórico, social e político, teve vários significados. Começou como lugar de comunidades de escravizados fugidos, lugar de reunião fraterna, livre, solidariedade, convivência, comunhão existencial, lugar das comunidades negras rurais e por fim, lugar das comunidades de remanescentes de quilombos.
Quilombos
Em todos os países da América Latina, no Haiti, Cuba, nas Guianas e nos Estados Unidos, que receberam populações africanas escravizadas, foram constituídos quilombos.
Alguns eram chamados de palenques, cimarrons e marrons, sempre como o formado de um projeto político e não simplesmente como resultado de uma fuga desordenada da opressão.
“Portanto, vamos nos aquilombar a partir do legado de organização dos nossos ancestrais, construindo resistência aos problemas estruturais do racismo por meio das políticas públicas de igualdade racial.
É o que a gente tem buscado fazer na cidade nesta gestão do prefeito José de Filippi Júnior, afirmando como prática ancestral a solidariedade entre os oprimidos”, afirmou, em suma, Marcia.
“Aqui em Diadema, o Dia da Consciência Negra, Dia Nacional de Zumbi e Dandara é feriado municipal desde 2006, como data de reflexão e ao mesmo tempo de comemoração, de reabastecimento de energia nossos corpos e espíritos dando força para continuar resistindo para existir”, afirmou, em conclusão.