Não tema a máquina inteligente, trabalhe com ela.
Por Leila Santos
Já passamos por muitas revoluções ao longo dos séculos que mudaram completamente a nossa forma de viver, interagir e trabalhar. Em cada um desses momentos, algumas funções ficaram obsoletas e outras floresceram frente às novas demandas.
No centro da discussão, sempre esteve a relação homem versus máquina e a pergunta que não quer calar: o ser humano será substituído pela máquina?
Para que a humanidade pudesse usufruir dos benefícios trazidos pelo avanço tecnológico, alguns pereceram pelo caminho devido à obsolescência das suas funções, substituídas pelos processos automatizados. Esse é um fato inegável que suscita o medo que cerca momentos de revolução tecnológica, como esse que vivemos agora.
Dizem que temos memória curta e, por isso, quero convidar você para uma pequena viagem no tempo. Vamos lá?
A primeira revolução industrial, que aconteceu entre 1760 e 1840, trouxe para as nossas vidas a máquina a vapor e as ferrovias, impulsionando os meios de transporte e o alcance geográfico do comércio e dos negócios. Regiões antes isoladas pela distância, passaram a ser incluídas no mapa de distribuição e geração de receita.
No final do século XIX, a segunda revolução foi movida pelo advento da eletricidade e da linha de montagem, alavancando os setores de manufatura e a produção de bens de consumo e industriais em larga escala.
A revolução digital e computacional, a partir da década de 60, caracteriza a terceira revolução e de certa forma, coloca o poder da tecnologia nas mãos de cada indivíduo como nunca visto antes.
Do computador de grande porte, antes restrito ao meio empresarial, ao computador pessoal, mais conhecido como PC, o ser humano passou a ter em suas mãos um poder de processamento e de realizar tarefas em menos tempo e com mais precisão.
Ainda dentro desse período, surgiram os primeiros celulares móveis que revolucionaram a nossa forma de interagir. Na década de 90, a grande web (world wide web) nos conectou a todos e a tudo de forma global preparando o terreno para os nossos queridinhos e indispensáveis smartphones.
Isso significa que a maioria de nós, passou a ter nas mãos, mais capacidade de processamento do que os primeiros computadores. Dá para imaginar fazer o que você faz hoje sem contar com tudo isso?
De acordo com alguns autores, na virada do século XX, entramos na quarta revolução industrial que traz a inteligência artificial, a robótica, carros autônomos, internet das coisas e nanotecnologia como destaques tecnológicos com o potencial de impactar nossas vidas de uma forma ainda mais intensa do que em todas as outras revoluções.
Se você não é um nativo digital, deve lembrar bem do seu processo de adaptação ao longo da década de 90. Olhando para trás não parece que foi uma transição tão dramática como a sensação que temos agora diante da inteligência artificial, certo?
Aqui está a diferença entre a quarta revolução e as outras: a velocidade, a amplitude e a profundidade. E o que isso quer dizer?
Que os impactos das novas tecnologias serão percebidos mais rapidamente, que elas terão abrangência em diferentes setores da economia e da sociedade, e estarão inseridas nas mínimas coisas da nossa rotina.
Os números deixam claro que estamos diante de um momento disruptivo. A internet levou sete anos para atingir 50 milhões de usuários no mundo e o chatGPT atingiu 100 milhões em apenas dois meses. Isso é considerado, nesse momento, como a maior adoção em massa da humanidade.
O alvoroço em torno do chatGPT, um aplicativo de inteligência artificial (IA), que interage em linguagem natural, tem chamado atenção nos últimos meses e provocou uma verdadeira corrida das grandes empresas de tecnologia para lançar novos produtos que utilizem IA.
Prepare-se porque as suas pesquisas, elaboração de textos, processamento de informações, nunca mais serão as mesmas.
Estamos em contato com IA há pelo menos 10 anos sem nos dar conta disso. Existem muitos exemplos de uso de inteligência artificial e aprendizado de máquina no nosso dia a dia, alguns mais evidentes e outros mais sutis. Veja alguns exemplos:
- Aplicativos de rotas: Uber, Waze, Google Maps
- Assistentes virtuais: Siri, Alexa, Cortana
- Recomendação de conteúdo: Netflix, Youtube, Spotify, Amazon
Há muitos outros casos em áreas como saúde, educação, segurança e entretenimento. A tendência é que essas tecnologias se tornem cada vez mais presentes e poderosas na nossa sociedade.
Segundo o relatório do Fórum Econômico Mundial 2023,
“espera-se que a inteligência artificial, seja adotada por quase 75% das empresas pesquisadas e que leve a uma alta rotatividade, sendo que 50% das organizações esperam que ela gere crescimento de empregos e 25% esperam que ela gere perda de empregos”.
O relatório destaca ainda que:
“a automação de funções não necessariamente significa que profissões inteiras serão extintas, mas sim que algumas tarefas específicas podem ser automatizadas, liberando tempo e recursos para que os profissionais possam se concentrar em tarefas mais complexas e de maior valor agregado”.
O que muda agora é que ao invés de sermos apenas impactados pelas empresas que usam IA, nós podemos usar a IA para realizar o nosso trabalho.
A tecnologia chega às nossas mãos, nos mostrando que tarefas simples, repetitivas e com baixo grau de complexidade podem ser executadas por um software inteligente com capacidade de processamento e aprendizado superior ao nosso.
Então, a pergunta surge novamente: o ser humano será substituído pela máquina?
Em alguns contextos de trabalho o risco é real, mas em outros, o ser humano será substituído por outro ser humano que saiba usar a máquina inteligente.
O relatório do Fórum Econômico Mundial 2023 cita também que:
“6 em cada 10 trabalhadores precisarão de treinamento antes de 2027, mas apenas metade dos trabalhadores tem acesso a oportunidades de treinamento adequadas hoje.”
Diante desse cenário qual deve ser a nossa postura? Existem dois extremos que devem ser evitados:
A postura de negação:
“Isso é uma moda e vai passar”
A postura de desespero:
“Estamos à beira do caos e todo mundo vai ser demitido!”
O fato que não podemos ignorar: não é uma moda que vai passar. Mas também é um fato que teremos demanda por novas habilidades e competências. Por isso, a postura ideal é a curiosidade e a busca pela capacitação.
Se você é um profissional que deseja assumir a postura de curiosidade e se preparar para esse novo momento, essas são as perguntas que devem guiar a sua reflexão:
O que é inteligência artificial e quais são as principais aplicações vigentes no Brasil e no mundo?
Quais são as aplicações específicas para a minha área de atuação e quem já está usando?
O que eu preciso aprender para me capacitar e manter a minha empregabilidade?
Veja que atitude e interesse proativo vai fazer a diferença para que você identifique oportunidades no seu trabalho e seja notado pela sua empresa e pelo mercado.
Então será tudo sobre tecnologia? E se eu não for da área de tecnologia?
É certo que a maior demanda por profissionais especializados será nas áreas de tecnologia, mas a busca por eficiência e eficácia pessoal e profissional será uma demanda generalizada em todos os setores da economia.
Para responder a esse cenário, o Fórum Econômico Mundial destaca as TOP 10 habilidades em 2023:
- Pensamento analítico
- Pensamento criativo
- Resiliência, flexibilidade e agilidade
- Motivação e autoconsciência
- Curiosidade e aprendizado contínuo
- Letramento tecnológico
- Confiabilidade e atenção aos detalhes
- Empatia e escuta ativa
- Liderança e influência social
- Controle de qualidade
Dá para notar que capacidades cognitivas e comportamentais estão no topo da lista e são fundamentais para garantir a preparação e adaptação aos novos contextos de trabalho.
Já parou para pensar qual é o pequeno passo que você pode dar hoje em direção a esse futuro? Use essa lista para fazer uma pequena autoavaliação e se preparar.
Afinal, as máquinas precisarão de seres humanos cada vez mais capacitados, curiosos e inteligentes.
Seja um deles!
Sobre Leila Santos
Coach de líderes e empresas há mais de 20 anos, atende clientes com renome no mercado como Grupo WLM, L’Occitane, Grupo Boticário, Sephora, Itaú, Biolab, Pfizer, Roche, Astellas, Ache, AstraZeneca, Farmoquímica, Fitec, Pierre Fabre, Uni2, Gencos, dentre outras. Atua com foco no cliente corporativo, sempre valorizando e investindo em profissionais e empresas que já estão preparados para essa mudança de cultura e mindset.