Setor químico total deve encerrar o ano com faturamento de US$ 167,4 bilhões e déficit de US$ 47 bilhões, em decorrência do surto de importações
Joaquim Alessi
Nesta segunda-feira (04.12), mais de 400 pessoas participaram do 28º ENAIQ (Encontro Anual da Indústria Química), em formato híbrido – com transmissão ao vivo pelo canal do Youtube da entidade e presencial no WTC – Teatro, na Avenida das Nações Unidas, 12.551, em São Paulo.
O presidente-executivo da entidade, André Passos Cordeiro, classificou 2023 como um dos anos mais desafiadores da história do setor, impactado pelo atual cenário geopolítico, sobretudo pelo elevado surto de produtos importados vindos especialmente de países asiáticos.
“Embora enfrentar desafios não seja uma novidade, neste ano vimos o faturamento líquido do segmento de produtos químicos de uso industrial sofrer uma queda 27,5% em relação ao ano passado. Enquanto em 2022 o faturamento líquido do setor foi de 83,2 bilhões de dólares, neste ano estimamos que o faturamento caia para 60,3 bilhões de dólares. Além disso, estimamos que o déficit da balança comercial alcance em 2023 a marca de 36,3 bilhões de dólares. As importações de 70 dos mais importantes produtos químicos fabricados no Brasil aumentou 60% em quantidade. O uso da capacidade produtiva de nossas fábricas, por sua vez, caiu para uma marca alarmante – 65% em média, nível mais baixo em praticamente duas décadas. Já os dados que integram todos os segmentos da indústria química brasileira, o setor deve encerrar o ano com faturamento de US$ 167,4 bilhões e déficit de US$ 47 bilhões,”, afirmou, por exemplo, Passos.
Para Passos, esses números demonstram não somente a necessidade urgente da criação de políticas que garantam a competitividade e a retomada de crescimento para um setor tão importante para toda a sociedade, mas também permitiram que a resiliência presente no DNA do setor químico brasileiro mostrasse todo o seu potencial.
“O Brasil possui uma indústria química madura – com empresas tradicionais e com décadas de atuação. Essas empresas já viveram, no passado, desafios até maiores do que os atuais, e foi graças a essa maturidade e às vantagens comparativas ofertadas pelo nosso país que seguimos caminhando”, disse, resumo.
Dificuldades são oportunidades
Passos disse que em 2024 a Abiquim celebra 60 anos de existência e que nessas seis décadas sendo representante de tantas empresas sólidas e compromissadas com a atuação responsável, a entidade aprendeu que dificuldades não significam problemas e sim, oportunidades.
“Oportunidades para a melhoria contínua; oportunidades para otimizar nosso trabalho e corresponder às expectativas que nos são apresentadas. De modo coerente ao seu histórico de atuação, a Abiquim continuará com voz ativa, dialogando com seus stakeholders e buscando soluções para que a indústria química brasileira faça o que vem fazendo de melhor: ser a indústria das indústrias”, assinalou.
Potencial
Daniela Manique, presidente do Conselho Diretor da Abiquim, enfatizou, além disso, o potencial da indústria química nacional.
Segundo ela, estudos da Abiquim comprovam, em suma, que o setor tem um dos menores carbon footprint em seus produtos.
“Nossa matriz energética é muito mais limpa e sustentável em relação aos nossos concorrentes. Temos na Abiquim o Programa Atuação Responsável ® que traz as melhores práticas mundiais para dentro das empresas associadas para que elas operem de forma consciente e segura, além de programas de economia circular, e metas arrojadas de reduções de Gás de Efeito Estufa (GEE)”, disse, em resumo.
Manique ressaltou, da mesma forma, a necessidade de proteção para o setor contra concorrentes que agem deslealmente, trazendo produtos para o País com preços abaixo do seu custo de produção e com padrões de segurança e de sustentabilidade muito menores que os da indústria nacional.
“Temos tudo para ultrapassar nossa posição de sexta indústria química do mundo hoje e liderar a indústria química do futuro, a indústria química verde sustentável, com as melhores metas e com os melhores objetivos. O Brasil tem tudo e pode ser uma referência para o mundo todo”, afirmou.
Medidas do governo
Presidente da República em exercício e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin afirmou estar ciente das dificuldades que comprometem a competitividade da indústria química, além de destacar a questão do Custo Brasil.
Dentro desse contexto, ele relacionou, por exemplo, algumas medidas tomadas pelo Governo neste ano visando ao resgate do crescimento do setor.
Entre elas, a retomada dos porcentuais do imposto de importação de resinas e polímeros, bem como a retirada dos 10% de 73 NCMs para a indústria química.
O retorno definitivo do Reiq para melhorar a competitividade da matéria prima da indústria química de 1ª e 2ª geração também foi mencionado.
Agora, portanto, com ênfase na redução da carga tributária para investimentos.
Incentivos
Segundo Alckmin, neste ano, os R$540 milhões de incentivo para a indústria serão consumidos integralmente.
Para o próximo período, ele sinalizou, da mesma forma, mais R$1,6 bilhão, em um valor crescente até 2027.
“Como sabemos que existem também empresas menores, lançamos o ‘Brasil Mais Produtivo’ para pequena e médias empresas – são R$2 bilhões para melhorar a competitividades dessas empresas. Trata-se de uma parceria com o SENAI, SEBRAI, MDIC e BNDES/FINEP. O programa é gerenciado pela Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) – 93 mil empresas são atendidas pelo SENAI, que vai em cada indústria para identificar os gargalos, problemas de competitividade e de produtividade no sentido de fazer um diagnóstico. O SEBRAI, por sua vez, faz o projeto e o BNDES financia a substituição de máquinas e equipamentos. Outras 200 mil empresas são atendidas via plataforma tecnológica”, detalhou.
Por fim, Alckmin destacou alguns pontos da Reforma Tributária, afirmando que ela pode fazer em 15 anos o PIB brasileiro crescer 12%.
Relacionou alguns resultados positivos conquistados recentemente em relação à inflação, COPOM, Risco Brasil e índice de desemprego.
Mas, garantiu que tais avanços ainda não são suficientes, indicando que Governo segue dialogando com todos os setores em prol da criação de mecanismos para melhorar a produtividade e competitividade.
Mais autoridades
Além de Alckmin, o ENAIQ 2023 contou com a participação do deputado Afonso Motta, presidente da Frente Parlamentar da Química; do deputado Luiz Fernando Teixeira, presidente da FPQuímica da ALESP; e Jorge Lima, secretário de Desenvolvimento Econômico do Governo do Estado de São Paulo.
O primeiro painel do evento, cujo tema foi ‘A indústria química sustentável do presente e do futuro’, teve a presença dos seguintes CEOs: Roberto Bischoff (Braskem); Javier Constante (Dow); Reinaldo José Kroger (Innova); Daniela Manique (Rhodia); e Roberto Noronha Santos (Unigel).
No âmbito das contribuições da indústria química e as práticas alinhas ao ESG para atingimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), eles compartilharam os avanços já realizados até o momento e como ainda podemos evoluir para a química sustentável.
Como moderadora do painel, a jornalista Rosana Jatobá.
Expectativas
As ‘Expectativas para o futuro com a criação de políticas industriais para o desenvolvimento sustentável’, na visão do Governo foi o foco do segundo painel, com o moderador Paulo Gala.
Participaram da mesa redonda: Verena Hiltner Barros, secretária-executiva do CNDI – Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (participação virtual); e Maurício de Oliveira Abi-Chahin, coordenador-geral do Monitoramento de Políticas do Ministério de Minas e Energia -MME.
O terceiro painel, ‘A indústria química e o meio ambiente no Brasil’, destacou os compromissos do setor com a sustentabilidade, circularidade e segurança, tema debatido por Thaianne Resende, diretora do Departamento de Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente e Mudança de Clima (MMA), e Fernanda Romero, gerente de Políticas para Químicos e Poluição do Pnuma (Pacto das Nações Unidas para o Meio Ambiente). O painel foi moderado por Fabrício Soler, advogado especialista em Direito Ambiental, consultor da ONU e da CNI.
Contribuição
Em seguida, sob o tema ‘A contribuição da Indústria Química para a sociedade e os desafios da competitividade’, o evento trouxe representantes dos setores de cuidados pessoais, embalagens, tintas, fertilizantes, automotivo e pet plástico para discorrerem sobre a importância do setor químico para o desenvolvimento de produtos inovadores e sustentáveis.
Paulo Gala também fez a moderação deste painel.
A Palestra Magna do ENAIQ 2023 ficou à cargo da jornalista e comentarista de economia, Juliana Rosa.
Ela falou sobre as perspectivas da economia global e impacto na economia local.
Premiações
Durante o evento, foram anunciados os vencedores do Prêmio Kurt Politzer de Tecnologia:
Na categoria start-up, a vencedora foi a Conatus Ambiental, com o projeto “Plataforma IOT para Dosagem de Químicos em ETA: Sustentabilidade e Eficiência operacional”.
O projeto está sob a responsabilidade do José Renato Ianzi Martini e traz em seu hall de contribuições um sistema de automação de dosagem de produtos químicos no processo de floculação de estações de tratamento de água.
Na categoria empresa, a vencedora foi a Indorama, com o projeto “Hidrótopo Verde para o Mercado de Produtos de Limpeza”.
O responsável pelo trabalho foi Silmar Balsamo Barrios.
O projeto é destinado a formulações de produtos de limpeza por meio de matérias-primas 100% vegetais e renováveis, alinhado aos objetivos sustentáveis e de segurança requeridos pelas regulamentações ambientais e pelo mercado dos produtos de limpeza.
Na categoria Pesquisador, o vencedor foi Flávio Leandro de Souza, do Laboratório Nacional de Nanotecnologia do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, com o projeto “Solução para Produção de Hidrogênio de Baixo Carbono: Fotorreatores”.
Vencedores das Olimpíadas de Química
Os alunos brasileiros vencedores das Olimpíadas de Química também foram apresentados.
Alinhada às demandas de governança ambiental, social e corporativa e ao compromisso com a sustentabilidade, a 28ª edição do ENAIQ ganhou o Selo Evento Neutro, por quantificar e compensar as suas emissões de CO2, com apoio ao Projeto Usina Hidrelétrica Salto Pilão, uma iniciativa ambiental auditada, certificada e importante fonte de energia renovável do país.
O ENAIQ 2023 também faz parte, da mesma forma, do Movimento ‘Sou Resíduo Zero’ e terá o selo de distinção pela destinação correta dos resíduos recicláveis e orgânicos que foram gerados durante o Encontro, evitando, portanto, o descarte em aterros sanitários.
O encontro teve como patrocinadores as instituições Petrobrás e Governo Federal, as empresas Ambipar Response, Braskem, Compass, Dow, Nitriflex, Yara, Basf, Innova, ABD, Cesari, Elekeiroz, Indorama, Nitro, Rhodia, Unigel, Unipar, White Martins e Leschaco; e contou com o apoio da Machado Meyer Advogados.
Para ter acesso ao livreto ‘Desempenho da Indústria Química Brasileira 2021’, clique aqui
O 28º ENAIQ pode ser assistido na íntegra, em conclusão, (acesse aqui) no canal da Abiquim no YouTube