Fábio Marin busca, em primeiro lugar, registros históricos no CDH para compor curta e longa-metragem sobre a trajetória da líder indígena local
Nesta quinta-feira (21.11), o cineasta Fábio Marin esteve no Centro de Documentação Histórica Iracema Mathias Roca (CDH), em Ribeirão Pires, para, acima de tudo, dar mais um passo no projeto audiovisual que resgata a história da Cacica Jaqueline Haywã.
A visita ao CDH, que funciona dentro do Centro Histórico e Literário Ricardo Nardelli (CHL), teve como objetivo, em suma, reunir registros fotográficos da década de 1970, período em que a líder indígena viveu na cidade antes de se mudar para a Bahia.
Marin é o diretor do curta-metragem Reescrevendo a História e do futuro longa que aprofundará a trajetória da cacica, que tem se destacado como uma liderança indígena do Povo Pataxó Hã Hã Hãe, etnia Kariri Sapuya.
Além de contar com apoio do CDH para acessar registros históricos, o cineasta aproveitou, da mesma forma, a oportunidade para conhecer mais sobre o trabalho do espaço, voltado à preservação da memória cultural e histórica de Ribeirão Pires.
O curta-metragem, já em fase de finalização, será lançado em dezembro deste ano, com previsão de estreia até o dia 15. Segundo Fábio Marin, o documentário tem como proposta apresentar a história de Jaqueline em Ribeirão Pires, retratando como sua vivência na cidade moldou sua trajetória. “Estamos em busca de fotos da Ribeirão Pires dos anos 70, período em que ela foi criada aqui, para mostrar como era a cidade na época, o contraste com sua experiência em uma aldeia na Bahia e as transformações que marcaram sua vida quando ela retornou”, afirmou.
Etapa importante
A visita ao CDH foi, além disso, uma etapa importante desse processo. Para o cineasta, ter acesso a materiais históricos enriquece o trabalho documental. “Essas fotos revelam a transformação da cidade e ajudam a contar a história da Jaqueline. É fundamental conectar passado e presente para que possamos entender como essas experiências moldaram a luta dela em defesa dos povos indígenas”, destacou.
O sucesso do curta viabilizou a aprovação de um novo projeto: um longa-metragem que será gravado a partir de janeiro de 2025. Com um orçamento maior, o longa permitirá filmagens na Bahia e o uso de equipamentos mais sofisticados, como câmeras de cinema. “O curta foi um grande aprendizado, mas as limitações financeiras nos obrigaram a improvisar. Com o novo recurso, será possível fazer um trabalho ainda mais completo, registrar imagens na Bahia e usar tecnologia 4K para elevar a qualidade do filme”, comemorou.
A história da Cacica Jaqueline Haywã é marcada por conquistas e desafios. Nascida em Ribeirão Pires e criada na cidade até o final de sua infância, Jaqueline se mudou com a família para a Bahia, onde vivenciou uma realidade completamente diferente da urbanização da Estância. Essa experiência formou sua identidade e a motivou a lutar pelos direitos indígenas.
Jaqueline cursou licenciatura em Estudos Sociais, Geografia e Pedagogia e atualmente é pós-graduanda na Universidade Federal do ABC (UFABC). Professora e coordenadora pedagógica, ela também integra o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (COMPIR) de Ribeirão Pires.
História inspiradora
Durante a pandemia de COVID-19, liderou ações para garantir a vacinação da população indígena no ABCD, entregando à Funai o cadastro de mais de 300 Pataxós de sua família. Em abril de 2024, participou da inauguração do primeiro posto de saúde especializado no atendimento de povos indígenas em contexto urbano na região. Jaqueline também é autora de dois livros, incluindo Reconstruindo a História, que reúne poemas e relatos sobre sua vida e ancestralidade.
“É uma história inspiradora. O cinema documental tem o poder de revelar essas histórias e conectá-las com o público. Como diretor, eu tento guiar o olhar das pessoas, levando-as a entender a importância dessas trajetórias para o Brasil”, comentou Fábio Marin.
Durante a visita ao CDH, Marin destacou o papel fundamental de espaços como o Centro de Documentação para a preservação da história e da cultura. “Ter um local como esse é uma riqueza enorme. Ele preserva a história do município e permite que as pessoas conheçam sua origem, entendam as transformações da cidade e valorizem a memória coletiva”, afirmou.
Para o cineasta, o resgate histórico é essencial não só para o cinema, mas também para a formação cidadã. “A frase do Paulinho da Viola resume bem: ‘Quando eu penso no futuro, não esqueço meu passado’. Conhecer o passado é fundamental para construir o presente e planejar o futuro”, declarou.
O curta “Reescrevendo a História” será lançado no próximo mês, enquanto as gravações do longa começam em janeiro.
Marin acredita que as duas produções contribuirão para divulgar a importância da trajetória de Jaqueline e inspirar novas gerações, em conclusão, a valorizar a cultura indígena e a memória histórica de Ribeirão Pires.