- Guttemberg Guarabyra
Como seria a história de seu irmão Caetano Veloso se essa força estranha, chamada Maria Bethânia, não lhe tivesse escancarado as portas antes?
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Maria Bethânia completa 76 anos.
Presenciei o surgimento de Bethânia, no show Opinião, no Rio de Janeiro.
A expectativa de sua estreia era enorme, já que substituiria Nara Leão no espetáculo que nos quase dois meses em que o protagonizou, juntamente com Zé Kéti e João do Vale, simplesmente eletrizou o Rio de Janeiro.
Como amigo dos produtores do show, tinha passe livre no teatro e o assisti diversas vezes. Quando Nara deixou o elenco, não foi substituída imediatamente por Bethânia, como muitos imaginam, mas por Suzana de Moraes. Até hoje não lembro por que razão não o assisti no período em que ela atuou.
Às vezes creio que a desistência de Nara passou ao público a ideia de que o musical se encaminhava para o desaparecimento. Daí não ter sido tão relevante a temporada com Suzana. Mas é só um palpite.
No entanto, quando foi anunciado que uma cantora trazida da Bahia para dar continuidade ao Opinião era um fenômeno poderoso, e que surpreenderia a todos, o interesse do público foi revigorado, e a estreia foi pra lá de concorrida.
E lá estava eu.
O que mais me impressionou foi a interpretação de Carcará, de João do Vale.
Depois daquela minha passagem pelo Rio, insatisfeito com a carreira, desisti de tudo e voltei para o sertão de Bom Jesus da Lapa. Lá, montei um espetáculo nos moldes do Opinião. Escrevi o texto com meu irmão Gilson e convocamos Marku, que ainda vivia em Pirapora, também às margens do São Francisco, que participou mandando muito bem na bateria.
Nessa montagem, interpretei Carcará ao modo de Bethânia. Foi sucesso absoluto. A seguir montei o mesmo espetáculo em Januária e, na sequência, na terra do Marku.
Em Januária, enquanto preparava o show, que contava com talentos locais, que eu descobria, organizava e dirigia, depois dos ensaios acabávamos sempre na Boate Pioneiro, que nada tinha de boate, mas era um bar e tanto.
Lá, havia música ao vivo. Um dia, a estudantada que eu dirigia em minha montagem, insistiu para que interpretasse o Carcará que eu fazia voar no palco, imitando a performance dramática estupenda de Bethânia.
Repeti tantas vezes a atuação que por pouco não ganhei como apelido o mesmo nome da ‘´águia de lá do meu sertão’, como descreveu João do Vale.
Esse texto é de parabéns a Bethânia, acompanhado de uma pergunta que sempre me faço.
Como seria a história de seu irmão Caetano Veloso se essa força estranha, chamada Maria Bethânia, não lhe tivesse escancarado as portas antes?
Se pensar que, pelo mesmo caminho aberto, chegariam também Gilberto Gil, Torquato Neto, Capinam, Gal, Tom Zé e tantos outros, dá para imaginar o quanto foi importante o surgimento de Bethânia na história de nossa música.
E eu estava lá.
Música do dia.
- Guttemberg Nery Guarabyra Filho, ou Guttemberg Guarabyra, ou apenas Guarabyra, nascido em Barra, Vale do São Franscico, Interior da Bahia, cronista de ABCD REAL, músico, compositor, escritor e poeta brasileiro. Entre seus maiores sucessos como compositor estão as canções “Mestre Jonas” e “Outra vez na estrada” (ambas em parceria com Luiz Carlos Sá e Zé Rodrix), “Casaco Marrom” (com Renato Correa e Danilo Caymmi), “Sobradinho” (com Luiz Carlos Sá) , “Espanhola” (com Flávio Venturini), Dona e muito mais. Escreveu O Outro Lado do Mundo e Teatro dos Esquecidos, além de inúmeras crônicas.
