A proteção do meio ambiente como política de saúde pública global

In ABCD, Artigo On
- Updated
Marina Domenech/Divulgação

*Por Marina Domenech

O Brasil vive um momento propício para a inovação e o desenvolvimento científico, uma agenda que deve se intensificar com a proximidade da COP30 e que me faz refletir sobre a urgência de virar a chave e transformar o discurso em iniciativas práticas. Afinal, a questão não é mais “se” a saúde está ligada ao clima, mas “como” podemos tornar os sistemas de saúde mais resilientes às mudanças climáticas.

Por anos, o tema da saúde humana foi deixado em segundo plano nas grandes discussões ambientais. A COP28, em Dubai, deu um passo importante ao dedicar um dia inteiro à saúde. Dois anos se passaram, os desafios se intensificaram, mas pouco evoluímos no entendimento que a saúde não é um tema à parte, mas sim o eixo central da crise climática.

Com sua imensa biodiversidade e relativa vulnerabilidade a fenômenos climáticos extremos (de enchentes à períodos prolongados de seca), o Brasil é o palco perfeito para essa reflexão. Estamos na linha de frente: nossa população sofre com o avanço de doenças como dengue e malária, a poluição do ar agrava problemas respiratórios, ondas de calor intensificam os problemas cardiovasculares, enchentes intensificam a transmissão de leptospirose e outras infecções.

Somam-se a isso grandes questões relacionadas aos povos indígenas: enquanto são responsáveis por proteger cerca de 80% da biodiversidade remanescente do planeta, estão entre os que mais sofrem com os impactos do clima e seguem à margem de políticas públicas de saúde e meio ambiente, como aponta um recente relatório da ONU. Como será possível cuidar dos povos originários se, ainda hoje, os protocolos de pesquisa e de saúde desenhados especificamente para essa população são praticamente inexistentes?

Esses desafios de saúde também têm impacto direto na esfera socioeconômica. Enquanto 20% das perdas globais na produção animal estão ligadas a doenças infecciosas, entre 2019 e 2023 a prevalência de subnutrição aumentou 1,5 ponto percentual nos países mais afetados pela variabilidade climática. Entre 2030 e 2050, estimam-se 250 mil óbitos por ano de causas relacionadas ao calor, como desnutrição, malária, diarreia e estresse térmico. Custos diretos dos danos à saúde decorrentes das mudanças climáticas podem alcançar, em 2030, de US$ 2 bilhões a US$ 4 bilhões anuais (especialmente em nações com infraestrutura de saúde precária). A negligência histórica da conexão saúde e meio ambiente fragilizou tanto as políticas ambientais quanto a atuação do SUS, que enfrenta grandes desafios para assistir populações em situação de vulnerabilidade e que vivem fora dos grandes centros.

Mesmo nesse cenário complexo, temos oportunidades. Recentes investimentos federais em Pesquisa & Desenvolvimento, editais voltados à inovação, atualização da lei de Pesquisa Clínica, o Nova Indústria Brasil e o programa piloto do Ministério da Saúde para inovação radical de fármacos, pesquisas inovadoras e o avanço das biotechs mostram que diferentes frentes vêm se articulando de maneira nunca vista.

Estamos vivenciando a oportunidade histórica de posicionar a saúde como centro da questão climática, construindo pontes entre vulnerabilidade local e soluções globais. Planos, documentos e acordos precisam ser mais do que referência. Devem estabelecer compromissos claros de financiamento, implementação e acompanhamento. E, para isso, é fundamental que exista atuação proativa por parte da sociedade civil, academia, indústria, iniciativa privada. A palavra de ordem é cooperação.

Enfrentar a crise climática é a maior intervenção de saúde pública do nosso tempo. E o Brasil, no comando dessa agenda, tem a chance e a responsabilidade de virar a chave do discurso para a prática.

*Marina Domenech, baiana de Salvador e liderança em negócios de impacto CEO e fundadora da SAIL for Health.

You may also read!

Sicredi oferece planejamento e proteção para curtir as férias com tranquilidade

Sicredi orienta sobre seguros de residências e veículos, além dos benefícios de Tag de Passagem, débito programado das contas

Read More...

Sabres fecha temporada 2025 com aprendizados no basquete em cadeira de rodas

Projeto do IBISC alia, acima de tudo, inclusão sociocultural e desempenho esportivo e garante permanência no Brasileiro da modalidade A

Read More...

Polícia de SP apreende mais de 600 kg de drogas por dia em SP e estima prejuízo ao crime de até R$ 3 bilhões

Operações conjuntas das Polícias Civil e Militar com órgãos federais resultaram em apreensão recorde de entorpecentes e desarticulação de

Read More...

Leave a reply:

Your email address will not be published.

Mobile Sliding Menu