Luiz Alberto Rodrigues*
A quarentena e as medidas de isolamento social em vigor no País para o combate à pandemia do novo coronavírus trouxeram também importante reflexão sobre as atuais formas de trabalho. Uma delas é: como medir e manter a produtividade e a eficiência do serviço público nos casos de home office?
Antes restrito a poucas funções e profissionais, hoje o trabalho remoto está presente em quase todas as empresas, tornando-se fundamental para manter o mínimo da atividade econômica neste período. Na administração pública, no entanto, o método esbarra na falta de protocolos, processos e infraestrutura capazes de garantir a produtividade deste tipo de trabalho.
Adequar o serviço público à realidade do home office é apenas um capítulo de uma novela que se estende há décadas e passa por todas as esferas de governo. A busca por mecanismos de controle e monitoramento das atividades dos servidores é tão urgente quanto espinhosa, e enfrenta resistência dentro do próprio funcionalismo, que em parte vê-se ameaçada caso as administrações adotem ferramentas de medição de produtividade.
Segundo dados do Atlas do Estado Brasileiro, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil tinha, em 2017, 11,5 milhões de funcionários públicos, sem contar os de empresas estatais. Deste total, mais da metade está concentrada nos municípios. A grande maioria desse contingente de servidores presta serviços à população sem nenhuma ferramenta de acompanhamento.
A Reforma Administrativa, paralisada no Congresso Nacional por conta da pandemia da covid-19, traz interessante ponto de vista sobre produtividade para o serviço público, com a sugestão de pôr fim às promoções por tempo de serviço. Se passar como está na proposta, o item transformará um ato compulsório em objeto de análise de desempenho, o primeiro passo para uma gestão baseada em meritocracia e uma contribuição importante para o aumento da produtividade.
Apesar das barreiras impostas, o movimento rumo à modernização para a eficiência do serviço público é inevitável. Ancorado em novos conceitos tecnológicos disruptivos, como a Internet das Coisas e a Internet dos Serviços, a profissionalização da gestão chegará, mais cedo ou mais tarde, também ao serviço público.
Vale pontuar que modernização não é apenas transformar papel em dados eletrônicos, adotar um controle de acesso por biometria ou possuir a melhor infraestrutura digital, como geralmente o tema é tratado aqui no Brasil. É muito mais do que isso. Essas ações são consideradas obrigações e não agregam inteligência ao processo.
A modernização do serviço público precisa estar ancorada nos princípios do Serviço 4.0, um termo coletivo para tecnologias e conceitos de empresas de serviço e função de suporte com base em novos conceitos tecnológicos disruptivos, como blockchain, big data, Internet das Coisas (IoT), inteligência artificial, analytics, machine learning, business intelligence e cloud computing. A internet das coisas (IoT) e o big data, por exemplo, já são utilizados para monitoramento e medição de processos em tempo real.
Esses princípios, antes só presentes no setor privado, como produtividade, controle, modernização,responsabilização, meritocracia e impessoalidade, agora já fazem parte do dia a dia de diversos municípios brasileiros. Além da ótica do gestor, a população ganha em eficiência, melhoria no atendimento e, consequentemente, na qualidade de vida, provando, na prática, que é possível trazer eficiência à gestão pública, mesmo em tempos de home office.
Se tivéssemos um sistema único de identificação pessoal digital, poderíamos hoje, seguramente, ter mais de 90% da gestão pública realizados de forma online. Só a modernização pode garantir que a máquina pública seja eficiente. A tecnologia, aliada à inteligência de dados, torna possível o trabalho remoto no serviço público com
controle, produtividade e eficiência. Os sistemas inteligentes de gestão permitem ao administrador jogar em tabuleiros simultâneos. O mercado já oferece ampla gama de produtos focados em trazer eficiência e produtividade ao serviço público e na melhoria da qualidade de vida da população, contribuindo para a construção do ideal de justiça social que deve balizar a gestão pública.
*Luiz Alberto Rodrigues é administrador de empresas com mais de 35 anos de atuação no setor público e CEO da Eicon Inteligência em Gestão
*Artigo publicado originalmente no Blog do jornalista Fausto Macedo, do Estadão.